Nos próximos seis meses, assistiremos a três
eventos: bons jogos de futebol, repetitivas eleições e promessas inviáveis. Os
primeiros, em função da Copa do Mundo, serão prazerosos. As segundas, em função
dos pleitos nos estados e na União, serão cansativas. As terceiras, em função
da cultura demagógica vigente, serão incumpríveis. Qualquer um de nós que
queira fazer o bem tem de enfiar a mão no bolso e gastar seu próprio dinheiro.
Já os políticos têm o privilégio de praticar um esporte delicioso: gastar o
dinheiro dos outros. Só que os “outros” somos nós, todos os que produzem e pagam
impostos.
Roberto Campos ironizava dizendo que, no
parlamento, temos um problema e uma sorte. O problema, dizia ele, é que “todos
os que chegam aqui querem fazer alguma coisa”. A sorte é que “a maioria não
conseguirá fazer o que promete”.
Sinto arrepios quando um político começa a
prometer um monte de coisas ao povo, pois a mais elementar lição da economia é
que o governo não dá nada à sociedade que antes dela não tenha tirado. Quando
tenta dar ao povo o que não tirou em forma de tributos, o governo ou emite
moeda (que cria a tragédia da inflação) ou faz dívida (que eleva os juros e
reduz o crescimento econômico).
O Brasil produziu R$ 6,53 trilhões no ano de 2017.
Esse é o produto interno bruto (PIB), que é igual à renda nacional. Mais de um
terço foi entregue ao governo em tributos, nos três níveis, algo em torno de R$
2,2 trilhões. Mesmo com essa montanha de dinheiro, o governo gastou R$ 110,6
bilhões a mais do que arrecadou, que é o déficit primário antes de contar os
juros da dívida pública.
Como o governo vem gastando mais do que arrecada há
décadas, a dívida pública já chegou a 74,3% do PIB, e vai custar mais de R$ 400
bilhões de juros em 2018.
Uma das causas do desemprego é a dívida consolidada
de todo o setor estatal. A sociedade como um todo – pessoas e empresas –
deposita dinheiro nos bancos.
E os bancos têm apenas três clientes: as pessoas,
as empresas e o governo. Se o governo avidamente vai aos bancos pedir dinheiro
emprestado, por meio de emissão de títulos públicos e outros empréstimos, falta
dinheiro para financiar as pessoas (consumidores) e as empresas. E com isso, o
PIB não cresce, logo, não há criação de empregos. Se você é um desempregado,
saiba que os déficits do governo e a dívida pública são os principais culpados.
Alguém pode perguntar: mas por que o governo tem
tanto déficit e tanta dívida? Vamos lembrar de dois pontos. Um é o aumento dos
gastos com salários e custeio dos serviços públicos e da máquina administrativa
nos 5.570 municípios, 26 estados, Distrito Federal e União. Outro, em 2017, o
déficit do INSS (previdência dos trabalhadores do setor privado) mais o déficit
da previdência somente dos servidores federais deu um total de R$ 270 bilhões,
sendo R$ 180 bilhões de déficit do INSS (para pagar 30 milhões de beneficiados)
e R$ 90 bilhões de déficit (para pagar apenas um milhão de servidores públicos
federais).
O quadro de déficit e de dívida acumulada responde
pelo baixo volume de investimentos em infraestrutura e pelo baixo crescimento
da economia, logo, pela baixa renda per capita e pelo alto desemprego. Aumento
de tributos é algo contra o qual a sociedade deve se rebelar e não aceitar.
Então, governo bom será aquele que conseguir consertar essa confusão financeira
e o estado de desequilíbrio das contas públicas, não aquele que prometer gastar
mais. Novamente: o governo só dá a João o que tirou de Pedro, Maria, Antonio e
demais brasileiros. Não há milagres. Quem diz que há, é apenas um demagogo.
As eleições estão próximas. Tão logo termine a Copa
do Mundo, entrará em cena a campanha eleitoral e a promessa de gastar o
dinheiro dos outros. Caso tentem cumprir suas promessas, terão que enfiar a mão
no bolso do povo, a menos que façam promessas boas como reduzir o tamanho do
governo, combater o desperdício, aumentar a eficiência da administração,
reduzir a corrupção, adotar a austeridade, reformar a previdência e liberar o
espírito de iniciativa dos que querem empreender.
José Pio Martins - economista e reitor da
Universidade Positivo
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