No Brasil, segundo
o IBGE, mais de 10 milhões de pessoas sofrem de deficiência auditiva
Responsável pelo desenvolvimento da fala e da linguagem, a audição é um dos sentidos mais complexos do corpo humano. Ela possibilita, entre tantas coisas, a interação social entre amigos e familiares. No entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 500 milhões de pessoas com deficiência auditiva no mundo.
Apenas no Brasil são mais de 10 milhões – número que equivale a 5% da população nacional, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Destes, aproximadamente 2,7 milhões possuem surdez profunda, ou seja, não escutam absolutamente nada.
Para chamar a atenção de todos sobre os desafios e conquistas da comunidade surda, no início de 1880 foi criada campanha Setembro Azul, uma ação de visibilidade à causa.
A otorrinolaringologista Bruna Assis, do Hospital Paulista, alerta para a importância da família na inclusão das crianças surdas à sociedade. Conforme a médica, mantê-las em convivência social é a melhor maneira de conseguir um bom desenvolvimento ao longo da vida.
“Não se deve nunca isolar esse indivíduo do convívio escolar ou excluí-lo de atividades diárias com familiares, ou até mesmo com outras pessoas surdas. A falta de contato com adultos que compartilhem uma língua pode significar uma desvantagem no desenvolvimento educacional.”
A principal dificuldade relatada pelas famílias no convívio com uma criança surda, de acordo com a Dra. Bruna, está relacionada à comunicação, já que ela acarreta dificuldades de compreender as necessidades e os problemas de socialização.
A médica afirma que é após o diagnóstico que se iniciam as dificuldades de comunicação, bem como os bloqueios de compreensão pela ausência da linguagem comum. Além disso, ela explica que ainda existe a não-aceitação da surdez, o que ocorre pela falta de informações dos pais.
“A deficiência auditiva ainda é uma situação complexa para a família ouvinte, podendo tornar o núcleo cultural familiar um espaço de exclusão para a criança surda”, destaca.
Conforme a especialista, a família desempenha um significativo papel social e afetivo. Por esse motivo, além da criança, os familiares também devem passar por acompanhamento e orientação, bem como pela aprendizagem da linguagem de sinais, facilitando o convívio entre eles.
“Para casos de mais de um filho, é importante manter a interação dos irmãos e integrá-los da mesma maneira na dinâmica familiar. Isso facilita a aceitação e um melhor relacionamento entre as crianças”, orienta.
Para detectar possíveis problemas de audição, as crianças passam, assim que nascem, por uma triagem neonatal auditiva, o Teste da Orelhinha, que, obrigatoriamente, é realizada ainda na maternidade ou no primeiro mês de vida – nos casos de bebês que não nascem em hospitalar.
Simples e indolor, sua execução é importante para
um possível diagnóstico precoce e início do tratamento.
Acompanhamento profissional
Segundo Dra. Bruna, todas as crianças que apresentam déficits auditivos já ao nascimento necessitam de avaliação médica e fonoaudiológica, ambas realizadas para tentar identificar causas e melhores condutas a serem tomadas, de acordo com cada situação.
“Em muitos casos, intervenções precoces como tratamentos clínicos, uso de aparelhos auditivos ou próteses auditivas implantáveis – dentre elas o implante coclear e próteses ancoradas ao osso – podem mudar a história do desenvolvimento auditivo e linguístico deste paciente.”
A médica reitera que, nos casos em que não se é possível proporcionar audição ao paciente, é imprescindível introduzi-lo ao aprendizado de libras. “A língua permite que ele seja inserido à sociedade, podendo se comunicar e se desenvolver com melhor qualidade de vida.”
Tanto para os que não ouvem nada como aos que conseguem alcançar algum grau auditivo, o acompanhamento multidisciplinar é indispensável. Conforme Dra. Bruna, essas crianças não dependem apenas da otorrinolaringologia, mas de fonoaudiólogos e psicólogos, profissionais capazes de garantir uma melhor qualidade de vida e a socialização destes pacientes.
“A periodicidade é individualizada e será
determinada pela demanda e necessidade de cada paciente. No entanto, as visitas
são muito importantes para um bom acompanhamento.”
Surdez evitável
A OMS estima que até 2050 o número de deficientes
auditivos chegará a 1 bilhão em todo o mundo. No entanto, muitos destes casos
podem ser evitados com alguns cuidados básicos e recomendações simples a serem
seguidas no dia a dia.
Segundo a especialista, os pais precisam tratar corretamente as infecções de
ouvido de seus filhos. “Quando surgir qualquer tipo de problema, é importante
buscar um otorrino o quanto antes.”
A médica também alerta para o risco de hábitos
diários, como o som excessivamente alto e o uso de hastes flexíveis para a
limpeza das orelhas.
Sinais de alerta
Por fim, Dra. Bruna recomenda que as crianças façam uma consulta na infância com o otorrinolaringologista e, depois, sigam a programação passada pelo especialista. A médica, listou alguns sintomas que podem servir de alerta para a necessidade de uma visita ao especialista e que valem para todas as faixas etárias:
- Falar
muito alto;
- Pedir
para repetir o que foi dito e falar com frequência a expressão "o
que?”;
- Não
responder quando chamado;
- Assistir
TV ou ouvir rádio com volume muito alto;
- Ter
a sensação de que ouve, mas não entende;
- Perceber o aparecimento de zumbido.
“Comportamentos associados à desatenção, atraso na
aquisição da fala, baixo desempenho escolar e dificuldades no aprendizado
também podem indicar a existência de algum problema auditivo. É necessário não
negligenciar nenhum sintoma, caso contrário, tanto a vida da criança como a
vida da família podem ser modificadas para toda a vida”, finaliza.
Hospital Paulista de Otorrinolaringologia
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