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quinta-feira, 23 de maio de 2024

Mudanças Climáticas devem agravar mais da metade das doenças infecciosas no mundo

Embaixador da Inspirali alerta para os problemas de saúde causados pelo aquecimento global

 

Cada vez mais, o mundo vem enfrentando acontecimentos catastróficos de forma desordenada e sem precedentes, e muito próximo de nós atingindo várias regiões do Brasil, vide as atuais enchentes no Rio Grande do Sul. Mesmo com o Acordo de Paris, assinado por 196 países, em 2015, com o objetivo de estabelecer uma série de ações a serem seguidas para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, ainda há muito o que ser feito. 

Segundo o Dr. Evaldo Stanislau, embaixador nas áreas de imunologia, infectologia, OneHealth e Medicina de precisão da Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, o aumento da temperatura coloca a vida em risco e traz consequências muito sérias. “As mudanças climáticas trazem alterações na estrutura de todo o ecossistema terrestre, nas águas dos oceanos, na diversidade das espécies, e, infelizmente, impacta negativamente também nas doenças. Está se formando um ambiente nocivo para a saúde de todos. Um exemplo é o aumento da poluição, que só vai fazer aumentar casos de problemas cardiovasculares, alergias e câncer”, declara. 

Dr. Evaldo explica que com o calor aumentando desde 2019, os países já vêm sentido este impacto com 5 milhões de mortes associadas ao extremo calor e extremo frio. Segundo o embaixador da Inspirali, os jovens são os que mais devem sofrer com estas alterações. “Quem nasceu nos anos 2000 vai ter muito mais exposição a alterações climáticas. Meus filhos e netos vão sofrer muito mais, com sete vezes mais exposição a estes eventos”, relata. 

O médico também alerta para o aumento de doenças infecciosas e transmissíveis. “A temperatura quente colabora para a migração de agentes, que estão cada vez mais resistentes. Doenças que já foram consideradas extintas estão voltando a aparecer, como malária, cólera, sarampo, entre outras. Enfrentaremos a chegada de novos agentes, novas pandemias. Todo o movimento causado pela crise climática potencializa a transmissão de doenças. Gases de efeito estufa aquecem oceanos, derrete gelo, aumenta nível do mar, gera eventos climáticos extremos como furacões, seca, inundações, calor. A infusão de água salgada onde só tinha doce, a migração de pessoas e animais, a cadeia de produção de alimentos. Tudo isso favorece o aumento e criação de novos agentes”. 

“Quando aumenta a temperatura, aumenta também a capacidade de replicação e transmissão destas doenças do vetor. Nestas temperaturas mais altas, eles conseguem se replicar melhor, aumentando o ciclo de vida, a voracidade e o comportamento. Temos como exemplo as mutações sofridas pela dengue. Quanto mais calor, mais vetores e mais doenças”, alerta. 

Porém, Dr. Evaldo acredita que há esperança se juntarmos esforços e muito o que conquistar com o avanço da tecnologia. “Já estamos acostumados a vencer desafios na saúde. Com saneamento, vacina e antibiótico, tivemos um aumento significativo na expectativa de vida, que antes era de 40 anos, e agora são 80 anos. As pessoas morrem menos de doenças infecciosas, tirando Covid que desiquilibrou. É preciso criar uma resiliência climática, pois já é possível prever o que esta por vir. E nós, da saúde, somos agentes de mudança. Temos o poder de convencimento usando nossa credibilidade para falar sobre mudança climática e saúde. Precisamos sair da posição de inércia e espectadores porque somos protagonistas”, complementa. 

Dados mostram que o setor de saúde é responsável por 5% das emissões globais. Algumas medidas podem contribuir para mudar este cenário, como descarte correto de materiais, manuseio do lixo hospitalar, otimização de processos e compromisso com fornecedores conscientes. “Educar profissionais pode levar a práticas clínicas mais sustentáveis e só teremos ganhos recorrentes disso. Dentro da Inspirali, já iniciamos um movimento de introdução do conceito de One Health na matriz curricular e temos flexibilidade para que os alunos das nossas 14 escolas de Medicina vivenciem práticas reais e contribuam para a saúde local e global”, finaliza Dr Evaldo.

