Em
agosto, porcentual de lares com dívidas atingiu 76,6%
O endividamento das famílias paulistanas segue crescendo. Em agosto, a
porcentagem de lares com dívidas marcou um novo recorde para a série histórica
da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC). O
levantamento, realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado de São Paulo (FecomercioSP), indica que o porcentual chegou a 76,6%.
Há um ano, esta parcela era de 67,2%. Em números absolutos, são 3,08 milhões de
famílias com algum tipo de dívida (400 mil a mais, no contraponto anual).
A maior parcela das dívidas, mais uma vez, está concentrada no cartão de
crédito (83,1%), seguido pelo carnê (16,5%) e pelo crédito pessoal (12,3%).
Embora menor em relação aos demais, este último atingiu o maior patamar em
quatro anos. A elevação indica que os consumidores estão buscando a modalidade
para pagar compromissos do cotidiano, evitando um crédito mais caro (como o
cheque especial), ou até mesmo porque já ultrapassaram o limite do cartão.
Acompanhado o endividamento, a inadimplência voltou a subir, atingindo 24% dos
lares. O motivo, em ambos os casos, é a inflação elevada, que atrapalha os
ganhos conquistados com a melhoria do mercado de trabalho. Em agosto de 2021, o
porcentual de famílias inadimplentes era de 18,8%. Atualmente, 965 mil estão
com as contas em atraso – 215 mil a mais, em comparação ao mesmo período do ano
passado. O número dos lares que afirmam que não conseguirão pagar as dívidas em
atraso ficou tecnicamente estável (8,6%).
Quanto às faixas de renda, a pesquisa demonstra que houve recorde de
endividamento em ambas. Os porcentuais foram de 78,8%, para as famílias que
ganham até dez salários mínimos, e de 70,2%, para as que recebem acima desse
valor. Em relação à inadimplência, ambas subiram no mês, mas aqui a diferença é
mais significativa: de 28,7%, para o primeiro grupo, e de 11,7%, para o segundo.
Com mais condições de quitar os compromissos assumidos, os lares com maiores
rendimentos também estão mais propensos a consumir. A Intenção de Consumo das
Famílias (ICF) – outro indicador da FecomercioSP – cresceu 2,8% para o grupo
com mais de dez salários mínimos, ao passo que o grupo que recebe menos recuou
1,1%. O índice apontou 76,9 pontos, para o primeiro caso, e 96,4, para o
segundo.
Desconsiderando o recorte por renda, o ICF se manteve estável: 81,9 pontos,
crescendo 18,7% no contraponto anual. Já o Índice de Confiança do Consumidor
(ICC) avançou 1,1%, atingindo 106,8 pontos.
Para a FecomercioSP, os dados revelam um cenário bastante desafiador para as
famílias (sobretudo as de renda mais baixa). Entretanto, a tendência é de
inflação mais moderada até o fim do ano, ao mesmo tempo que o mercado de
trabalho deve se manter aquecido (o que leva à expectativa de aumento do poder
de compra dos consumidores).
Ainda assim, com os altos níveis de endividamento e inadimplência, os ganhos
iniciais serão destinados ao equilíbrio das contas e, posteriormente, ao
consumo. Desta forma, a expectativa é de melhora nos números da PEIC até
dezembro (não necessariamente na redução do endividamento, mas no recuo da
inadimplência, o que é importante para reduzir o gasto com juros e para ajudar
no ritmo de vendas no comércio).
Notas metodológicas
PEIC
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela FecomercioSP desde fevereiro de 2004. São entrevistados aproximadamente 2,2 mil consumidores na capital paulista. Em 2010, houve uma reestruturação do questionário para compor a pesquisa nacional da Confederação Nacional do Comércio (CNC), e, por isso, a atual série deve ser comparada a partir de 2010.O objetivo da PEIC é diagnosticar os níveis tanto de endividamento quanto de inadimplência do consumidor. O endividamento é quando a família possui alguma dívida. Inadimplência é quando a dívida está em atraso. A pesquisa permite o acompanhamento dos principais tipos de dívida, do nível de comprometimento do comprador com as despesas e da percepção deste em relação à capacidade de pagamento, fatores fundamentais para o processo de decisão dos empresários do comércio e demais agentes econômicos, além de ter o detalhamento das informações por faixa de renda de dois grupos: renda inferior e acima dos dez salários mínimos.
ICF
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente
pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no
município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual;
Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo;
Perspectiva de Consumo e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200
pontos, no qual abaixo de cem pontos é considerado insatisfatório, e acima de
cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente
de vendas do comércio, tornando possível, a partir do ponto de vista dos
consumidores e não por uso de modelos econométricos, ser uma ferramenta
poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como
para as instituições financeiras.
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado mensalmente pela
FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com aproximadamente 2,1 mil
consumidores no município de São Paulo. O objetivo é identificar o sentimento
dos consumidores levando em conta suas condições econômicas atuais e suas
expectativas quanto à situação econômica futura. Esses dados são segmentados
por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero (pessimismo total) a 200
(otimismo total). Sua composição, além do índice geral, se apresenta como:
Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e Índice das Expectativas do
Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um balizador para decisões
de investimento e para formação de estoques por parte dos varejistas, bem como
para outros tipos de investimento das empresas.
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