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sábado, 25 de maio de 2024

Exercitando a empatia

No meu último ano de sala de aula, tive uma turma de quarto ano que se tornou muito querida. Os alunos, todos, eram muito especiais. Porém, me deparei com uma situação difícil de contornar.

Thiago, um aluno de 9 anos, recém matriculado na escola, era extremamente alérgico a qualquer produto de origem animal. Alérgico a ponto de carregar uma pochete com injeção de endorfina. Avisei a coordenação que eu não tinha nenhum tipo de treinamento caso ele precisasse que um adulto lhe aplicasse a injeção. Os pais disseram que eu não precisava me preocupar, pois Thiago já sabia lidar bem com sua condição.

Ele levava o lanche dele e sempre pareceu bem resolvido. Acabei esquecendo dessa limitação e, quando os pais do Matheus avisaram que, mandariam um bolo para cantarmos os parabéns no recreio, eu nem lembrei que Thiago não poderia comer.

Cantamos os parabéns e só fui lembrar disso, quando olhei para seus olhinhos marejados enquanto me observava oferecer o pratinho com uma fatia de bolo para todas as outras crianças. Me senti a pior professora do mundo. Afinal, era minha obrigação ter pensado nisso.

Decidi mandar mensagem para todos os pais da turma, informando sobre a condição de Thiago, junto com três indicações de pessoas que vendiam bolos veganos. Inclusive a mãe do Thiago.

O próximo aniversário seria de Valentina e, conhecendo o pouco que já conhecia desses pais, já poderia ter imaginado que dariam problema. A mãe chegou com um bolo temático, pedindo desculpar por ter esquecido do "detalhe" do bolo vegano, se eu não poderia abrir uma exceção. Cantamos parabéns e, de novo, tive que presenciar a carinha de choro de Thiago.

Pedi para os alunos sentarem em roda e que Thiago tentasse explicar como se sente ao presenciar todos comendo um bolo delicioso, menos ele. Sem medo de chorar, Thiago explicou que não sentia falta do doce, pois nunca tinha comido, mas que se sentir excluído era dolorido e que ele não entendia o porquê, já que os bolos veganos são uma delícia.

A partir desse dia, nunca mais tivemos um bolo que Thiago não pudesse comer. Todas aquelas crianças, de alguma forma, entendiam a dor de se sentir excluído.

Infelizmente, se dependesse dos pais, Thiago passaria o ano todo se sentindo assim.

Fico feliz por eu ter aproveitado esse momento como uma oportunidade que todos poderíamos aprender.

 

Vanessa - pedagoga e escritora, autora do livro “Todas as vidas de Tati”

**Todos os nomes utilizados neste texto são fictícios

 

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