 

O tempo seco e as alergias

Com uma nova onda de calor chegando aliada ao tempo seco, comum nesta época do ano, as alergias respiratórias ganham força. Asma e rinite estão entre as mais prevalentes. A redução da umidade do ar, que geralmente fica abaixo dos 30% nessa época do ano, aliada a condições de menor dispersão atmosférica de gases e de materiais particulados, irritam as vias aéreas, predispondo a quadros infecciosos. No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as regiões, sendo mais marcado naquelas com estações climáticas mais bem definidas, como no Sul, Sudeste e Centro Oeste.

 

A Dra. Maria Cândida Rizzo, membro do Departamento Científico de Rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), explica abaixo quais as doenças mais recorrentes nessa época do ano, os tratamentos disponíveis e como prevenir as alergias de inverno.


 

Quais doenças são mais recorrentes nesses períodos?

 

A gripe é o exemplo típico da maior transmissibilidade nos meses de inverno, e por isso as campanhas de vacinação se iniciam nos meses de outono. Além do vírus influenza, todos os outros vírus de transmissão respiratórias incluem-se neste contexto, como os rinovírus, adenovírus, coronavírus, bocavírus, metapneumovirus e outros.


 

Qual a faixa etária mais suscetível a essas doenças?

 

São os as crianças e os idosos. Na criança há uma imaturidade imunológica proporcional à faixa etária e no idoso as respostas tendem a ser mais lentas e, muitas vezes, insuficientes. Isso tem se aplicado à maioria dos agentes infecciosos virais e bacterianos com exceção do novo coronavírus, onde se observou um menor número de agravos em crianças saudáveis. A explicação advém do fato de que a criança apresenta uma boa resposta imunológica inata (que já está pronta desde o nascimento), importante na defesa ao coronavírus. Quanto aos imunodeficientes (primários ou secundários a tratamentos), trata-se de um grupo extremamente vulnerável a complicações clínicas quando infectados, por falta de defesas imunológicas.


 

E doenças respiratórias alérgicas, quais podemos ressaltar?

 

Ressalto a rinite e asma. A rinite alérgica é mais comum após os 2 anos de idade e atinge cerca de 26% das crianças brasileiras. Em adolescentes, esse percentual vai a 30%, de acordo com dados do ISAAC (Estudo Internacional de Asma e Alergias na Infância), aplicados em vários estados brasileiros.

 

Os sintomas da Rinite são caracterizados por coceira frequente no nariz e/ou nos olhos, espirros seguidos, principalmente pela manhã e à noite, coriza (nariz escorrendo) frequente e obstrução nasal, mesmo na ausência de resfriados.

 

Ressalto também a asma, que acomete cerca de 10% da população brasileira e é a causa de morte de aproximadamente duas mil pessoas por ano. É uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias que pode ser causada ou intensificada por diversos fatores como ácaros da poeira, mofo, polens, infecção respiratória por vírus, excesso de peso, rinite, refluxo gastroesofágico, medicamentos e predisposição genética. Da criança até o adulto jovem, as alergias são fatores importantes como causadores de crises de asma.


 

É possível prevenir essas doenças respiratórias de Inverno?

 

A forma mais eficaz de prevenção é estar com a carteira vacinal atualizada. Também podemos prevenir das infecções tentando evitar ambientes mal ventilados e com muitas pessoas.

 

Outra recomendação importante é o controle de doenças crônicas, respiratórias ou não. Como exemplo a asma e a rinite, que tendem a apresentar maior agravo nas épocas frias do ano e se não estiverem sob controle, os vírus e bactérias certamente causarão um maior processo inflamatório, levando, muitas vezes, a quadros respiratórios graves.

 

Outras doenças crônicas como a hipertensão arterial e o diabetes também devem estar controladas para evitar o agravamento dos processos infecciosos respiratórios. Durante a epidemia no novo Coronavírus, este fato foi evidenciado e muitas mortes ocorreram nestes pacientes com comorbidades, em especial os não controlados. 



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