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quarta-feira, 22 de maio de 2024

Dia Internacional da Biodiversidade: pesquisas da Apta lembram que, sem preservação ambiental, não há alimento

Data instituída em 1992, pela Organização das Nações Unidas (ONU), é um lembrete de que toda forma de vida tem valor e merece ser preservada

 

Biodiversidade é o nome que se dá à variedade de seres vivos que ocupam determinada área, como uma cidade, um estado, um bioma ou o planeta todo. Essa diversidade é composta de microrganismos, plantas e animais, dos menores insetos aos maiores mamíferos – incluindo nós, seres humanos. O Dia Internacional da Biodiversidade, celebrado em 22 de maio, foi escolhido pela ONU como uma forma de nos fazer lembrar da importância de preservarmos as diferentes formas de vida, que merecem ter seu espaço garantido em nosso planeta. A data também nos convida a refletir sobre o quanto somos dependentes de um meio ambiente equilibrado e a valorizar as contribuições práticas que as outras espécies nos trazem, como na polinização das lavouras, enquanto fonte de alimentos e remédios e na manutenção do clima e dos processos naturais.

 

Sabendo da importância da biodiversidade para todos nós, os Institutos de Pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, realizam diversas pesquisas que buscam aliar a produção com a conservação da fauna e flora.

 

Entendendo e cuidando da vida nas águas brasileiras 

Instituição da Apta voltada aos rios, mares, lagos e reservatórios, o Instituto de Pesca (IP-Apta) dedica atenção especial ao tema da biodiversidade nos ambientes aquáticos. Além de levantar informações sobre a riqueza de espécies de peixes e demais organismos presentes nas águas, as pesquisas buscam entender de que forma alterações nos ecossistemas podem impactar atividades produtivas, como a pesca. 

“Temos realizado estudos em diversos tipos de rios de pequeno porte, onde se concentra 70% da diversidade de peixes brasileira. Muitos destes ambientes ainda são pouco conhecidos e já estão sujeitos a diferentes impactos ambientais, como assoreamento, lançamento de esgotos e uso do solo inadequado”, preocupa-se a pesquisadora do IP Katharina Eichbaum Esteves. Em sua pesquisa são feitos levantamentos da fauna de peixes, procurando correlacionar sua diversidade a diferentes características ambientais, como presença de vegetação ripária, tipo de substrato e qualidade da água. “Estas informações são importantes para identificar quais fatores ambientais favorecem a presença de uma determinada comunidade naquele ecossistema”, desenvolve. 

Também pesquisadora do Instituto, Cacilda Thais Janson Mercante estuda a qualidade da água de ambientes aquáticos, visando caracterizar as relações entre os organismos e os chamados fatores abióticos (variações de temperatura, oxigênio, pH, entre outros). “Os organismos que eu estudo compõem a comunidade fitoplanctônica, comumente conhecidos como algas, grupos de microrganismos que possuem uma característica muito importante, pois realizam o processo de fotossíntese”, pormenoriza a especialista. Segundo Cacilda Thais, esse processo faz com que, por meio da luz solar, as algas produzam seu próprio alimento, ao mesmo tempo que geram oxigênio, que é liberado na água e pode ser utilizado pelos peixes. “Com relação à biodiversidade, temos muitas espécies de algas vivendo nos ambientes aquáticos e que são alimento para diversas espécies de peixes. Estudar e buscar manter a boa qualidade das águas significa preservar a biodiversidade aquática”, enfatiza. 

As duas pesquisadoras alertam sobre o delicado equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e como muitas atividades humanas trazem impactos à biodiversidade e podem interferir inclusive nos ciclos de pesca. “A poluição aquática afeta diretamente a biodiversidade dos mais diferentes grupos de organismos aquáticos. As algas são os principais indicadores de alteração na qualidade das águas, sendo que sua biodiversidade diminui drasticamente com a poluição”, exemplifica Cacilda Thais. “Outra questão é o desmatamento das matas ciliares, que têm diversas funções ecológicas, como diminuir a erosão do solo e manter a qualidade das águas dos rios e lagos que sustentam toda a vida aquática”, acrescenta. No que diz respeito à pesca, Katharina sinaliza que os impactos se dão de diferentes formas. “Existem interações entre predadores e presas, ou seja, se uma determinada espécie é eliminada, há um efeito que pode se propagar através de toda a cadeia alimentar”, destaca. “Estes impactos podem ser causados pela introdução de espécies exóticas, poluição, desmatamento ou má qualidade da água, entre outros fatores”, finaliza.

 

Sistemas Agroflorestais buscam perspectiva integral de sustentabilidade

Partindo de um olhar abrangente da biodiversidade e sua importância para nossa vida, a Apta Regional promove pesquisas e ações com foco na agroecologia, integrando os aspectos ambientais, sociais e econômicos da produção de alimentos. Ao lado de grupos de produtores, coletores de sementes e coletivos populares, a Instituição criou, em 2022, a Rede Agroecológica Regional (RAR), para reunir projetos de pesquisa e iniciativas que busquem fomentar a produção de alimentos de base agroecológica, tendo como um de seus eixos centrais a manutenção e resgate da biodiversidade. A RAR abrange tópicos como produção orgânica, plantas medicinais e aromáticas nativas, o uso de óleos essenciais e hidrolatos para insumos agropecuários, controle biológico e as Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Panc).

Nesse âmbito, um tema que recebe crescente atenção são os Sistemas Agroflorestais (SAF), que aliam produção e preservação. “Os SAF contribuem com a biodiversidade ao produzir simultaneamente em consórcio, ou em sequência temporal, diversidade de plantas distribuídas na mesma área, inclusive podendo resultar em ganhos significativos para a conservação das espécies”, explica o pesquisador da Apta Regional de Pindamonhangaba Antonio Carlos Devide. “Há uma diversidade de SAF, que podem focar desde a restauração ecológica de uma área por meio do plantio de uma floresta com SAF biodiverso sucessional, até em sistemas de produção intensiva alinhados com o mercado, como na agricultura sintrópica, para obter diversidade de alimentos e produtos no curto espaço de tempo”, complementa.

A ideia por trás do conceito é que o sistema se retroalimenta, com as espécies presentes contribuindo para a manutenção de energia e nutrientes. “Nos SAF a reciclagem de energia é circular e beneficia todos os organismos vivos que atuam na cadeia alimentar em equilíbrio dinâmico, minimizando as perdas”, detalha Devide. O uso das podas de algumas espécies de plantas como adubos verdes para beneficiar outras de interesse econômico é um exemplo de como essas inter-relações funcionam. “Do micro ao macrocosmo todos os seres se beneficiam com a poda na agrofloresta. Os benefícios são visíveis, com o crescimento de organismos decompositores que degradam a matéria orgânica e das plantas que se beneficiam dos nutrientes reciclados, além do fluxo de animais que buscam abrigo nos SAF”, diz o especialista, agregando que esses são sistemas produtivos bastante resilientes, que suportam melhor eventos climáticos extremos e outras adversidades.

O pesquisador da Apta Regional ressalta que a promoção da biodiversidade é a chave para a agrofloresta, que, por sua vez, pode ser um norte para atingirmos uma sociedade sustentável. “Proteger a biodiversidade é a única via para se alcançar o equilíbrio biológico e, por isso, os SAF devem se tornar a cada dia um caminho para uma melhor organização social, política, econômica, ambiental e cultural”, conclui.

 

Controle biológico para agroecossistemas equilibrados 

Os insetos e demais invertebrados não estão presentes nas lavouras apenas para causar danos. Eles fazem parte da biodiversidade em um agroecossistema e só passam a ser um problema quando este está desequilibrado. Pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Biológico (IB-Apta) propõem uma forma bastante eficiente de usar recursos presentes na própria natureza para controlar as pragas e doenças dos cultivos, possibilitando que esse equilíbrio volte a ocorrer. “Nos ecossistemas agrícolas é possível as pragas serem controladas pelos inimigos naturais. Trata-se de uma tecnologia sustentável, conhecida por controle biológico, que tem insetos predadores, parasitoides e entomopatógenos como agentes de controle que atuam diminuindo sua densidade populacional”, aponta a pesquisadora do IB Terezinha Monteiro Cividanes. 

A especialista cita como exemplos as joaninhas, as tesourinhas, que comem ovos da lagarta do cartucho do milho, e algumas espécies de percevejo, que predam lagartas desfolhadoras. Principal foco de pesquisa de seu trabalho, as joaninhas são importantes insetos predadores que, além de pulgões, consomem ácaros, cochonilhas, moscas-brancas entre outros. “Elas são extremamente vorazes e eficazes no controle de pragas, diminuindo os danos e os prejuízos econômicos ocasionados por esses organismos nas culturas agrícolas”, afirma Terezinha. Em consequência disso, a produção de alimentos é incrementada em termos de qualidade e quantidade. 

A pesquisadora do IB acrescenta que, pelo fato de as joaninhas ocorrerem espontaneamente no ambiente, torna-se importante conhecer suas fases de desenvolvimento e hábitos de vida para preservá-las no sistema produtivo. “Em um ambiente agrícola, a diversidade de espécies de plantas é recomendável, pois assim a biodiversidade será maior. Nesse tipo de ambiente, a incidência de insetos benéficos, como os predadores, é incrementada”, elucida. 

Terezinha lembra ainda que, dentro do contexto do equilíbrio ecológico, inimigos naturais como as joaninhas são altamente sensíveis aos defensivos químicos. Por isso, atenta para a importância de empregar esses produtos somente quando realmente necessário e com orientação profissional. “Um ambiente em equilíbrio, ou seja, onde as populações de pragas e de inimigos naturais são mais ou menos constantes, proporciona sustentabilidade na produção de alimentos, características que beneficiam o agricultor, o consumidor e o meio ambiente”, encerra.

 

Guardião do patrimônio genético 

Preocupado com o desenvolvimento sustentável, o Instituto de Zootecnia (IZ-Apta) possui um Banco Ativo de Germoplasma de Plantas Forrageiras (IZ-FOR) que estuda e preserva grande diversidade de espécies forrageiras tropicais. O banco reúne cerca de 286 acessos de gramíneas e 1585 acessos de leguminosas forrageiras, sendo considerado o maior da América do Sul. Cada acesso é composto por uma porção de sementes viáveis que contêm o material genético de determinada espécie, que assim é conservada para a posteridade. 

A coleção teve início na década de 70, através de intercâmbios com outras instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, e por meio de coleta. O principal objetivo é conservar os recursos genéticos dessas plantas forrageiras, preservando e fornecendo material biológico e informações associadas para pesquisa e desenvolvimento científico na área de zootecnia e garantindo que não serão eventualmente extintas. A seleção e o melhoramento dos acessos contidos no Banco Ativo de Germoplasma possibilitam o desenvolvimento de materiais economicamente viáveis e que atendam ao setor pecuário, que é destaque na economia nacional. 

De acordo com a pesquisadora Luciana Gerdes, diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Pastagem e Alimentação Animal do IZ, atualmente o Instituto ampliou estudos para o lançamento de materiais genéticos de gramíneas e leguminosas forrageiras em parceria com a iniciativa privada. “Buscamos disponibilizar para pecuária nacional novos cultivares que atendam as necessidades de mercado com relação ao aumento da produção eficiente de alimentos, adaptabilidade às mudanças climáticas e eventos extremos e para uso nos sistemas integrados de produção agropecuário”, relata.

 

Gustavo Steffen de Almeida e Alexandra Cordeiro

 

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