Quais os sinais e
como é o tratamento à condição incomum que afeta audição, olfato, paladar,
visão e tato?
Uma doença pouco comum que
acomete sentidos básicos como audição, olfato, paladar, visão e tato, o
transtorno do processamento sensorial (TPS) é definido como uma condição em que
os múltiplos “inputs sensoriais” para o sistema nervoso central (SNC) não são
adequadamente organizados e processados, resultando em respostas inadequadas
para as demandas do ambiente e do meio social. Mas quais são os sinais e como é
realizado diagnóstico e tratamento?
Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra do Hospital
Paulista, explica que o diagnóstico do transtorno do processamento sensorial é
clínico. “Os profissionais habilitados e habituados a utilizar testes e/ou
questionários padronizados e escalas observacionais especializadas para TPS são
os responsáveis pelo diagnóstico.”
Segundo ele, a observação de brincadeiras em consultório, set terapêutico e/ou
as observações de atividades funcionais em ambientes sociais (escola, domicílio
etc.) por esses profissionais podem contribuir para o diagnóstico.
O especialista afirma que existem sinais e sintomas que podem aparecer em
diversas etapas da vida e podem servir de alerta para observação e possível
investigação. Conforme o médico, por se tratar de “dificuldade” do SNC em
receber e processar as informações sensoriais recebidas, os sintomas podem
variar de acordo com a modalidade sensorial ou as modalidades sensoriais
acometidas e sua intensidade.
“Assim, desconforto grave induzido por sons específicos ou não, luzes, cheiros,
sabores e/ou textura de alimentos são alguns dos sintomas mais frequentes. Além
disso, intolerância ao contato com determinados tecidos e materiais utilizados
diariamente, para higiene por exemplo, ou temperatura do ambiente são alguns
exemplos de sintomas experimentados”, explica.
Por outro lado, segundo o médico, a busca por sensações, como ruídos intensos
(volume alto) e perturbadores, inquietação e impulsividade, também podem ter sua
causa em alterações de processamento sensorial, sugerindo diminuição das
percepções sensoriais e/ou propriocepção.
“Essas pessoas podem manifestar ‘imprecisão motora’, incluindo execução de
movimentos descoordenados e/ou lentos, resultando em quedas constantes de seus
utensílios e caligrafia ruim, entre outros problemas, dando a impressão de um
sujeito desajeitado”, destaca.
Em bebês e crianças pequenas, de acordo com o médico, podem ser observados
problemas para comer ou dormir, manifestados como desconforto com suas roupas,
não conseguir acalmar-se ou resistir a abraço.
“Frequentemente, exploram pouco o ambiente e resistem a brincadeiras com
objetos e brinquedos, o que pode, com certa frequência, acarretar dificuldades
na aquisição de linguagem”, ressalta.
Dr. Ferlin reitera que, em pré-escolares, além desses comportamentos, podem
demonstrar dificuldades em fazer amigos, ter acessos de raiva frequentes e
longos, ser desajeitado (muitas vezes, por dificuldade na linguagem expressiva
e nas relações com o outro).
“Em crianças em idade de frequentar o ensino fundamental, podem também somar-se
distração e dificuldade de aprendizado. Nesta fase, ela pode ser capaz de
expressar sensibilidade extrema a toques, ruídos e cheiros. Por outro lado, a
criança pode demonstrar o oposto, como insensibilidade musculo-cutânea, podendo
ser motoramente inábil (desajeitado) por alterações na percepção espacial do
corpo.”
Adolescentes e adultos, por sua vez, podem, no contexto dos sintomas já
mencionados, demonstrar baixa autoestima, evitando tarefas novas e desafios
para evitar frustrações; deixar tarefas incompletas; apresentar dificuldade em
manter o foco nas tarefas realizadas, deixando-as muitas vezes incompletas; e
lentidão a inabilidades motoras mais ou menos evidentes, evidenciando-se
desmotivação.
Diagnóstico e tratamento
Para o diagnóstico do TPS, é necessária uma avaliação individual pela equipe
multidisciplinar, composta por especialistas como o otorrinolaringologista, que
avalia as integridades sensoriais auditivas, gustativas, olfativas e tátil
sinestésicas dos órgãos fono-articulatórios; o foniatra, que avalia, além
dessas, a comunicação humana e seus distúrbios quando esses indivíduos
apresentam dificuldades em se comunicar (compreensão e expressão); o
neurologista, que avalia o sistema nervoso central; e especialistas
não-médicos, como o terapeuta ocupacional, que tem lugar de destaque no manejo
terapêutico da condição.
Dr. Ferlin afirma que algumas pessoas que preenchem critérios diagnósticos para
certos transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro
Autista (TEA) ou o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH), mas não restrito apenas a essas condições, podem apresentar sinais e
sintomas com o mesmo padrão dos apresentados no TPS.
“Podem também estar presentes em alguns transtornos de comportamento, problemas
de ansiedade e intolerâncias alimentares, entre outros. Por esse motivo, muitos
especialistas discutem se o TPS pode ser considerado um distúrbio identificável
específico ou trata-se de sintomas que aparecem em outros transtornos. Nesse
sentido, há a necessidade do diagnóstico diferencial pela equipe médica”,
detalha.
Conforme o especialista, o tratamento, em geral, consiste em terapia, realizada
pelo terapeuta ocupacional, buscando aumentar a capacidade do indivíduo
organizar e processar adequadamente os “inputs sensoriais”, segundo seu quadro
clínico.
“Estudos ainda devem verificar a efetividade de diferentes formas de terapia de
integração sensorial, e o paciente e/ou seus responsáveis são orientados sobre
essas limitações. Mas orientações sobre tipo de vestuário e tecido utilizado,
bem como tratamento da acústica e iluminação dos ambientes, podem ser úteis.
Outros membros da equipe multidisciplinar, como fonoaudiólogos, psicólogos e
fisioterapeutas, podem contribuir na terapia destes pacientes. Com os devidos
cuidados e orientações, ele é capaz de se adaptar ao seu ambiente social”,
finaliza.
Hospital Paulista de Otorrinolaringologia
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