Saudosista que sou, abro essa conversa com
você voltando no tempo. Estamos em 1994. A alegria contagia milhões de
brasileiros. Em uma emocionante disputa de pênaltis, o Brasil vence a Itália e
conquista seu quarto título mundial.
Bons momentos aqueles. Poucos recordam, mas fora de campo também fomos campeões: depois de campanhas de vacinação em massa contra a poliomielite (com a Vacina Oral Poliomielite, VOP), nosso país recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde, Opas, o certificado de eliminação do vírus.
Tornavam-se cada vez mais distantes,
diferentemente de décadas anteriores, os tristes casos de crianças e adultos
com membros paralisados pela pólio.
Hoje, passadas três décadas, lamentavelmente
corremos o risco de volta dessa e de outras doenças. Com a queda na cobertura
vacinal, somos assombrados pelos fantasmas do sarampo, da meningite, da rubéola
e da difteria.
Segundo pesquisa divulgada na 24ª Jornada
Nacional de Imunizações, em 2022, 16% dos pais pensam ser desnecessário vacinar
os filhos contra doenças que já não estão em circulação. Um equívoco absurdo.
A pesquisa revela ainda que cerca de 3% dos
entrevistados não levaram as crianças para receber uma ou mais vacinas — por
medo da pandemia de Covid-19 ou por temerem a reação à imunização. O Governo
Federal aponta que praticamente todas as nossas coberturas vacinais estão
abaixo da meta.
Os números são preocupantes. Nós, médicos e
demais trabalhadores da saúde, sabemos e enfatizamos que males já eliminados podem
surgir novamente quando não nos vacinamos com regularidade.
Além do risco do retorno de enfermidades
erradicadas, continuamos vivendo uma guerra contra a Covid-19. Somamos quase
700 mil mortes desde 2020. Vacinar-se, um ato de respeito a si e ao próximo, é
uma das maneiras de evitar que mais pessoas adoeçam e até mesmo partam.
Podemos e devemos nos planejar. O Ministério
da Saúde divulgou, no fim de janeiro, o cronograma do Programa Nacional de
Vacinação de 2023. Embora o foco continue sendo o reforço contra a Covid-19,
também está na ordem do dia o combate a outras doenças imunopreveníveis.
As primeiras etapas do cronograma serão
contra a Covid-19: reforço com a vacina bivalente, intensificação da vacinação
entre a população com mais de 12 anos, e entre crianças e adolescentes. Depois
virá a vacinação de Influenza e a multivacinação de poliomielite e sarampo nas
escolas.
Como crianças são mais vulneráveis e dependem
da responsabilidade dos adultos, foram criadas estratégias de mobilização
escolar, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Estudantes, pais e responsáveis
serão informados sobre a necessidade de levar à escola a Caderneta de Vacinação
para ser avaliada. Afinal, sequelas, óbitos, transmissão de enfermidades para
outros indivíduos são riscos que devem ser levados muito a sério.
Ressalto, por fim, que dor, vermelhidão local, febre e incômodo muscular não são bichos de sete cabeças, mas sim reações comuns após as vacinas — vão embora em um ou dois dias. É preciso pensar na coletividade, sensibilizar as pessoas e combater a desinformação que se espalha rapidamente e faz com que muitos contestem erroneamente as evidências científicas.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
Nenhum comentário:
Postar um comentário