Presidente da SOBOPE explica as formas distintas de manifestação do câncer segundo a faixa etária
Com cerca de 8 mil diagnósticos anuais e uma taxa bruta de
incidência de 134,8 novos casos por milhão, o câncer é a primeira causa de
morte por doenças na faixa etária de 1 a 19 anos de idade. Entre crianças e
adolescentes, as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e o
neuroblastoma são os tipos de cânceres mais comuns.
Os tumores originados de células embrionárias, em geral,
reconhecidos com a terminologia blastoma, são raros em adultos e ocorrem, em
90% dos casos, em menores de 5 anos de idade. Em adultos, os principais tipos
de câncer são os carcinomas e adenocarcinomas, tumores originados de células
epiteliais e glandulares, que por sua vez são bem menos comuns em crianças.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia
Pediátrica (SOBOPE), Dr. Neviçolino Pereira de Carvalho Filho, a faixa etária
tem influência nos tipos e comportamento biológico do câncer. Ele ressalta a
alta taxa de proliferação celular e a dificuldade em prevenir e rastrear o
câncer infantojuvenil. “Os tumores em crianças e adolescentes crescem
rapidamente. E as células cancerígenas, em geral, afetam células ainda imaturas
espalhadas em variadas localizações no corpo”, explica.
“Quando uma criança chega para avaliação clínica, o pediatra tem
que lembrar que embora o câncer seja uma condição rara nesta faixa etária, pode
começar com sinais inespecíficos, semelhantes aos de outras enfermidades da
infância e adolescência. Contudo, a persistência e a piora da intensidade dos
sintomas devem servir de alerta para o médico pensar no diagnóstico de câncer.
É comum os pais relatarem repetidas idas aos serviços de saúde até chegarem ao
centro de tratamento oncológico”, relata o especialista.
Fatores de risco
Diferente do câncer em adultos, características ambientais,
alimentação inadequada, sedentarismo e tabagismo têm pouca influência no
desenvolvimento do câncer infantojuvenil. O oncologista pediatra explica:
“Esses fatores de risco relacionados a hábitos comportamentais e exposições a
variados fatores carcinogênicos ao longo da vida podem predispor adultos ao
desenvolvimento de tumores, mas não é o que acontece na maioria dos casos entre
crianças e jovens”.
De acordo com o presidente da SOBOPE, cerca de 15% dos cânceres em
geral estão associados a alguma predisposição genética. “Quando a família tem o
diagnóstico de uma síndrome de predisposição genética ao câncer, o pediatra
pode fazer o acompanhamento desde os primeiros meses de vida da criança. A
questão crucial é o desconhecimento dessas síndromes por profissionais de
saúde”, explica o especialista.
Diagnóstico precoce
Como a maioria dos tumores pediátricos têm alta taxa de
multiplicação celular, respondem mais rapidamente ao tratamento quimioterápico.
Por esse e tantos outros pontos determinantes, é preciso estar atento ao
diagnóstico precoce. “Quanto mais oportuna e assertivamente fizermos o
diagnóstico, maior será a chance de cura”, reforça Neviçolino Pereira de
Carvalho Filho.
“Temos que tratar essas crianças da melhor forma possível. Para isso,
o primeiro passo é sim fazer um diagnóstico assertivo, identificando qual tipo
de câncer, se está localizado ou disseminado, com exames laboratoriais, de
imagem e de biologia molecular. A partir dessa análise inicial, é preciso
definir a melhor estratégia de tratamento. Esses exames, contudo, nem sempre
estão acessíveis a todos”, diz.
Prova da importância deste caminho até a terapia ideal, dados da
literatura médica indicam que até 80% dos pacientes diagnosticados com câncer
infantojuvenil podem ser curados, se tiverem o diagnóstico precoce e o
tratamento adequado. “O tratamento consiste em possibilitar a melhor chance de
curar com mínimos efeitos tardios na vida adulta”, explica o especialista.
SOBOPE
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