Buscar a
felicidade virou debate nas universidades e o tema invade as prateleiras das
livrarias. Esta procura também fala sobre a fuga de algum tipo de sofrimento
humano, como se a ausência de algo pudesse fazer a felicidade operar. PixBay
Assim, ao invés de nos aproximar dela, as pessoas
pensam no futuro, em que haverá felicidade, ou no passado, envolto a memórias
de quando se achavam mais felizes. Desta forma, crenças vão sendo alimentadas e
ajudam a identificar quando situações de possível sofrimento quiserem se
aproximar novamente. Infelizmente, isso é um problema, pois a mente está
deslocada do único momento em que de fato se pode ser feliz: no presente.
A ciência trouxe possibilidades de assimilar cada
vez mais o que é a felicidade. Ela engloba estudos do cérebro, bioquímica e
toda a movimentação neural provocada pelas emoções. Entender os componentes
químicos e estruturais envolvidos em sentimentos — como compaixão, gratidão e
amor —, que fazem parte da felicidade, nos faz compreender como o corpo age
nestes estados, mas ainda existe uma lacuna: como “colocá-los” para dentro?
Será que a felicidade seria algo puramente molecular?
Para entender sobre isso, é necessário compreender
que a presença de neurotransmissores na corrente sanguínea gera sensações no
corpo, mas a mente é essencial para interpretar e comunicar essas experiências.
Por exemplo, qual a diferença entre a adrenalina disparada quando se está em uma
montanha-russa em alta velocidade, que faz todos sorrirem de felicidade, e a
mesma adrenalina que corpo experimenta ao passar por um assalto, onde o
sentimento é medo?
O neurotransmissor é o mesmo, mas o cérebro e o
aparato informam que a primeira situação é de alegria e a segunda é um risco.
Em ambos os casos, para o corpo, nada muda, quando a adrenalina sobe, ele se
prepara para lutar ou fugir. Quando cérebro diz que não é uma situação de
risco, o sistema corre para frear a descarga.
As emoções primárias existem em todos, mas, na
maioria das vezes, o cérebro racional acalma as emoções. Porém, toda vez que
sentimos uma emoção, ainda que este circuito da razão aconteça, paralelamente,
corre um circuito ainda mais rápido, o do sistema nervoso autônomo (SNA), que
acontece em duas vias, simpática e parassimpática. Este sistema é regido pelas
emoções e não pela razão, portanto, mesmo que racionalmente pareçamos manter o
equilíbrio, a descarga gerada pelas emoções primárias fica circulando em nosso
corpo e altera nossa fisiologia.
Quando há uma explosão bioquímica, uma emoção, o
sistema nervoso autônomo envia para o corpo uma resposta baseada no que se
sente e não no que se pensa. São milésimos de segundo entre o sentir e
codificar, porém, a resposta fisiológica é imediata. Além disso, não é
necessário vivenciar uma emoção para essa liberação de carga acontecer.
Os pensamentos não possuem a relação tempo-espaço, sendo assim, lembrar ou
imaginar algo ruim faz com que o corpo sinta que aquilo é real. A mente consegue
entender a imaginação, mas o corpo, não, e ele obedece às emoções.
Portanto, pode-se concluir que o sistema nervoso
autônomo também responde aos estímulos de alegria e bem-estar e envia para o
corpo sinais de que tudo está bem. Isto abre um ponto de vista positivo. Se o
sentir pode mudar a fisiologia, é possível utilizar desta inteligência para
imaginar e sentir coisas boas, obtendo ganhos para o corpo.
Deste modo, obter alívio, conforto, plenitude, satisfação e alegria a partir da evocação de boas lembranças, provocam bons sentimentos e sensações, influenciam o sistema nervoso autônomo e a saúde na totalidade, garantindo o que todos procuram: a felicidade no presente.
Camila Capel - psicopedagoga especialista em educação parental, fundamentada na pedagogia Waldorf e Antroposofia, facilitadora de processos de autodesenvolvimento, meditação e mindfulness e autora dos livros “A Mala do Opa” e “Vamos falar sobre a Vida”.
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