População LGBTQIA+
com deficiência enfrenta preconceitos em dobro da sociedade
Em
1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a
homossexualidade como parte integrante da Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID),
descartando a ideia de ser um distúrbio mental. Hoje, quase 35 anos depois, uma
parcela significativa dos brasileiros ainda tem a visão deturpada de que
homossexualismo é doença, mesmo com a mobilização cada vez maior pelos direitos
LGBTQIA+ no país. E o que dizer do preconceito sofrido pelo indivíduo
homossexual, trans ou bissexual que tem alguma deficiência?
Neste
17 de maio, em que o mundo inteiro comemora o Dia Internacional contra a
Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, é preciso lembrar que além do capacitismo
impregnado na sociedade contra essa parcela da população - 19 milhões de brasileiros adultos se declaram
assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero, de acordo com o IBGE -, a
discriminação que sofrem as pessoas LGBTQIA+ com deficiência é ainda maior. E todo
o sofrimento causado pelo preconceito, isolamento e estigma deixa marcas
profundas em muitas delas, levando à depressão e outros problemas de saúde.
André Naves, que é especialista em Direitos Humanos e
Inclusão Social, ressalta que as
pessoas estão mais conscientes e reagindo ao preconceito, mas que ainda precisamos
avançar muito mais. O Defensor Público lembra que a sociedade é composta por
uma ampla diversidade de identidades e experiências, e que é fundamental
reconhecermos e valorizarmos todas as formas de ser e existir.
“Ao
considerar as interseccionalidades entre pessoas LGBTQIA+ e pessoas com
deficiência, devemos ter em mente que cada indivíduo carrega múltiplas
identidades e enfrenta desafios únicos. Uma pessoa pode se identificar como
LGBTQIA+ e também ter uma deficiência, enfrentando, assim, muitos desafios e
barreiras adicionais que surgem da interseção dessas duas dimensões. Essas
barreiras podem se manifestar de diversas maneiras, desde atitudes irônicas e
desrespeitosas por parte de terceiros, a falta de acessibilidade em espaços
LGBTQIA+; até a invisibilidade das questões de gênero e sexualidade nos espaços
voltados para pessoas com deficiência”, afirma Naves.
Ao
contrário de uma visão limitante, precisamos reconhecer que a deficiência não
está na pessoa, mas sim nas barreiras que a sociedade impõe. A deficiência é um
reflexo das limitações impostas pelo ambiente e não uma característica
intrínseca dos indivíduos. Além disso, não podemos esquecer a importância da
sexualidade para a emancipação pessoal. Os afetos e o sexo desempenham papel
fundamental na vida das pessoas, inclusive entre os LGBTQIA+ que têm algum tipo
de deficiência.
“É
fundamental enfatizar que todas as pessoas têm direito à dignidade, à igualdade
de oportunidades e ao pleno exercício de seus direitos. A inclusão plena só
será alcançada quando a sociedade como um todo reconhecer e valorizar a
diversidade de experiências e identidades. Portanto, é necessário que
trabalhemos em conjunto para construir uma sociedade mais inclusiva. Somente
assim poderemos superar as barreiras sociais e estruturais, garantindo a
realização das autonomias individuais. Vamos lutar por uma sociedade onde todas
as pessoas sejam livres para serem quem são, independentemente da identidade de
gênero ou de suas habilidades físicas e mentais”, enfatiza o Defensor Público
André Naves.
E foi
exatamente para dar visibilidade à luta contra o preconceito e a exclusão
social que a psicóloga Priscila Siqueira, mulher
bissexual com nanismo, criou em 2020, na cidade de Recife, Pernambuco, a
Vale PcD, a primeira ONG voltada para a população LGBT+ com deficiência; um espaço de inclusão para abranger a diversidade que
existe dentro da própria comunidade com deficiência. O movimento cresceu e
atualmente a organização Parada do Orgulho PcD Brasil realiza edições do evento
por todo o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário