Descoberta pode causar um impacto considerável na produtividade da cultura de tomate imagem: Bruna/Pixabay |
Pesquisa da USP revela que as estrigolactonas – substâncias até então associadas somente ao desenvolvimento do vegetal – são capazes de influenciar diretamente em seu florescimento e na produção de frutos
Em artigo publicado na revista PNAS,
pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade
de São Paulo (Esalq-USP) descrevem pela primeira vez como a estrigolactona, um
fitormônio descoberto nas últimas décadas, controla o florescimento e a
produção de frutos do tomateiro (Solanum lycopersicum). A descoberta
representa uma nova oportunidade para gerenciar o tempo de frutificação da
planta e pode causar um impacto considerável na produtividade da cultura.
Derivadas dos carotenoides, as
estrigolactonas são um grupo relativamente novo de fitormônios – foram
identificadas apenas a partir de 2008. Embora sua importância no
desenvolvimento do tomateiro, nas respostas ao estresse e na interação com
microrganismos na rizosfera (região do solo onde as raízes crescem) já tenha
sido descrita na literatura científica, seu papel na fase reprodutiva ainda era
desconhecido.
Agora, neste novo estudo, financiado pela FAPESP, os cientistas da Esalq-USP foram capazes de constatar
e explicar mais detalhadamente essa função por meio de técnicas como
sequenciamento e processamento de dados de mRNA, quantificação de transcritos
genéticos por qRT-PCR, espectrometria de massa e análises estatísticas e
funcionais.
Para isso, analisaram e
compararam dois grupos distintos de plantas: um deles composto por espécies que
haviam sido geneticamente modificadas para apresentar comprometimento na
produção de estrigolactona; e outro que incluía vegetais com uma versão
sintética do fitormônio. O que se observou, respectivamente, foi: maior tempo
de florescimento; e florescimento facilitado, inclusive, com maior número de
frutos.
Os pesquisadores envolvidos no
projeto também identificaram detalhes de como o mecanismo funciona:
“Demonstramos que as estrigolactonas controlam de maneira bem pronunciável o
florescimento de tomateiro, regulando a via do microRNA319 e os níveis de
giberelinas [substâncias responsáveis pela germinação de sementes nas
plantas]”, explica Fábio Tebaldi Silveira Nogueira, pesquisador do Laboratório de Genética Molecular do Desenvolvimento
Vegetal do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq-USP e coordenador do
trabalho.
“Quando a quantidade de
estrigolactona é aumentada tanto na folha quanto no meristema [tecidos], a
planta tende a reduzir os níveis de giberelina e aumentar a quantidade desse
microRNA.”
Interesse
econômico
Os resultados obtidos pelos
pesquisadores poderão ter impacto direto no manejo e na produtividade total do
tomateiro: “Mostramos claramente que, na presença da estrigolactona, a planta
floresce com mais facilidade e o número de flores e a quantidade de frutos
aumentam consideravelmente”, afirma Nogueira. “Isso significa que, a partir de
agora, podemos contar com um novo fitormônio para controlar o tempo de florescimento.”
De acordo com o pesquisador,
entre os próximos passos estão investigar se outras vias de microRNAs e
diferentes hormônios também interagem e influenciam no desenvolvimento e no
aumento da quantidade e do tamanho de frutos e ainda testar os efeitos da
estrigolactona em outras plantas de importância agronômica, como soja e milho.
O estudo foi conduzido em
parceria com a equipe do laboratório Disafa PlantStressLab, da Universidade de
Turim (Itália), sob a coordenação da pesquisadora Francesca Cardinale. Contou
ainda com a colaboração de pesquisadores do StrigoLab (Itália), do Laboratório
de Reguladores de Crescimento da Universidade Palacký e do Instituto de
Botânica Experimental da Academia de Ciências Tcheca (República Tcheca). O
grupo recebeu financiamento de programas de pesquisa e inovação da União
Europeia.
O artigo Strigolactones
promote flowering by inducing the miR319-LA-SFT module in tomato pode
ser lido em: www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2316371121.
imagem: acervo dos pesquisadores |
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/novas-descobertas-sobre-hormonio-presente-no-tomateiro-podem-aumentar-a-produtividade-da-planta/52174
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