O país entrou em recessão técnica no terceiro trimestre, mesmo assim a inflação só aumenta. Economistas da ACSP fazem a leitura do cenário econômico atual
O resultado do PIB no
terceiro trimestre do ano aponta para uma “perda de fôlego” da atividade
econômica, já antecipada pelos resultados recentes do varejo e da indústria.
Essa desaceleração pode ser
explicada principalmente pela mistura de aumentos de custos de produção, que
provocam retração da oferta, e aceleração da inflação, que ao gerar perda de
poder aquisitivo e elevação dos juros básicos, derruba o gasto privado.
Esta combinação “perversa” é
conhecida como estagflação.
Em todo caso, a projeção para o ano de 2021, segundo o modelo econométrico desenvolvido pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP), e divulgado na última Reunião do Comitê de Avaliação da Conjuntura da ACSP, continua mostrando crescimento do PIB (4,6%), embora menos intenso do que o projetado anteriormente, e explicado, em sua maior parte, pela menor base de comparação do ano passado.
DESEMPENHO DA ECONOMIA
De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB)
caiu 0,1% durante o terceiro trimestre do ano, em relação aos três meses
anteriores, livre de efeitos sazonais. Trata-se da segunda queda consecutiva,
uma vez que o PIB sofreu contração de 0,4% entre abril e junho, configurando o
que se costuma chamar de “recessão técnica”.
Por outro lado, na comparação
com o mesmo período de 2020, apesar de ter havido crescimento de 4,0%, este foi
bastante menos intenso que o registrado para o segundo trimestre (12,3%),
refletindo tanto a “perda de fôlego” da atividade econômica, como também o
efeito de uma base de comparação relativamente menos fraca.
Na comparação com os
primeiros três meses do ano passado, o consumo das famílias, principal
componente da atividade econômica pelo lado do gasto, desacelerou em relação ao
segundo trimestre, ao apresentar crescimento de 4,2%, em decorrência da
diminuição da renda, do aumento dos juros e da baixa confiança do consumidor.
O investimento produtivo
(formação bruta de capital fixo) continuou a apresentar aumento expressivo
(18,4%), na mesma base de comparação, embora também exibindo desaceleração,
devido principalmente aos avanços da construção civil e da produção e importação
de máquinas e equipamentos.
Por sua vez, o consumo do
governo se elevou em 3,5%, devido às maiores despesas com saúde pública e
vacinação contra o coronavírus.
As exportações desaceleraram
fortemente, crescendo 4,0%, ante expansão de 14,1% registrada, na mesma base de
comparação, no segundo trimestre, refletindo principalmente os efeitos
negativos do fim da safra da soja e da crise hídrica.
O expressivo aumento das
importações, que alcançou 20,6% devido às compras no exterior de máquinas e
equipamentos e plataformas de petróleo, redundou em contribuição negativa do
setor externo como um todo para o PIB.
Pelo lado da oferta, houve
forte arrefecimento da produção industrial, que apresentou alta de apenas 1,3%,
explicada pelos aumentos das tarifas elétricas, provocados pela estiagem, além
dos maiores custos das matérias primas importadas, e da escassez de insumos.
O setor serviços, principal
segmento produtivo da economia, igualmente mostrou intensa desaceleração, ao
expandir-se em 5,8%, com destaque para os serviços prestados às famílias (bares
e restaurantes, salões de beleza, academias de ginástica, entre outros), devido
ao avanço da vacinação, à redução das restrições de mobilidade urbana e à
fraqueza da base de comparação de 2020.
O destaque negativo ficou por
conta da agropecuária, que sofreu forte queda, que alcançou a 9,0%, causada
fundamentalmente pelos problemas climáticos gerados pela crise hídrica.
IMAGEM: Pixabay
Da equipe de economistas da
Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
Fonte: https://dcomercio.com.br/categoria/economia/economia-brasileira-vive-quadro-de-estagflacao
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