Pesquisar no Blog

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A defesa do interesse público, um princípio a ser resgatado


Até que ponto cabe considerar legítimo o jogo de influência sobre o poder público que interfere em decisões estratégicas do governo, altera a legislação e interfere em decisões judiciais? Se as práticas que proporcionam favores excessivos aos mais diversos grupos setoriais trazem como consequência um duro ônus ao resto da sociedade, é necessário evidenciar que tais práticas precisam ser reprimidas de maneira mais contundente.

No Paraná, dois exemplos recentes representam tentativas explícitas de imposição, a qualquer custo, da vontade de minorias influentes. O projeto de lei para a redução da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana e a tentativa de execução da Faixa de Infraestrutura em Pontal do Paraná são casos que mostram a fragilidade do poder público frente a pressões de ordem econômica e política, vindas de grupos setoriais.

A reação pública frente a essas tentativas permitiu que milhões de paranaenses oferecessem um contraponto em relação aos representantes do poder público envolvidos nesses processos. Uma reação potencializada pelo fato de não haver razão plausível para uma aceitação dessas medidas que pretendem impor. 

Vivemos um momento em que o posicionamento de cada cidadão tem enorme importância. Como nunca, devemos estar presentes na defesa de fundamentos consistentes que atendam ao interesse público em vez de buscas seletivas e indevidas, que alimentam os sistemas de corrupção.

Apesar de enormes dificuldades e do reconhecimento de que soluções de maior amplitude não ocorrem de um dia para o outro, está mais do que na hora de todos os brasileiros fazerem um maior esforço em defesa do exercício da cidadania. Precisamos despertar para o valor de causas comuns que atendam verdadeiramente a toda a sociedade, como a proteção do nosso patrimônio natural.

Todos temos o direito de buscar nossas próprias condições de crescimento e de sobrevivência, cumprindo a Lei e lutando de maneira honesta por um futuro melhor. Mas, sem um olhar dedicado ao amparo do que interessa e diz respeito a todos nós, as buscas individualizadas encontrarão enormes obstáculos para avançar como pretendemos.

As mudanças necessárias e prementes que nos tornem cidadãos mais solidários não representam nenhuma utopia. Apenas demandam consciência e senso de responsabilidade sobre o real significado do interesse público.






Clóvis Borges - diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.


Quem serão os protagonistas da jornada digital?


                                                                              
A transformação digital está sacudindo o ambiente de negócios e a própria sociedade. Segundo o professor da Kellogg, o indiano Mohanbir Sawhney, as organizações precisarão se adaptar para sobreviver ou continuar inovando. De acordo com ele, “mais de dois terços da inovação disruptiva vem de empresas já estabelecidas. Essas empresas olharam para seus próprios negócios e conseguiram transformá-los, a fim de tirar vantagens competitivas."

Um pensamento povoa cabeças de CEOs em todo o mundo: “se você não gosta de mudanças, vai odiar a extinção, diz Charles Feld, fundador do The Feld Group Institute, uma empresa de desenvolvimento de liderança que trabalha com corporações globais para desenvolver líderes de negócios e de TI da próxima geração. Esta afirmativa dá o tom da importância e da prioridade que o assunto tem na cabeça dos líderes empresariais de hoje.

Mas quais os protagonistas nesta jornada? Quem nas organizações vai liderar esse processo?

Pesquisa recente do Gartner demonstra que 63% dos líderes nas empresas pensam em fazer mudanças em seus modelos de negócio. Enquanto apenas 11% estão realmente realizando algum tipo de transformação, 66% somente pensam em fazer. Mas isso não é necessariamente ruim, já que usar a tecnologia para otimizar o negócio também faz parte da jornada digital das companhias.

É importante, contudo, diferenciar os conceitos de transformação e otimização. São estratégias diferentes com resultados igualmente distintos. Enquanto uma atua no modelo existente, melhorando-o, reduzindo custos e aumentando o fluxo de receitas existentes, a outra define um novo modelo de negócios, envolvendo produtos, serviços e fluxos de receitas, resultando em uma nova forma de atuação, às vezes disruptiva, outras vezes, nem tanto.

Ao lado do CEO, o CIO e as áreas de TI são stakeholders fundamentais. Eles são aqueles que determinam o início da jornada, e a viabilizam. Mas não são eles que fazem acontecer sozinhos. O GPS desta jornada é baseado em uma triangulação de três pontos: a tecnologia, o negócio e a experiência do cliente. Assim, seja qual for a estratégia digital adotada por sua organização, prepare-se para envolver todas as áreas: de TI ao desenvolvimento humano e organizacional, e do marketing e vendas. Sejam empresas industriais ou de serviços, baseadas em aplicativos ou não, algumas dessas áreas já assumiram seus lugares. Outras não.

As empresas vão mudar para que se tornem digitais. Dentre essas mudanças, conforme divulgado por especialistas no Gartner Symposium, conferência realizada em outubro último em SP, a transformação na forma de trabalho é uma das mais significativas. Estruturas atuais se quebrarão e novas tendências vão se tornando realidade: equipes multidisciplinares trabalhando sob demanda de qualquer lugar, novas especialidades, necessidade constante de novas qualificações, robotização e inteligência artificial levarão ao que os analistas chamaram de “We Working”.

Este movimento irá mudar o modelo de gestão e trabalho das empresas nos próximos anos. Empresas que se transformam em organizações ágeis vão sair na frente e serão mais competitivas nos próximos anos. Às vezes mais envolvidos com o dia a dia na gestão das pessoas, o pessoal de RH precisa tomar consciência do papel de protagonista nesta jornada e ocupar este lugar imediatamente.

Assim como outras, equivocadamente consideradas como “de apoio”, áreas de desenvolvimento humano e organizacional estão demorando a se engajar nesse processo por acreditarem que não estão na cadeia de valor. Talvez no passado, mas certamente não no futuro!








Enio Klein - professor nas disciplinas de Vendas e Marketing da Business School São Paulo, especialista em TI e Coach pessoal e profissional pela International Association of Coaching - IAC/SLAC




MORO: “CANSEI DE TOMAR BOLA NAS COSTAS”


        Aconteceu durante um seminário em Madrid, promovido pela Fundação Internacional pela Liberdade, presidida pelo Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Falando na condição de convidado, o futuro ministro Sérgio Moro se referiu ao alcance limitado de suas decisões como juiz. Esclareceu, ainda, que seu trabalho na Lava Jato estava chegando ao fim, mas “aquilo poderia se perder se não impulsionasse reformas maiores, que eu não poderia fazer como juiz”.
        Não é difícil entender a situação descrita por Moro, nem o uso de uma analogia com o futebol. Em outro momento da sua manifestação mencionou a famosa “bola nas costas”, que deixa o zagueiro perdido e concede toda vantagem ao atacante. Ele conviveu longamente com essas dificuldades. Agouravam sobre seu trabalho as tragédias da italiana operação Mãos Limpas, que levaram à sepultura o juiz do caso e respectivas realizações no processo. Transitavam diante da mesa de Moro figuras poderosas da política e dos negócios, cujo acesso ao STF se fazia com um estalar de dedos.
        Quantas noites mal dormidas aguardando deliberações do Supremo, onde a Justiça ora faz o bem, ora faz o mal, sabendo muito bem a quem! Moro trabalhava sentindo o hálito azedo de vaidade, ciúme e ódio que sua crescente popularidade fazia exalar das penthouses do poder. A nação, dia após dia, a tudo assistia e se compadecia. Moro se tornou símbolo da luta contra a corrupção. Por vezes, em sua 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, a fila das confissões lembrava período litúrgico de preparação para a Páscoa. Era a “sangria” que precisava ser estancada, no dizer metafórico de Romero Jucá. E aquilo, para o diligente juiz, significava novos e reais enfrentamentos que viriam e vieram.
        Fica bem entendida, então, a decisão que tomou. Os que ansiavam por um governo para debilitar a Lava Jato terão que conviver com a operação personificada em um dos dois homens mais fortes do governo... Melhor ainda se, ao cabo desse período, ele se for sentar entre aqueles ministros a quem tanto mal estar causou seu combate à corrupção. 
        São marcas dos novos tempos pelos quais ansiávamos. Alegrou-me por isso ler sobre essa disposição expressa por Moro em Madrid no mesmo dia em que tomei conhecimento dos compromissos recentemente formalizados no 1º Congresso do Ministério Público Pró-Sociedade. Beleza! Beleza ver tantos profissionais dessa nobre carreira de Estado comprometendo-se com o aperfeiçoamento de sua missão e com a consolidação de uma agenda de combate à criminalidade e à impunidade. Há muito tempo a sociedade tem sido vista, desde os círculos do poder, como mera provedora dos meios, pagadora de todas as contas. Estamos tendo nosso país de volta, em boas mãos, posso crer.
        
 
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


Posts mais acessados