Nos últimos dias, foi descoberto um dos maiores casos de “rombo contábil” envolvendo uma grande empresa brasileira, o caso da Americanas. Após a corporação anunciar que encontrou inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões, o que causou uma grande repercussão e uma queda de mais de R$ 8 bilhões no valor de mercado da companhia. Depois de alguns dias, a empresa informou que sua dívida é na verdade de cerca de R$ 43 bilhões e que possui 16.300 credores, fato esse que a fez entrar com um processo de recuperação judicial.
A partir do momento
em que o caso foi revelado, até agora, tenta-se encontrar um motivo pelo qual
essas inconsistências tenham ocorrido. Desde o desvio de verbas, a má
administração de dívidas ou a falha humana. No entanto, um dos motivos
levantados que mais me chamou a atenção foi a de atribuir o problema à
implementação por parte da empresa de metas muito ambiciosas, com o que eu não
posso concordar. Até porque, não podemos tirar a responsabilidade pessoal -
individual - pelas atitudes tomadas pelos administradores.
Sendo as metas
ambiciosas, o plano para alcançá-las deveria conter os detalhamentos para isso:
o que fazer; como fazer; quem envolver; - como mobilizar os recursos
necessários, como contornar possíveis problemas; como alterar a rota diante de
problemas externos, como tivemos recentemente a pandemia da Covid. Se
você define a meta como “vender” para os seus colaboradores, a única coisa que
buscarão fazer é “vender”, independente da forma. É como dizia o físico e
consultor de administração israelita, Eliyahu M. Goldratt, “diga-me como me
medes que direi como me comporto”. Por isso, acredito que grandes corporações
como a Americanas, não criam metas apenas por criá-las. Certamente
determinam um objetivo e traçam um roteiro.
Tenho bastante
experiência em sistemas de metas, de gestão e execução da estratégia,
incluindo a ferramenta de gestão por OKRs - Objectives and Keys Results,
Objetivos e Resultados Chaves - que, dentre suas premissas traz uma clara
recomendação de que não seja usada apenas uma única métrica como indicador de
sucesso, deve-se usar pelo menos duas. Falando de maneira ampla, além da meta
objetiva - o resultado de negócio - pode, ou melhor, deve se criar junto uma
meta mais qualitativa e subjetiva - o "como" atingir aquela meta, se
vivemos os valores da empresa, respeitamos sua cultura, atuamos em parceria com
o colega do lado etc. Juntas, essas metas, a mais objetiva e a subjetiva, se
contrabalanceiam. Além dessas duas metas, incluo outro ingrediente fundamental:
a ambição.
Quando se define
metas em uma empresa, mesmo que sejam ambiciosas, é importante que todos os que
fazem parte do processo para que ela seja concluída, estejam, se
possível, no momento da elaboração e, principalmente, saibam o porquê de
cada processo, para que não seja a meta pela meta. No caso das Americanas,
podemos apontar que o sistema de metas pode estar falho, ou no mínimo a execução
do seu processo, mas não que isso seja o fator pelo qual levou a este problema.
E por isso que, ainda
é cedo para encontrar um culpado único, mas sim, uma somatória de erros, porém,
jogar a responsabilidade única e exclusivamente na definição de metas ambiciosas,
desvia o foco da conversa que está na atitude das pessoas envolvidas neste
processo. O que seria um erro.
Pedro Signorelli - um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKR. Já movimentou com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas. http://www.gestaopragmatica.com.br/
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