Neurologista explica o porquê é tão comum confundir
as doenças antes de um diagnóstico
Perceber
os primeiros sinais de que algo está errado com o seu corpo pode abrir um leque
para muitas suposições, principalmente quando se trata de sintomas relacionados
à coordenação motora e à capacidade de autonomia. Mas, nem tudo é o que parece.
O Tremor Essencial é um distúrbio de movimento cinco vezes mais comum do que a
doença de Parkinson, por exemplo, e mesmo assim, ambos continuam sendo muito
confundidos.
Para
a Dra. Inara Taís de Almeida, neurologista e membro titular da Academia
Brasileira de Neurologia, algumas doenças se tornam mais conhecidas do que
outras e assim as pessoas acabam associando seus sintomas mais facilmente a
elas.
“As
doenças neurológicas podem causar desconforto e até um certo medo nos
pacientes. É por isso, também, que se tornou muito natural chegarem ao
consultório trazendo suposições sobre o seu diagnóstico, ainda mais agora em
que vivemos na era da informação. No entanto, quando falamos de Parkinson e de
Tremor Essencial a grande diferença está em como essas doenças agem no cérebro,
fazendo com que uma seja degenerativa e progressiva enquanto a outra não.
Distinguir isso, leva o profissional a condutas de tratamento específicas”,
explicou.
O
Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, que afeta a
capacidade dos neurônios de produzirem dopamina suficiente para gerar uma boa
transmissão das correntes nervosas ao corpo. É justamente a dopamina que ajuda
na regulação dos movimentos voluntários. Sendo assim, gradativamente, o
paciente começa a perceber alguns sintomas como: movimentos mais lentos,
rigidez dos músculos, instabilidade postural, falhas na dicção e os famosos
tremores. Ele atinge com maior frequência os homens a partir dos 60 anos, e,
apesar da causa ainda ser desconhecida, é possível saber como ele age e o que
se espera quanto a sua evolução.
Já
para casos de Tremor Essencial os prognósticos ainda não são bem definidos.
Isso porque, a medicina desconhece como ele afeta o cérebro. É uma doença que
abrange todos os tipos de desordem capazes de gerar um distúrbio neurológico de
movimento, podendo atingir tanto homens como mulheres na mesma proporção e se
manifestar em qualquer fase da vida independente da idade. Alguns pacientes,
por exemplo, sentem tremores tão leves que não interferem em sua rotina diária.
Em compensação, outros começam com tremores sutis que evoluem em amplitude e
frequência, impedindo atividades simples.
“Apesar
das duas doenças afetarem os movimentos causando tremores nas mesmas partes do
corpo como mãos, cabeça e membros inferiores, a principal diferença está em
notar quando esses tremores acontecem. Enquanto na doença de Parkinson os
tremores são mais frequentes e percebidos quando o paciente está em repouso, no
Tremor Essencial a intensidade piora durante a movimentação do corpo”,
esclareceu.
Outra
particularidade entre os distúrbios é que o Parkinson acarreta doenças
associadas como: depressão, insônia, disfunção da bexiga ou do intestino,
diminuição do olfato e a progressão da incapacidade de controlar ou iniciar um
movimento. Por outro lado, o Tremor Essencial pode piorar com o tempo,
principalmente, após os 50 anos de idade, mas não é capaz de gerar outras
doenças e nem de diminuir a expectativa de vida do portador.
O essencial em ambos os casos é sempre procurar por um neurologista, que indicará o tratamento mais assertivo conforme o diagnóstico, seja por meio de medicamentos, fisioterapia, estimulação cerebral ou cirurgia.
Dra. Inara Taís de Almeida - Neurologista e Neuroimunologista de São Paulo, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia. Graduação em Medicina pela Faculdade de Tecnologia e Ciências e residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Fellowship clínico (especialização) em Neuroimunologia no Ambulatório de Doenças Desmielinizantes na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. Instagram: @inara.neuro
Nenhum comentário:
Postar um comentário