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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Entenda o transtorno do processamento sensorial

Quais os sinais e como é o tratamento à condição incomum que afeta audição, olfato, paladar, visão e tato?


Uma doença pouco comum que acomete sentidos básicos como audição, olfato, paladar, visão e tato, o transtorno do processamento sensorial (TPS) é definido como uma condição em que os múltiplos “inputs sensoriais” para o sistema nervoso central (SNC) não são adequadamente organizados e processados, resultando em respostas inadequadas para as demandas do ambiente e do meio social. Mas quais são os sinais e como é realizado diagnóstico e tratamento?

Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista, explica que o diagnóstico do transtorno do processamento sensorial é clínico. “Os profissionais habilitados e habituados a utilizar testes e/ou questionários padronizados e escalas observacionais especializadas para TPS são os responsáveis pelo diagnóstico.”

Segundo ele, a observação de brincadeiras em consultório, set terapêutico e/ou as observações de atividades funcionais em ambientes sociais (escola, domicílio etc.) por esses profissionais podem contribuir para o diagnóstico.

O especialista afirma que existem sinais e sintomas que podem aparecer em diversas etapas da vida e podem servir de alerta para observação e possível investigação. Conforme o médico, por se tratar de “dificuldade” do SNC em receber e processar as informações sensoriais recebidas, os sintomas podem variar de acordo com a modalidade sensorial ou as modalidades sensoriais acometidas e sua intensidade.

“Assim, desconforto grave induzido por sons específicos ou não, luzes, cheiros, sabores e/ou textura de alimentos são alguns dos sintomas mais frequentes. Além disso, intolerância ao contato com determinados tecidos e materiais utilizados diariamente, para higiene por exemplo, ou temperatura do ambiente são alguns exemplos de sintomas experimentados”, explica.

Por outro lado, segundo o médico, a busca por sensações, como ruídos intensos (volume alto) e perturbadores, inquietação e impulsividade, também podem ter sua causa em alterações de processamento sensorial, sugerindo diminuição das percepções sensoriais e/ou propriocepção.

“Essas pessoas podem manifestar ‘imprecisão motora’, incluindo execução de movimentos descoordenados e/ou lentos, resultando em quedas constantes de seus utensílios e caligrafia ruim, entre outros problemas, dando a impressão de um sujeito desajeitado”, destaca.

Em bebês e crianças pequenas, de acordo com o médico, podem ser observados problemas para comer ou dormir, manifestados como desconforto com suas roupas, não conseguir acalmar-se ou resistir a abraço.

“Frequentemente, exploram pouco o ambiente e resistem a brincadeiras com objetos e brinquedos, o que pode, com certa frequência, acarretar dificuldades na aquisição de linguagem”, ressalta.

Dr. Ferlin reitera que, em pré-escolares, além desses comportamentos, podem demonstrar dificuldades em fazer amigos, ter acessos de raiva frequentes e longos, ser desajeitado (muitas vezes, por dificuldade na linguagem expressiva e nas relações com o outro).

“Em crianças em idade de frequentar o ensino fundamental, podem também somar-se distração e dificuldade de aprendizado. Nesta fase, ela pode ser capaz de expressar sensibilidade extrema a toques, ruídos e cheiros. Por outro lado, a criança pode demonstrar o oposto, como insensibilidade musculo-cutânea, podendo ser motoramente inábil (desajeitado) por alterações na percepção espacial do corpo.”

Adolescentes e adultos, por sua vez, podem, no contexto dos sintomas já mencionados, demonstrar baixa autoestima, evitando tarefas novas e desafios para evitar frustrações; deixar tarefas incompletas; apresentar dificuldade em manter o foco nas tarefas realizadas, deixando-as muitas vezes incompletas; e lentidão a inabilidades motoras mais ou menos evidentes, evidenciando-se desmotivação.



Diagnóstico e tratamento

Para o diagnóstico do TPS, é necessária uma avaliação individual pela equipe multidisciplinar, composta por especialistas como o otorrinolaringologista, que avalia as integridades sensoriais auditivas, gustativas, olfativas e tátil sinestésicas dos órgãos fono-articulatórios; o foniatra, que avalia, além dessas, a comunicação humana e seus distúrbios quando esses indivíduos apresentam dificuldades em se comunicar (compreensão e expressão); o neurologista, que avalia o sistema nervoso central; e especialistas não-médicos, como o terapeuta ocupacional, que tem lugar de destaque no manejo terapêutico da condição.

Dr. Ferlin afirma que algumas pessoas que preenchem critérios diagnósticos para certos transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas não restrito apenas a essas condições, podem apresentar sinais e sintomas com o mesmo padrão dos apresentados no TPS.

“Podem também estar presentes em alguns transtornos de comportamento, problemas de ansiedade e intolerâncias alimentares, entre outros. Por esse motivo, muitos especialistas discutem se o TPS pode ser considerado um distúrbio identificável específico ou trata-se de sintomas que aparecem em outros transtornos. Nesse sentido, há a necessidade do diagnóstico diferencial pela equipe médica”, detalha.

Conforme o especialista, o tratamento, em geral, consiste em terapia, realizada pelo terapeuta ocupacional, buscando aumentar a capacidade do indivíduo organizar e processar adequadamente os “inputs sensoriais”, segundo seu quadro clínico.

“Estudos ainda devem verificar a efetividade de diferentes formas de terapia de integração sensorial, e o paciente e/ou seus responsáveis são orientados sobre essas limitações. Mas orientações sobre tipo de vestuário e tecido utilizado, bem como tratamento da acústica e iluminação dos ambientes, podem ser úteis. Outros membros da equipe multidisciplinar, como fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas, podem contribuir na terapia destes pacientes. Com os devidos cuidados e orientações, ele é capaz de se adaptar ao seu ambiente social”, finaliza.



Hospital Paulista de Otorrinolaringologia

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