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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer

Especialista responde dúvidas mais comuns sobre a condição


O Alzheimer é um transtorno degenerativo comum e incurável, com mais de 2 milhões de casos por ano apenas no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é que até 2030 o número de pessoas afetadas pela condição possa chegar a 74 milhões de casos, e essa projeção é ainda mais preocupante, com a possibilidade de alcançar 131 milhões até 2050.

É mais comum em idosos, mas também pode afetar pessoas mais jovens, como alguns casos recentes revelaram. Com a chegada do Dia da Conscientização sobre Alzheimer, marcado para 21 de setembro, tivemos a oportunidade de discutir os principais aspectos do tema com o Dr. Bruno Della Ripa Rodrigues Assis, médico neurologista e coordenador da Neurologia no Hospital Nipo-Brasileiro. 


-O que é o Alzheimer e como ele age no cérebro?

R: A Doença de Alzheimer é uma doença de caráter degenerativo e progressivo, sendo a principal representante de um grupo de doenças denominada demências, manifestas por comprometimento das funções cognitivas (ou seja, funções cerebrais responsáveis pelo processamento de informações e realização de atividades complexas, apesar de cotidianas). Especificamente para a Doença de Alzheimer, ocorre pela deposição de proteínas anômalas dentro das células neuronais, predominantemente por placas da proteína beta amilóide. Entre as funções cognitivas, a principal afetada é a memória, porém com o envolvimento das demais no decurso da doença (como atenção, função executiva, linguagem, entre outras).


-Quais são os estágios do Alzheimer e como eles afetam progressivamente a função cognitiva e a vida diária dos pacientes?

R: Os estágios da Doença de Alzheimer podem ser caracterizados em Inicial/Leve, Moderado, Grave e Terminal (conforme classificação do Ministério da Saúde), porém também frequentemente categorizada a partir da escala CDR (Clinical Dementia Rating Scale), que acabam por se equiparar, de certo modo. Tais classificações são algo arbitrárias, sendo a CDR algo mais objetiva na sua avaliação. De modo geral, a classificação se dá a partir, principalmente, do grau de acometimento da memória do indivíduo acometido. Desse modo, no quadro inicial/leve (CDR 1), as alterações de memória ainda são sutis e/ou não trazem prejuízos maiores ao cotidiano, apesar do desempenho ser claramente afetado, inclusive com percepção de amigos e familiares.

Nos quadros moderados (CDR 2), os esquecimentos passam a ser mais frequentes, assim como o acometimento de outras capacidades cognitivas de modo mais intenso, como problemas de função espacial e no planejamento, dificuldades maiores na solução de problemas, tendência à maior retração social e inabilidade na socialização, muitas vezes já demonstrando a necessidade de supervisão de cuidados diários (atividades instrumentais de vida diária - AIVD e básicas - ABVD). Com a evolução para os quadros graves e terminais (CDR 3), as funções cognitivas ficam cada vez mais prejudicadas, de modo a comprometer completamente a autonomia do indivíduo, inclusive sendo comum encontrarmos pessoas acamadas e com internações repetidas por complicações associadas à imobilidade e grande debilidade.


-Quais os principais sinais do começo do Alzheimer?

R: Os sinais principais do início do quadro de Alzheimer é o comprometimento da memória, em especial a episódica (ou seja, para fatos ocorridos no tempo e no espaço na vida do indivíduo e do ambiente que o cerca), principalmente quando essa manifestação passa a interferir no cotidiano do indivíduo.


-Além da perda de memória, quais são outros sintomas comuns que os pacientes podem experimentar à medida que a doença progride?

R: Disfunções das habilidades visual e espacial, comprometimento executivo (i.e., das funções necessárias para o planejamento e gerenciamento de pensamentos e emoções), entre outros.


-Quais as principais dificuldades dos pacientes com a condição e seus familiares?

R: As dificuldades maiores encontram-se no envolvimento progressivo da memória, bem como na aceitação da condição enquanto seu caráter degenerativo progressivo.


-O mal de Alzheimer é causado apenas pela genética da pessoa ou há outros riscos?

R: A Doença de Alzheimer pode ter um componente genético relevante, contudo tem um risco multifatorial, com fatores mutáveis e não mutáveis, como a ocorrência de comorbidades, perda auditiva, transtorno depressivo, insônia crônica, baixa escolaridade, entre outros.


-Existem fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento do Alzheimer, como estilo de vida e saúde cardiovascular?

R: Sim, especialmente o tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus, obesidade e sedentarismo.


-Quais as principais novidades e descobertas sobre a doença?

R: As principais novidades estão acerca de estudos de medicamentos específicos, da classe dos anticorpos monoclonais, especialmente o Adecanumab e Lecanumab. Tais medicações foram vistas como tratamentos potenciais para casos iniciais/leves selecionados, ainda em estudos quanto à sua segurança adequada para utilização em maior escala.


-Muito se fala sobre atitudes do dia a dia que podem prevenir a doença, como por exemplo respirar lentamente, determinados hábitos de sono. Até que ponto podemos levar isso em consideração?

R: De fato, a melhor possibilidade de prevenção da doença é a adoção de medidas de mudanças no estilo de vida, priorizando-se a prática habitual de atividades físicas, controle adequado de comorbidades, higiene do sono adequada, alimentação saudável (especialmente baseada na dieta do Mediterrâneo, composta por frutas e legumes, oleaginosas, ácidos graxos poliinsaturados, como o azeite, além de ingestão de carnes magras como peixe e frango e em preparo de cocção que evite frituras).


-Como é diagnosticada a condição?

R: A condição é diagnosticada a partir de uma história e exames clínico e neurológico minuciosos, com a aplicação de escalas, além de exames de neuroimagem (como a ressonância magnética do encéfalo). Por vezes, a adoção de medidas complementares, como avaliação neuropsicológica, exames de imagem mais avançados (como PET-CT Cerebral) e uso de biomarcadores (como o estudo de proteínas específicas no líquor) podem auxiliar na conclusão de casos de maior dificuldade no diagnóstico assertivo.


-Com que idade seu início é mais comum?

R: Em geral, a maioria dos quadros de Doença de Alzheimer dá-se a partir dos 65 anos, com casos menos frequentes de início mais precoce, por volta dos 50 anos. A depender da ocorrência intrafamiliar e idade de início, pode ser importante a realização da investigação de causas genéticas adicionais para o quadro, como nas heranças monogênicas, ou seja, com genes específicos envolvidos no mecanismo da doença.


-O Alzheimer pode levar a óbito?

R: Em geral, os desfechos de óbito nos pacientes com doença de Alzheimer costumam ocorrer por complicações secundárias do quadro, como pneumonias repetidas por microaspiração e infecções urinárias, além de episódios adicionais como infarto, tromboembolismo pulmonar, arritmias cardíacas e crises convulsivas prolongadas e não tratadas, entre outros.



Dr. Bruno Della Ripa Rodrigues Assis - médico neurologista e coordenador da Neurologia do Hospital Nipo-Brasileiro.

 

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