Professora e coordenadora do curso de Psicologia da ESAMC Santos, Cristina Collaco analisa os impactos do ambiente corporativo na saúde dos trabalhadores
O número de afastamentos do ambiente de trabalho devido a
doenças emocionais tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Segundo
dados do Ministério da Previdência Social, o total de afastamentos por
transtornos mentais e emocionais mais que dobrou na última década. Em 2014,
cerca de 203 mil trabalhadores brasileiros se afastaram do trabalho por motivos
psicológicos, enquanto em 2024 esse número ultrapassou os 440 mil casos. Entre
os diagnósticos mais comuns estão transtorno de ansiedade (141.414 casos),
episódios depressivos (133.604 casos) e transtorno depressivo recorrente
(52.627 casos), seguidos por transtorno bipolar, reações ao estresse grave e
esquizofrenia. Esse crescimento acentuado reflete um ambiente de trabalho cada
vez mais desafiador, impactado por fatores como a pandemia, a sobrecarga no
trabalho e a instabilidade do mercado.
Para a professora e coordenadora do curso de Psicologia da ESAMC
Santos, Cristina Collaco, esse crescimento é influenciado por fatores como a
pandemia, a sobrecarga no trabalho e a instabilidade do mercado. “De acordo com
pesquisas, nos últimos 10 anos houve um aumento de 68% nesses eventos e,
atualmente, o número aproximado é de 472 mil licenças médicas relacionadas a
transtornos mentais. Alguns especialistas analisam que esse fenômeno pode ser
reflexo da pandemia, do mercado de trabalho instável ou da atuação de empresas
que fazem mais com menos recursos. Além disso, questões financeiras e problemas
familiares impactam diretamente a saúde mental do trabalhador”, afirma a
especialista.
Não existe um perfil exato de trabalhador mais propenso ao
adoecimento emocional, mas alguns grupos tendem a procurar mais ajuda do que
outros. “As mulheres, por exemplo, aparecem mais nas estatísticas porque
costumam buscar suporte profissional com maior frequência”, explica Cristina
Collaço. Setores com metas agressivas, como os financeiros e comerciais, são
mais suscetíveis a gerar carga emocional, especialmente quando os colaboradores
não conseguem impor limites. “A extrema competitividade pode acarretar maiores
danos, principalmente quando o profissional sente que não atingir metas é
interpretado como falta de comprometimento. Muitas vezes, a cobrança interna é
um fator extremamente relevante”, destaca a professora.
O afastamento do trabalho por questões psicológicas impacta a
autoestima, gera insegurança sobre a própria utilidade e dificulta a
recuperação. O receio da exclusão e de ser visto como menos comprometido leva
muitos a relutarem em se afastar. Além disso, períodos prolongados fora do
ambiente corporativo podem resultar na perda de habilidades, tornando o retorno
ainda mais desafiador.
Diante do aumento dos afastamentos, as empresas desempenham um
papel indispensável na prevenção e no apoio à saúde mental dos funcionários.
“Com a entrada da NR 01, que reforça a necessidade de avaliação psicossocial,
espera-se que as organizações se tornem mais atentas a esse cenário”, destaca a
especialista. Medidas como a criação de um ambiente respeitoso, a prevenção de
conflitos e assédios, o investimento em programas de bem-estar, o treinamento
de líderes e o estabelecimento de metas realistas são fundamentais. “Os
resultados são importantes, mas buscá-los a qualquer custo pode ter um efeito
destrutivo a longo prazo. O investimento em bem-estar não deve ser visto como
um custo, mas sim como um diferencial estratégico”, conclui Cristina.
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