No cenário econômico atual, prejudicado pela pandemia do coronavírus, muitas empresas tiveram um severo impacto no seu fluxo de caixa, o que afetou consequentemente a capacidade destas empresas de recolherem os seus tributos e ensejou uma grande procura por formas alternativas para garantir a regularidade fiscal, tal qual a inclusão dos débitos fiscais em parcelamentos.
Na seara federal, o parcelamento simplificado está
previsto na Lei nº 10.522/02 e foi regulamentado pela Instrução Normativa nº
1.891/19. Neste ponto, esclareça-se que a Secretaria da Receita Federal do
Brasil criou um limite de valor (R$ 5 milhões) para os débitos fiscais
passíveis de inclusão no parcelamento simplificado, conforme art. 16 da
referida IN.
Em recente decisão proferida pela Justiça Federal
do Distrito Federal, o escritório Silveira Advogados obteve tutela de urgência
em prol de um contribuinte para afastar a limitação de R$ 5 milhões para a
inclusão de débitos fiscais na modalidade de parcelamento simplificado, sob o
argumento de que o ato normativo não poderia criar uma restrição, já que o
limite estabelecido não é previsto na Lei 10.522/2002.
O tema está em discussão no Repetitivo 997 da Lista
do Superior Tribunal de Justiça, cuja controvérsia diz respeito à
"legalidade do estabelecimento, por atos infralegais, de limite máximo
para a concessão do parcelamento simplificado, instituído pela Lei
10.522/2002"(ProAfR no REsp 1679536/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 02/10/2018, REPDJe 22/10/2018, DJe 16/10/2018).
De toda forma, destaca-se que o importante da
decisão proferida pela Justiça Federal do Distrito Federal foi que o juiz
entendeu que, apesar da Primeira Seção do STJ determinar a suspensão da
tramitação dos processos que versem sobre o tema em todo o território nacional,
isso não impede a análise do pedido de tutela de urgência, desde que presentes
simultaneamente os três requisitos: (i) a probabilidade do direito alegado;
(ii) o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo; e (iii) a ausência
de perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Nesse sentido, empresas que estão em situação
similar não precisam aguardar a decisão do repetitivo no STJ para garantir o
seu direito, de modo que podem questionar judicialmente a ilegal limitação
prevista no art. 16 da IN nº 1.891/19, possibilitando, com isso, a inclusão dos
débitos em parcelamento simplificado, ainda que o montante total parcelado
exceda R$ 5 milhões.
Caio Cesar Braga Ruotolo - advogado tributarista em São
Paulo. Associado do escritório Silveira Law. Membro do Conselho de Assuntos
Tributários da Fecomércio em São Paulo. Foi Coordenador Jurídico da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo. Foi membro da Comissão de Direito
Tributário da OAB/SP (2017/2018) e da Comissão de Assuntos Fiscais da CNI
(2014-2020). Pós Graduado com Especialização em Direito Empresarial pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Direito Constitucional pela Escola
Superior de Direito Constitucional e em Gestão de Recursos Humanos. Experiência
consultiva e contenciosa nas áreas de direito tributário, empresarial,
ambiental, aeronáutico e crimes contra a ordem tributária.
Eduardo Silveira - advogado tributarista em São Paulo e sócio do Silveira Advogados. Atua na área do contencioso tributário, de family office e gestão patrimonial. Master of Laws LLM em Direito Tributário pelo INSPER. Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade FIPECAFI Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras.
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