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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Saúde Óssea na Infância: a importância do cuidado durante os primeiros anos de vida

A médica endocrinologista pediátrica Dra. Gabriela Werneck fala sobre as oportunidades e vulnerabilidades do cuidado com a saúde óssea durante a infância


É estimado que ao longo da gravidez o feto obtenha entre 50 a 90 gramas de conteúdo mineral ósseo (CMO). Dentre os fatores que interferem no processo de mineralização óssea durante a gestação, destacam-se a nutrição materna, níveis de vitamina D, metabolismo ósseo e a idade gestacional.

 

“Após o nascimento, as crianças apresentam um aumento constante na massa óssea ao longo de toda a infância, chegando a aproximadamente 2.400g de massa óssea em mulheres adultas jovens e 3.300g em homens adultos jovens. Durante a adolescência, ocorre o acúmulo de metade dessa massa óssea. Vários fatores, como exercícios físicos, consumo de cálcio, níveis de vitamina D, hormônio do crescimento e hormônios sexuais influenciam na aquisição de massa óssea e devem ser monitorados durante a infância e adolescência. Portanto, a infância é uma fase de oportunidades, mas também de vulnerabilidades”, explica a endocrinologista pediátrica Dra. Gabriela Werneck, membro da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO.

 

De acordo com a profissional, a massa óssea é adquirida de maneira acentuada durante os dois primeiros anos de idade, e aumenta de maneira gradativa, até atingir o pico de massa óssea no início da fase adulta. Entretanto, ao longo da vida, a perda óssea é maior que a formação. Nesse sentido, quanto maior o pico de massa óssea atingido pelo indivíduo e quanto menor a perda óssea ao longo dos anos, menor será o risco de fragilidade óssea na idade adulta.

 

Em relação ao pico de aquisição de massa óssea, a Dra. Gabriela salienta que ele ocorre de maneira quase concomitante com pico de velocidade de crescimento. A puberdade é uma fase importante para aquisição de massa óssea, tendo em vista que entre 50% a 80% da massa óssea das pessoas é adquirida neste período. “É nessa fase que ocorrem a maior parte das fraturas em crianças e adolescentes, devido a uma maior velocidade de crescimento que antecede o pico de massa óssea, o qual acontece mais tardiamente, no início da vida adulta”, alerta.

 

Identificação precoce de riscos ósseos e as estratégias para promover a saúde óssea na vida adulta

 

Segundo a médica, a avaliação da densidade mineral óssea por meio da densitometria óssea é essencial em crianças com risco de osteoporose. Para fazer essa avaliação analisa-se o corpo todo e a coluna lombar. Dentre as indicações para a realização deste exame estão: a ocorrência de duas ou mais fraturas de ossos longos de baixo impacto em crianças menores de 10 anos e três ou mais fraturas em crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. Também pode ser realizado em pacientes que possuem condições que aumentam o risco secundário de osteoporose, como distrofias musculares, doenças reumáticas, fibrose cística, entre outras comorbidades.

 

A aquisição de massa óssea durante a juventude está relacionada a fatores ambientais, incluindo a prática de atividades físicas. A modelação óssea é sensível à estimulação mecânica. Nesse sentido, recomenda-se que as crianças pratiquem atividades físicas diariamente, com duração de pelo menos 180 minutos, que podem ser fracionadas ao longo do dia. A partir dos 6 anos, recomenda-se pelo menos 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a intensa.

 

Hereditariedade - A genética desempenha um papel fundamental, correspondendo entre 60% a 80% do pico de massa óssea. Ao realizar um exame clínico, é essencial buscar um histórico de fragilidades ósseas na família e identificar situações de risco para baixa massa óssea. Além disso, devido à importância da mineralização óssea do feto no terceiro trimestre de gestação, é crucial assegurar que a gestante mantenha níveis adequados de vitamina D e consumo de cálcio.

 

Assegurar cuidados adequados durante a gestação, incluindo a avaliação do histórico familiar, a manutenção dos níveis adequados de vitamina D e a monitorização do metabolismo ósseo, são medidas cruciais para promover uma boa saúde óssea e prevenir complicações futuras.

 

Recomendações clínicas para a ingestão de nutrientes importantes para a saúde óssea na infância

 

O cálcio é um nutriente essencial para o desenvolvimento adequado dos ossos e é obtido principalmente por meio da alimentação, com destaque para produtos lácteos, além de outras fontes vegetais.

 

Segundo artigo publicado pelo “Institute of Medicine”, recomenda-se a ingestão diária de 700mg para crianças de 1 a 3 anos, 1.000mg para crianças de 4 a 8 anos, 1.300mg para crianças e adolescentes de 9 a 13 anos, 1.300mg para adolescentes de 14 a 18 anos.

 

Caso a quantidade adequada de cálcio não seja alcançada por meio da dieta, a suplementação se faz necessária. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Endocrine Society recomendam a suplementação de vitamina D com uma dose de 400 UI durante o primeiro ano de vida. Para o restante da infância, caso haja necessidade de suplementar a vitamina D, as necessidades diárias variam entre 600 e 1.000 UI, administradas na forma de colecalciferol ou ergocalciferol, para pessoas de 1 a 18 anos.

 

É importante salientar que valores acima de 20 ng/mL são considerados desejáveis para a população saudável, indicando níveis adequados de vitamina D no organismo.

“Garantir uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D desde a infância é fundamental para promover a saúde óssea ao longo da vida. Portanto, é essencial que os pais e profissionais de saúde estejam cientes das recomendações e orientações fornecidas pelas sociedades médicas, a fim de garantir o crescimento saudável e o desenvolvimento ósseo adequado das crianças e adolescentes”, finaliza a médica

 


ABRASSO - Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo,
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