Diagnóstico precoce reduz riscos de
complicações; cardiologista do Vera Cruz Hospital, em Campinas, diz que é
possível ter vida normal com tratamento adequado e mudanças de hábitos
Embora seja mais comum na idade adulta, a hipertensão atinge de 3%
a 15% população pediátrica no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. O
problema, inclusive, apresenta grandes riscos, pois tem sido diagnosticado de
forma tardia por falta da inclusão da medida da pressão arterial como rotina no
exame físico de crianças. O cardiologista Flavio Brito, do Vera Cruz Hospital,
em Campinas (SP), alerta que a patologia é silenciosa. “A hipertensão arterial
em crianças e adolescentes geralmente não apresenta sintomas claros, o que
torna o diagnóstico um desafio. No entanto, existem alguns sinais que podem
indicar a possibilidade de hipertensão”, afirma.
De acordo com o especialista, os principais sinais são:
- Dores de cabeça: embora possam ser causadas por várias condições, também
podem ser um sinal de pressão arterial elevada;
- Fadiga ou confusão: podem ser indícios, especialmente se ocorrerem juntamente
com outros sintomas;
- Problemas de visão: a hipertensão pode afetar os vasos sanguíneos nos olhos,
levando a problemas de visão;
- Dificuldade em respirar: pode ser um sinal, especialmente se a criança também tiver
problemas cardíacos;
- Arritmias cardíacas: batimentos irregulares também podem ser um indicativo.
“É importante notar que estes sintomas podem ser causados por
várias outras condições. Portanto, se a criança apresentar algum deles, é
importante procurar atendimento médico para um diagnóstico adequado”, orienta.
Fatores de risco
- Segundo o cardiologista, a hipertensão arterial em crianças pode
ser causada por uma variedade de fatores. No entanto, há algumas mais
frequentes:
- Causas desconhecidas (hipertensão primária): a
mais comum em adultos e relativamente rara em crianças;
- Causas identificáveis (hipertensão
secundária): causada por uma condição médica subjacente,
como doenças renais ou cardíacas;
- Fatores de risco genéticos e ambientais:
condições intrauterinas e neonatais podem afetar a pressão arterial em
adultos, e a hipertensão muitas vezes começa na infância;
- Obesidade:
fator de risco significativo. A prevalência de hipertensão em crianças
está crescendo, provavelmente devido ao aumento da incidência de sobrepeso
e obesidade;
- Dieta rica em sal e/ou calorias;
- Falta de atividade física;
- História neonatal significativa:
crianças com história neonatal significativa, como doença renais,
cardíacas, ou nascimento prematuro, devem ser avaliadas para hipertensão
mais cedo e com mais frequência.
Diagnóstico
O
diagnóstico é feito por meio de uma série de medidas da pressão arterial.
“Inicialmente, aferimos com um aparelho chamado esfigmomanômetro. A pressão
arterial em crianças é classificada de acordo com a idade, sexo e altura. A
medição é feita em três ou mais ocasiões diferentes e, verificando-se
alterações, são realizados exames adicionais para procurar causas de
hipertensão secundária, por meio de exames como a angiotomografia de aorta (que
visualiza tridimensionalmente se há resíduos nas paredes das artérias do
coração) ou ultrassonografia”, resume o especialista.
Tratamento
O
tratamento geralmente envolve uma combinação de mudanças no estilo de vida e,
em alguns casos, medicamentos.
- Mudanças no Estilo de Vida:
uma dieta saudável e equilibrada, juntamente a exercícios físicos
regulares, pode ajudar a controlar a pressão arterial;
- Medicamentos:
crianças com formas mais leves de hipertensão arterial que não são
controladas após cerca de seis meses de mudanças no estilo de vida podem
precisar receber tratamento medicamentoso com anti-hipertensivos;
- Manejo das Causas Curáveis: se
a hipertensão for causada por uma condição médica subjacente, como doença
renal ou cardíaca, o tratamento dessa condição pode ajudar a controlar a
hipertensão.
“É
importante lembrar que o tratamento da hipertensão arterial em crianças deve
ser supervisionado por um profissional de saúde. Se você suspeita que uma
criança pode estar em risco, é importante procurar atendimento médico para um
diagnóstico adequado e tratamento”, destaca o médico.
Complicações
A hipertensão em crianças ou adultos requer atenção especial e acompanhamento médico, uma vez que pode levar a complicações graves. “São diversas as sequelas por falta de tratamento, tais como prejuízos ao cérebro – podendo resultar em deterioração da função cerebral, convulsões e até mesmo coma; insuficiência cardíaca; complicações para os olhos decorrentes da papiledema (inchaço do nervo óptico) e sangramento na retina; e disfunção ou insuficiência renal”, elenca o cardiologista.
Todas
são relativamente incomuns, mas podem ocorrer em casos de emergências
hipertensivas, onde há disfunção ou lesão de órgão terminal. Portanto, é
crucial que a hipertensão arterial em crianças seja tratada adequadamente para
evitar essas complicações potencialmente graves.
Vida normal
De
acordo com o médico, a criança ou adolescente com hipertensão que realiza o
tratamento adequado pode levar uma vida normal. “Com hábitos alimentares
saudáveis, práticas de exercícios regulares e sob a supervisão de profissional
de saúde, o tratamento sempre deve ser adaptado às necessidades individuais da
criança. Com o controle adequado da pressão arterial, os pacientes podem evitar
complicações futuras e levar uma vida saudável e ativa”, conclui.
Recomendações
A
medição da pressão arterial em crianças deve começar a partir dos três anos de
idade, de forma anual, para detectar precocemente qualquer elevação. É
importante que os profissionais de saúde estejam atentos a essa condição,
especialmente considerando as possíveis doenças de base que podem estar
associadas à hipertensão infantil.
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