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Em ata, o comitê informou ainda que as políticas fiscais anunciadas pelo governo, “se de fato adotadas”, podem reduzir os gastos públicos e diminuir a inflação
O Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central (BC) indicou preocupação com a deterioração das
expectativas de inflação de prazos mais longos e não descartou a possibilidade
de novas elevações da taxa Selic, juros básicos da economia, caso o processo de
desinflação não transcorra como esperado.
As informações foram divulgadas
nesta terça-feira, 7/02, na ata da última reunião do Copom, que aconteceu
semana passada. Na ocasião, o colegiado manteve a Selic em 13,75%. A taxa está
no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava nesse patamar.
“Não obstante a desaceleração
na margem [nos últimos meses], a inflação ao consumidor continua elevada. Os
componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que
apresentam maior inércia inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível
com o cumprimento da meta para a inflação, ainda que tenham apresentado alguma
moderação na margem”, diz o documento.
As projeções de inflação do
Copom são de 5,6% para 2023 e 3,4% para 2024. As projeções para a inflação de
preços administrados são de 10,6% para 2023 e 5% para 2024. No horizonte de
seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, a projeção
de inflação acumulada em 12 meses situa-se em 3,6%. “O comitê julga que a
incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o
usual”.
Por isso, o Copom adotou uma hipótese
de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2023 e 2024, além de taxa de
câmbio partindo de R$ 5,15 e preço do petróleo seguindo a curva de alta pelos
próximos seis meses e aumentando 2% ao ano posteriormente.
A previsão para 2023 está acima
do teto da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é de 3,25% para este ano, com
intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou
seja, o limite inferior é de 1,75% e o superior de 4,75%.
Já a projeção do BC para a
inflação de 2024 está acima do centro da meta prevista (3%), mas ainda dentro
do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
“O Copom optou pela manutenção
da taxa de juros, reforçando a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos
impactos acumulados a serem observados do intenso e tempestivo ciclo de
política monetária já empreendido. Assim, o comitê avaliou que, diante dos
dados divulgados, projeções e expectativas de inflação, balanço de riscos e
defasagens dos efeitos da política monetária já em território
significativamente contracionista, era apropriado manter a taxa de juros no
patamar de 13,75% ao ano”, diz a ata.
Em 2022, o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, fechou com uma
taxa de 5,79% acumulada no ano. A meta estava em 3,5%, com a mesma margem de
tolerância, e podia variar entre 2% e 5%.
POLÍTICA
FISCAL
Na ata, o Copom mostrou,
novamente, preocupação com o aumento de gastos públicos e seus efeitos para a
inflação. Por outro lado, acrescentou que o pacote anunciado pelo Ministério da
Fazenda para melhorar as contas, com aumento de arrecadação, pode atenuar os
riscos.
“A conjuntura, particularmente
incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta
em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política
monetária. O comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação
necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”,
diz a ata.
“Alguns membros notaram que a
execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o
risco fiscal e que será importante acompanhar os desafios na sua
implementação”, completou o BC.
Para o órgão, o cenário básico
para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos
de alta, além da elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e
estímulos fiscais, está uma maior persistência das pressões inflacionárias
globais e um hiato do produto (diferença entre o atual e o potencial) mais
estreito que o utilizado atualmente pelo comitê em seu cenário de referência,
em particular no mercado de trabalho.
Entre os riscos de baixa, o
Copom destaca uma queda adicional dos preços das commodities (produtos
primários) internacionais em moeda local, uma desaceleração da atividade
econômica global mais acentuada do que a projetada e a manutenção dos cortes de
impostos projetados para serem revertidos em 2023.
Para o Banco Central, no âmbito
doméstico, o conjunto de indicadores econômicos continua corroborando o cenário
de desaceleração do crescimento esperado pelo comitê, com queda nos indicadores
de confiança e arrefecimento nos indicadores de produção industrial, de
comércio e de serviços.
“O mercado de trabalho, que
surpreendeu positivamente ao longo de 2022, continua mostrando sinais de
desaceleração, com queda nas admissões líquidas do Novo Caged e relativa
estabilidade na taxa de desemprego, proveniente de recuos na população ocupada
e na força de trabalho”, diz a ata.
O Copom acrescentou ainda que a
estratégia de convergência da inflação para a meta, “sem prejuízo de seu
objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços”, também implica
suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno
emprego.
PIORA DAS
EXPECTATIVAS
O BC destacou três razões que
podem ter contribuído para a piora das expectativas de inflação. A primeira
delas é uma possível percepção de leniência do próprio Banco Central com as
metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Nesse sentido, o BC
avaliou que “é necessário se manter ainda mais atento na condução da política
monetária para reancorar as expectativas e assim reduzir o custo futuro da
desinflação”.
Além disso, uma política fiscal
expansionista pode pressionar a demanda agregada ao longo do horizonte de
projeções. “O comitê pondera que estímulos de demanda devem ser avaliados
considerando o estágio do ciclo econômico e o grau de ociosidade na economia,
sendo a política monetária a variável de ajuste macroeconômico utilizada para
mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal”, avaliou.
Por fim, o BC avaliou a
possibilidade de alteração das metas de inflação já definidas, que estaria sendo
considerada pela equipe econômica. Entretanto, avaliou que conduz sua política
com base no que está estipulado.
“Mais importante do que a
análise das motivações para a elevação das expectativas, o comitê enfatiza que
irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas”, completou.
Para alcançar a meta de
inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de
juros, a Selic. Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é
conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros
mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais
altas também podem dificultar a expansão da economia.
Além da Selic, os bancos
consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos
consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Quando o Copom diminui a Selic,
a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao
consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade
econômica.
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