Com 15.412 novos casos de HIV e 79.587 de sífilis registrados no primeiro semestre de 2022 no Brasil, CEJAM reforça suas campanhas
Considerado pelas autoridades de saúde como o
período de maior incidência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no
ano, o Carnaval se aproxima com um alerta para o aumento das exposições de
risco de contaminação por meio das relações sexuais desprotegidas.
Conforme a infectologista Lilian Branco, que atua
no Hospital Dia Campo Limpo, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e
Pesquisa “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de
São Paulo, as festas de Carnaval propõem o extravasamento social, associando
aglomerações e estímulos que incluem, muitas vezes, o consumo em excesso de
bebidas alcoólicas e outras drogas, cujos efeitos levam muitas pessoas a
reduzirem as preocupações com a saúde de maneira geral.
“Esse combo faz parte de um cenário típico da nossa
cultura, mas dificulta o combate aos números de infecções que continuam em alta
no país”, frisa.
De acordo com o mais recente Boletim
Epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados mais de
15 mil novos casos de HIV/Aids no país somente no primeiro semestre de 2022. No
caso da sífilis adquirida, o número foi superior a 79 mil neste mesmo período.
Vale destacar, ainda, que, em ambos os casos, o problema tem maior incidência
entre os homens.
Além dessas, as infecções como herpes genital, HPV,
gonorreia, clamídia, tricomoníase e hepatites virais dos tipos B e C estão
entre as mais comuns e podem ser evitadas com métodos preventivos.
A especialista ressalta que as IST’s podem ser
causadas por vírus, bactérias, parasitas ou outros micro-organismos, tendo como
principal meio de transmissão o contato sexual, tanto oral como vaginal ou
anal, sem proteção, com uma pessoa infectada.
No entanto, conforme aponta um levantamento
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019,
59% dos entrevistados não usam preservativo em suas relações e cerca de 17%
utilizam apenas em algumas situações.
“Embora seja um método bastante simples e
acessível, muitas pessoas ainda não se conscientizaram sobre sua importância, o
que prova que temos que atuar fortemente com campanhas e ações práticas visando
alcançar toda a população, aprimorando nossa comunicação em prol da redução
desses números”, destaca.
Segundo Dra. Lilian, a falsa ideia de que o
tratamento para essas infecções é simples e, por isso, não há maiores riscos em
dispensar o uso do preservativo, é um grande problema.
“IST’s podem ser potencialmente perigosas, sobretudo porque algumas podem não apresentar sintomas inicialmente, o que contribui para a demora do diagnóstico. Além disso, algumas dessas infecções podem evoluir tornando-se doenças crônicas, gerando complicações em longo prazo”, alerta.
CAPS AD
Para Maria Carolina de Raphael Nogueira, gerente do (Centro de Atenção
Psicossocial para Álcool e outras Drogas) CAPS AD III Jardim Ângela,
administrado pelo CEJAM em parceria com a Prefeitura de São Paulo, quando o
problema está relacionado ao abuso de álcool e outras drogas, os danos podem
impactar severamente a população neste período.
A profissional destaca que, após o Carnaval, é
observado um aumento na procura por atendimento, bem como a piora no quadro dos
pacientes que já estão em acompanhamento pelo CAPS AD. “Para essas pessoas, o
Carnaval é uma época de risco, uma vez que se torna muito forte o apelo a
festas, bebidas e diversão sem limites”, salienta.
Para combater este cenário, os especialistas do
CAPS AD atuam de forma preventiva junto à comunidade para esclarecer sobre os
riscos relacionados ao uso intenso de álcool e outras drogas, dando orientações
e realizando ações de redução de danos, tanto com seus pacientes como com a
população nos entornos.
O CAPS AD é um serviço especializado de saúde
mental da rede pública, destinado ao tratamento de quadros graves de uso
abusivo de álcool e outras drogas. Atualmente, a cidade de São Paulo conta com
95 CAPS, sendo 31 deles para tratamento do uso abusivo de Álcool e Drogas (AD)
e 64 (32 Infanto-juvenis e 32 Adultos) para o tratamento de transtornos
psiquiátricos em geral.
Maria Carolina explica que, para ser atendido, não
é necessário encaminhamento de outro profissional, basta comparecer à unidade
mais próxima. A equipe multidisciplinar é formada por psicólogos, enfermeiros,
terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, educadores físicos,
farmacêuticos, técnicos em enfermagem, técnicos em farmácia, psiquiatras e
clínicos gerais, além dos Agentes Redutores de Danos, que são profissionais
treinados para realizar abordagem aos pacientes e população em geral, com foco
na redução de riscos e danos como um todo.
Com um projeto alinhado aos preceitos da Luta
Antimanicomial, os serviços são prestados ao paciente em liberdade.
“Na unidade Jardim Ângela, por exemplo, proporcionamos atividades individuais e
grupais terapêuticas de diversas naturezas elaboradas pela equipe multi. Alguns
pacientes vêm para participar de ações pontuais, outros passam o dia conosco.
Há também aqueles que necessitam de alguns dias de internação, porém, o foco do
tratamento é sempre com o paciente inserido no seu meio social”, detalha.
A psicóloga Rosiane Lopes da Silva, que também atua
no CAPS AD III, lembra que o Carnaval não deve ser marcado como um evento
gerador de problemas à saúde e à segurança da população.
Segundo a especialista, o mecanismo de ação de
substâncias, principalmente das bebidas alcoólicas, que atuam no córtex
pré-frontal diminuindo o juízo crítico, o nível de atenção, o pragmatismo entre
outros efeitos, aumentam os riscos para as IST’s. Nesse sentido, toda ação de
prevenção e conscientização é bem-vinda, como, por exemplo, ofertar água
potável gratuita nos locais onde há festas de rua, distribuição de
preservativos, banners com informações sobre o respeito ao corpo do outro etc.
“Também temos que, cada vez mais, buscar o engajamento da população para que a
folia seja um momento de alegria e harmonia. E isso é possível quando mantemos
em mente o autocuidado, preservando a nós e aos demais para que possamos curtir
muitos e muitos Carnavais sem danos”, finaliza.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João
Amorim”
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