A
dificuldade de aprendizagem e de concentração da criança em idade escolar pode
estar relacionada a causas diversas, a exemplo da perda auditiva e do
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que acomete cerca
de 3 % a 5 % das crianças, mundialmente. Para evitar que o distúrbio seja
confundido com a perda auditiva é indispensável que os pais ou responsáveis, ao
perceberem um déficit de rendimento da criança na escola, procurem a ajuda do
pediatra. O médico poderá avaliar as condições da criança e, caso suspeite da
perda auditiva, encaminhá-la para um otorrinolaringologista. Este especialista,
por sua vez, poderá solicitar um exame de audiometria para identificar se
ela tem algum problema auditivo.
A
audiometria é indispensável para fazer um diagnóstico diferencial entre a perda
auditiva e a TDAH e deve ser realizada sempre que houver a percepção de que a
criança em idade escolar não acompanha os colegas de classe no aprendizado ou
apresenta dificuldade relacionada à fala ou alfabetização. Vale lembrar que o
processo de alfabetização nada mais é do que o entendimento dos sons da fala e
a formalização desses sons. Por isso, é importante saber se a criança tem a
audição normal preservada, antes de admitir outro diagnóstico.
As
crianças precisam escutar para que possam desenvolver a linguagem. Bebês que
não escutam podem ter dificuldades para esse aprendizado e, se a perda auditiva
acontecer em idade escolar, uma das consequências possíveis é que a criança não
consiga acompanhar e absorver os conteúdos apresentados pelos professores. Daí
a confusão, muitas vezes, entre a perda auditiva e a TDAH.
Para
uma criança que escuta mal e não identifica os sons com clareza, o conteúdo
ministrado em sala de aula pode ser desinteressante e confuso. Quando a criança
não tem a discriminação acústica, a memória auditiva ou a consciência
fonológica, ela pode não aprender, aprender errado ou dispersar-se.
A
criança com perda auditiva também precisa se esforçar mais do que a criança
ouvinte para entender, manter a concentração ou memorizar o que foi dito. Esse
gasto de energia adicional pode fazer com que ela se canse mais rapidamente, um
fator a mais que eleva o grau de dificuldade para aprender.
Desde
a primeira infância, a criança dá sinais bem claros quando tem perda auditiva:
uma criança maior que três meses ignora sons ou não vira a cabeça na direção de
um som; um bebê com mais de um ano de idade não parece entender nem mesmo
algumas palavras; crianças de até três anos podem ter atraso no desenvolvimento
da fala. Em idade escolar, a dificuldade de aprendizado e de concentração nas
aulas, a necessidade de assistir TV em volumes muito elevados ou até mesmo a
dificuldade para entender conversas com os familiares são os sintomas mais
recorrentes.
A descoberta precoce da deficiência auditiva
é indispensável para que, no caso de intervenção, o início do tratamento seja
imediato. Há uma questão que vai além do aprendizado: uma criança que não ouve
bem tende a se isolar ou pode ser motivo de piada entre os colegas de classe.
Isso pode interferir no comportamento infantil e na relação da criança com a
escola. Identificar o problema e buscar ajuda é essencial para que a
criança com perda auditiva vivencie o processo de alfabetização de forma muito
similar à criança sem problemas auditivos. Isso, claro, além de ser
pré-requisito para um diagnóstico preciso, caso o problema da desatenção não
esteja relacionado à audição.
Andréa
Varalta Abrahão - fonoaudióloga, é
diretora da rede de reabilitação auditiva Direito de Ouvir
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