Existem dois tipos de sociedades: as preponderantemente éticas
(respeito ao outro) e as alterofágicas (destruição do outro). Na nossa formação
histórica (formação coletiva) sempre predominou a segunda espécie. Alterofagia
vem de “altero” (o outro, a outra, os outros, as outras coisas) e “fagia”
(comer, devorar, destruir, dizimar, aniquilar, extinguir).
Pela violência, pela fraude, pelo clientelismo e pela
corrupção as elites dirigentes (de esquerda, centro ou de direita) continuam
devorando nosso projeto de nação. Continuamos sendo, depois de cinco séculos de
existência, uma “sociedade condenada” (Ayn Rand).
Os colonizadores (portugueses, espanhóis, franceses,
holandeses etc.) para cá vieram para evangelizar e se reproduzirem e, ao mesmo
tempo, para se enriquecerem.
Mas para alcançar esse propósito adotaram o método de roubar,
queimar, se apropriar, escravizar, corromper, matar, torturar, estuprar,
espoliar, dizimar, pilhar, destruir, extinguir e extrativar. Em suma, queriam
fazer riqueza e irem embora, destruindo (impunemente) gente, natureza e
animais. Elites alterofágicas.
Muitos dos indígenas que aqui eles encontraram levavam a
alterofagia à sua potência máxima, praticando o canibalismo (matavam e comiam o
prisioneiro com a crença de que assim se apropriavam da sua energia, da sua
força, da sua inteligência, das suas habilidades). Tivemos no Brasil o encontro
de duas culturas atrasadas, bestiais, medievais e bárbaras.
O que falta nesse tipo de sociedade alterofágica e
“condenada”? A ética. O que é a ética? É o respeito ao ser humano, à natureza,
aos animais e ao bom uso das tecnologias. É o respeito às regras justas que
procuram preservar o humano, a natureza, os animais e a boa tecnologia. É, em
suma, fazer as coisas do jeito certo.
O resultado de uma sociedade ética é a obtenção “da arte de
viver bem humanamente”, ou seja, a arte de conviver pacificamente (tanto quanto
possível) com os demais humanos (Savater) e de criar um ambiente sustentável,
que garanta a vida presente e futura de todas as gerações.
As sociedades alterofágicas se caracterizam pela destruição
do outro, leia-se, do ser humano, da natureza, dos animais assim das oportunidades
civilizatórias geradas pelas novas tecnologias.
A corrupção, no Brasil, alcançou o nível da alterofagia. O
Brasil é muito mais que um país corrupto. É uma cleptocracia (cleptos = ladrão;
cracia = governo, poder). Corruptos todos os países são. Até mesmo a Dinamarca
e a Nova Zelândia, os dois primeiros colocados no ranking da Transparência
Internacional (de 2016).
A nota desses dois países é 90. Mas 90 não é 100. Logo,
também existe corrupção nessas nações. O Brasil, no entanto, é diferente. O que
temos aqui é uma cleptocracia governada e dominada por ladrões de uma pequena
elite (econômica, financeira, política, administrativa, midiática e
intelectual) que sempre roubaram nossos sonhos de nação. Essas elites são de
esquerda, de centro ou de direita.
Por meio da corrupção essas elites bandidas (de todas as
cores ideológicas) drenam recursos públicos para seu enriquecimento particular,
colocando nos cargos públicos pessoas completamente desqualificadas e, muitas
vezes, despreparadas.
Para garantir sua impunidade criaram instituições precárias,
frouxas, coniventes, que atuam normalmente como aparatos de proteção da
cleptocracia.
A máquina pública funciona muito mal. Os serviços públicos
são de péssima qualidade e o controle exercido sobre a corrupção é muito
flácido. Por tudo isso é que se diz que, no Brasil, a corrupção mata.
As elites que nos governam corruptamente (aquelas que nos
governam corruptamente, pouco importando se de esquerda, de centro ou de
direta), do ponto de vista coletivo, não são “eros” (vida), são “tanatus”
(morte).
Essas elites corruptas, bandidas e alterofágicas são as
grandes responsáveis pelas mortes por bala perdida, pelas decaptações, atrocidades
machistas, pelos hospitais sem remédios, pelo desvio do dinheiro da saúde e da
educação para as eleições delas, pelas casas sem esgoto, pelas crianças
analfabetas, pelas escolas que não educam, pelas estradas esburacadas, pelas
obras não acabadas, pelas licitações
fraudadas, pelos subsídios favorecidos, pelos cargos trocados, pelas emendas
“negociadas”, pelos subornos pagos, pelas decisões “compradas” dos tribunais e
por aí vai (ao infinito).
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista. Criador do movimento Quero Um
Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial
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