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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Perda auditiva ou déficit de atenção?



A dificuldade de aprendizagem e de concentração da criança em idade escolar pode estar relacionada a causas diversas, a exemplo da perda auditiva e do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que acomete cerca de 3 % a 5 % das crianças, mundialmente. Para evitar que o distúrbio seja confundido com a perda auditiva é indispensável que os pais ou responsáveis, ao perceberem um déficit de rendimento da criança na escola, procurem a ajuda do pediatra. O médico poderá avaliar as condições da criança e, caso suspeite da perda auditiva, encaminhá-la para um otorrinolaringologista. Este especialista, por sua vez, poderá solicitar um exame de audiometria para identificar se ela tem algum problema auditivo.

A audiometria é indispensável para fazer um diagnóstico diferencial entre a perda auditiva e a TDAH e deve ser realizada sempre que houver a percepção de que a criança em idade escolar não acompanha os colegas de classe no aprendizado ou apresenta dificuldade relacionada à fala ou alfabetização. Vale lembrar que o processo de alfabetização nada mais é do que o entendimento dos sons da fala e a formalização desses sons. Por isso, é importante saber se a criança tem a audição normal preservada, antes de admitir outro diagnóstico. 

As crianças precisam escutar para que possam desenvolver a linguagem. Bebês que não escutam podem ter dificuldades para esse aprendizado e, se a perda auditiva acontecer em idade escolar, uma das consequências possíveis é que a criança não consiga acompanhar e absorver os conteúdos apresentados pelos professores. Daí a confusão, muitas vezes, entre a perda auditiva e a TDAH. 

Para uma criança que escuta mal e não identifica os sons com clareza, o conteúdo ministrado em sala de aula pode ser desinteressante e confuso. Quando a criança não tem a discriminação acústica, a memória auditiva ou a consciência fonológica, ela pode não aprender, aprender errado ou dispersar-se.
A criança com perda auditiva também precisa se esforçar mais do que a criança ouvinte para entender, manter a concentração ou memorizar o que foi dito. Esse gasto de energia adicional pode fazer com que ela se canse mais rapidamente, um fator a mais que eleva o grau de dificuldade para aprender.

Desde a primeira infância, a criança dá sinais bem claros quando tem perda auditiva: uma criança maior que três meses ignora sons ou não vira a cabeça na direção de um som; um bebê com mais de um ano de idade não parece entender nem mesmo algumas palavras; crianças de até três anos podem ter atraso no desenvolvimento da fala. Em idade escolar, a dificuldade de aprendizado e de concentração nas aulas, a necessidade de assistir TV em volumes muito elevados ou até mesmo a dificuldade para entender conversas com os familiares são os sintomas mais recorrentes.

A descoberta precoce da deficiência auditiva é indispensável para que, no caso de intervenção, o início do tratamento seja imediato. Há uma questão que vai além do aprendizado: uma criança que não ouve bem tende a se isolar ou pode ser motivo de piada entre os colegas de classe. Isso pode interferir no comportamento infantil e na relação da criança com a escola.  Identificar o problema e buscar ajuda é essencial para que a criança com perda auditiva vivencie o processo de alfabetização de forma muito similar à criança sem problemas auditivos. Isso, claro, além de ser pré-requisito para um diagnóstico preciso, caso o problema da desatenção não esteja relacionado à audição.



Andréa Varalta Abrahão -  fonoaudióloga, é diretora da rede de reabilitação auditiva Direito de Ouvir



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