Pesquisar no Blog

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Violência contra a mulher ainda é tabu no Brasil



 
Em pleno século 21, tema gera polêmica em rodas de amigos, é evitado nas escolas e encontra resistência para ser inserido no currículo das faculdades na área da saúde



Há poucos dias um crime terrível abalou a família do senador e ex-presidente José Sarney. Sua sobrinha-neta, Mariana, foi morta asfixiada após ter sido violentada pelo cunhado dentro de sua própria casa.

Família tradicional do Maranhão, de classe alta, com amplo acesso à educação e informação. Infelizmente, o fato não é isolado. O autor do crime, um empresário de 37 anos de idade, revelou que foi movido por paixão incontida que nutria pela vítima. Nas diversas discussões geradas pelo crime nos sites de notícias e redes sociais, não é difícil encontrar quem atribua responsabilidade também à vítima. 

"Parcela expressiva de homens e também de mulheres consegue encontrar razões para culpabilizar a vítima por atos de violência. A escolha das roupas, os locais frequentados ou até mesmo o fato de sair desacompanhada parecem tornar a mulher culpada por um crime cometido contra ela", afirma Dr. Thomaz Gollop, Professor Associado de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. 



Brasil: um país machista e patriarcal

O estudo "Percepção sobre violência sexual e atendimento a mulheres vítimas nas instituições policiais", promovido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em agosto, confirma a afirmação.

Ao entrevistar um total de 3625 pessoas com 16 anos ou mais, a pesquisa concluiu que, ainda em 2016, vivemos no Brasil um sistema cultural machista e patriarcal. Mais que isso, revela que, ao não aderir aos valores determinados por este sistema, a violência contra a mulher é tolerada socialmente.

Exemplo disso são os 42% dos homens e 37% das mulheres ouvidos, que concordam com a afirmação de que "mulheres que se dão ao respeito não são estupradas". 

Há também 30%, tanto de homens como de mulheres, que acreditam que a mulher possa ser culpada em caso de agressão sexual em função da roupa que estiver usando. 

Os grupos que mais discordam de tal afirmativa são os de 60 anos ou mais (49% de discordância) e aqueles com ensino superior (82%).



Violência em números

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a violência contra a mulher é definida como qualquer ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em dano físico, sexual, psicológico, ou sofrimento. Ameaças, coerção ou privação arbitrária de liberdade também entram neste rol.

Os casos deste tipo de crime são crescentes no Brasil. Foram quase 750 mil atendimentos realizados no telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher, somente no ano passado. Ou seja, média de pouco mais de duas mil ligações por dia, ou 80 por hora. Este número foi 50% maior que o registrado no ano anterior. 



O inimigo dentro de casa

O Dr. Thomaz alerta para um agravante que faz com que boa parte destes crimes permaneça sem punição. Acontece que boa parte dos casos tem como agressor pessoas próximas, como amigos, vizinhos, padrastos e até mesmo pais e irmãos. Muitos deles, ainda, contam com a conivência de outros membros da família, que por medo de represálias, convivem com o fato.

A falta de preparo dos profissionais que recebem as denúncias e a dificuldade na obtenção de atendimento especializado são outros fatores que dificultam a realização de denúncias. 

"Está na hora de acordarmos para esta triste realidade. A brutalidade da violência contra a mulher não está apenas no Estado Islâmico ou na Índia, mas também no Brasil, sem distinção de classe social ou grau de instrução."




Atendimento às vítimas

Na outra ponta do problema, estão as mulheres que sofrem a violência e têm, de acordo com a legislação vigente, direito a atendimento emergencial, que inclui amparo médico, psicológico e social imediatos.

No entanto, segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres, entre os 5550 municípios brasileiros, há apenas 497 delegacias especializadas de atendimento à mulher e 160 núcleos especializados dentro de distritos policiais comuns para as denúncias. E uma vez realizadas, apenas 235 centros de referência, com serviços de atenção social, psicológica e orientação jurídica para receber estas mulheres. Ou seja, o número é insuficiente e dificulta, acima de tudo, o acesso de mulheres residentes longe dos grande centros urbanos. 

"Estas mulheres precisam de profissionais treinados e capacitados para identificar os casos de violência, pois nem sempre elas apresentarão marcas físicas ou saberão expressar com clareza o que passaram." 

Atualmente, segundo informe do Ministério da Saúde divulgado este ano, há no Brasil 399 serviços cadastrados para atenção ambulatorial às pessoas em situação de violência sexual, 187 que oferecem atenção integral às vítimas de violência sexual e, ainda, cerca de 65 serviços para a interrupção de gravidez nos casos previstos em lei.





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados