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terça-feira, 26 de setembro de 2023

Setembro Amarelo: a prevenção do suicídio está no diálogo e no cuidado com a saúde mental

Divulgação
Professoras de psicologia da UniSociesc alertam para a importância da observação de sinais de que algo não está bem e o encaminhamento ao tratamento adequado

 

Falar sobre suicídio ainda é um grande tabu. Mas conversar sobre o assunto, entender o fenômeno e estar atento a quem a gente ama pode ser o jeito mais eficaz de evitar a tragédia, muitas vezes silenciosa, alertam especialistas. A cada 24 horas, uma média de 44 pessoas morrem por suicídio no Brasil, conforme levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano. 

O suicídio é a terceira causa de morte violenta, perdendo para acidentes de trânsito e homicídios. Em 2022, foram 16.262 registros no país. Em 2021, foram 14.475 suicídios.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida no mundo. Isso representa, em média, um caso a cada 40 segundos. E para cada pessoa que tirou a própria vida, estima-se que outras dez tenham tentado.  

É provável que você não conheça estes dados, pois falar sobre o tema ainda é um tabu. "Até pouco tempo acreditava-se que falar sobre suicídio incitava pessoas a cometerem o ato. No entanto, quanto mais se fala sobre o assunto e sobre todos os aspectos da saúde mental envolvidos, mais conhecimento e entendimento se tem sobre este fenômeno. É preciso que se fale do tema sempre”, destaca Amanda Lang, psicóloga, pedagoga e coordenadora do curso de Psicologia da UniSociesc. 

A psicóloga e professora do curso de Psicologia da UniSociesc, Amanda Gassenferth, compartilha da mesma opinião e alerta: "Falar sobre saúde mental ainda é um tabu, não apenas a questão do suicídio. Quando falamos em formas de evitar o suicídio, precisamos compreender a importância do acolhimento. Ainda há um julgamento da sociedade no sentido de que a pessoa está querendo chamar a atenção. Mas se uma pessoa tem essa fala sobre suicídio, há um sofrimento psíquico, emocional, psicológico, que não pode ser julgado. Ela precisa de acolhimento e atendimento especializado." 

Para incentivar discussões sobre o tema e ações voltadas para a prevenção do suicídio, neste mês ocorre o Setembro Amarelo. 

 

Atenção aos pequenos sinais  

Danieli Graciela Fachini Toassi, psicóloga, neuropsicóloga e também professora do curso de Psicologia da UniSociesc lembra que o suicídio sempre esteve presente na sociedade, mas que é possível sim, evitar a tragédia. “É importante ficarmos atentos aos pequenos sinais que a pessoa pode demonstrar. Principalmente familiares e pessoas próximas conseguem observar mudanças, como por exemplo o isolamento, a desesperança, a tristeza profunda que não passa, a fala em tom de despedida, as alterações bruscas de humor e no comportamento”, destaca. 

A professora Amanda Gassenferth reforça que muitas vezes as pessoas não trazem a questão do suicídio na fala, mas estão num estágio tão grave de sofrimento que rompem lá no cérebro com os mecanismos naturais de defesa do ser humano. “Elas podem começar a ter comportamentos de risco (uso exagerado de drogas, álcool, medicamentos; o cutting, em que as pessoas têm a atitude da automutilação) ou ficarem extremamente isoladas. Estes acabam sendo fortes indícios de um sofrimento psíquico”, diz ela.  

Danieli lembra que muitas vezes é preciso dialogar, conversar e mostrar que você está ao lado da pessoa em sofrimento. E mesmo que ela não queira conversar, precisa saber que existe alguém com quem ela pode contar. “Deixar claro que você entende que a dor dela é real e que deseja ajudar é muito importante. O pior comentário que se pode fazer é comparar a situação e o sentimento dessa pessoa com os outros”, diz.  

Outro alerta que a professora Amanda Lang faz é sobre a importância de se divulgar onde e como buscar ajuda. "As pessoas em sofrimento também precisam saber onde buscar apoio, daí a importância de trabalhos como o do CVV; do acolhimento nas clínicas-escolas das instituições de ensino; além dos atendimentos no sistema de saúde dos municípios." 

As mortes por suicídio abalam famílias, desestruturam lares e multiplicam o sofrimento dos que ficam. As histórias sempre envolvem tristeza, revolta e culpa. No entanto, alguém só comete um ato tão brutal quando está em intenso sofrimento, a ponto de realmente não ver mais salvação. “Nós não temos controle total sobre os acontecimentos da vida e por mais que tenhamos conhecimento de nossas reações, podem ocorrer fatos que desestabilizam uma pessoa e ela se sente numa situação sem saída”, observa a professora Danieli. 

As três psicólogas fazem um alerta sobre o risco do senso comum relacionar diretamente todos os casos de suicídio a transtornos mentais. Nem toda a pessoa com diagnóstico de transtorno mental vai apresentar uma ideação ou tentativa de suicídio e nem toda a pessoa que tentou ou tirou a própria tinha um transtorno mental. Mas as professoras reforçam a importância do tratamento e acompanhamento de quem tem um transtorno mental diagnosticado, pois só assim haverá prevenção.


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