Supermercados
registram alta de até 30% nos preços de produtos natalinos e reforçam a compra
de substitutos, como frango e peixes. Casa Santa Luzia enfrenta dificuldade na
importação de bacalhauIMAGEM: Andrei Bonamin/DC
A ceia de Natal
promete ser diferente em mais um ano de pandemia do novo coronavírus. A pressão
sobre os custos de produtos natalinos chegou a tal ponto que os supermercados
estão com dificuldade para comprar até o que não deveria faltar nas festas
natalinas, o peru.
Compradores de
redes como Dalben, de Campinas, e Tenda estão, neste momento, em intensa
negociação com fornecedores para colocar os produtos desta época do ano em suas
lojas.
Afinal, em um
ano de inflação e juros altos e salários corroídos, não faz sentido expor nas
gôndolas uma peça de peru de apenas dois quilos por R$ 100 ou mais.
Redes
consultadas pelo Diário do Comércio falam em aumentos de
preços de até 30% sobre 2020, no caso de produtos mais consumidos nesta época.
O quilo do
peru, vendido a R$ 21,98 no ano passado, deve subir para R$ 26,98 na rede
Dalben, de Campinas (SP). No caso do chester, o aumento deve ser R$ 20,98 para
R$ 25,98 o quilo.
Os reajustes
desta ordem também ocorrem no caso de produtos como panetones, tender e pernil.
Leitoa, aliás, está até em falta no mercado, de acordo com supermercadistas.
Com 95 anos, a
Casa Santa Luzia, que planeja as compras de Natal desde o início do ano,
informa que o peru está cerca de 20% mais caro neste ano.
O quilo da ave
deverá ser vendido a pouco menos de R$ 34. A loja costuma comercializar peças
maiores, de seis, oito, dez e até 14 quilos, o que é considerado um diferencial
no mercado.
Além da alta de
preços, a Santa Luzia enfrenta dificuldade na importação de bacalhau da
Noruega, um carro-chefe desta época.
Panetones
importados pela loja já chegaram e estão cerca de 11% mais caros neste ano,
assim como azeites e outros produtos vindos do exterior.
Se os preços
dos produtos não subiram nas fábricas, eles encareceram simplesmente por conta
dos reajustes dos fretes, de acordo com Ana Maria Lopes, diretora da loja.
Com 40 lojas no
Estado de São Paulo, rede de atacarejo Tenda informa que os reajustes de fornecedores
de produtos natalinos chegam a 30% na comparação com o ano passado.
“O peru vai ser
um produto ainda mais sofisticado neste Natal”, afirma Fausto Severini, membro
do conselho de administração da rede.
Os preços dos
alimentos em geral, diz ele, estão subindo devido à falta de insumos,
embalagens, e aumentos de preços do frete no mercado internacional e no Brasil.
Panetones,
espumantes e cervejas estão de 20% a 25% mais caros neste ano e faltam vidros
para algumas bebidas, o que leva as indústrias a trocar de embalagens, diz ele.
OS SUBSTITUTOS
Para driblar a
falta de produtos e os aumentos de preços, os supermercados estão correndo
atrás de produtos substitutos, como frango e peixes.
A rede Dalben
está negociando com a Alliz, empresa de processamento de aves do grupo
Zanchetta, a compra de frangos maiores, com apelo de Natal.
O quilo deste
frango deve chegar ao consumidor por pouco menos de R$ 20. “A ceia não será tão
farta como foi há alguns anos”, diz Fernanda Dalben, diretora de marketing da
rede.
Supermercadistas
também estão reforçando a compra de peixes, de acordo com Álvaro Furtado,
presidente do Sincovaga, sindicato do varejo de alimentos de São Paulo.
“Estamos diante
de um problema de difícil solução. Muitos varejistas vão apostar nos peixes que
são bons e até mais baratos que algumas aves e carnes bovinas”, afirma.
Para ajudar o
cliente nas compras, além de investir em produtos substitutos, a rede Dalben
vai trabalhar com kits promocionais de produtos.
Em uma
embalagem fechada, por exemplo, o cliente pode levar um chester, um espumante e
um panetone, por um preço mais acessível.
Marcas do
próprio supermercado também deverão ser reforçadas, já que custam menos do que
as líderes de mercado.
DESAFIOS
Um dos grandes
desafios dos supermercados neste final de ano, além de brigar com fornecedores
por preços menores, será planejar a compra de forma que não sobre produtos.
“É preciso ter
um mix que atenda a expectativa e o bolso do consumidor”, diz Fernanda.
“Não há dúvida,
o desafio vai ser mensurar a quantidade certa de produtos para cada loja”,
afirma Severini.
A rede Dalben
decidiu manter o mesmo volume de produtos do ano passado, apesar de ter uma
loja a mais neste ano.
A Casa Santa
Luzia, que restringiu as compras no ano passado, voltou a comprar volumes
adequados ao seu público de anos.
A rede Tenda
estima que até poderá crescer um pouco em relação a 2020, tudo porque o setor
de atacarejo ganhou mercado com a pandemia.
COMPETIÇÃO
ACIRRADA
A disputa por
preço baixo vai ser grande neste final de ano, diz Fernanda, como foi percebido
pela rede durante a Black Friday, evento que ocorreu na última sexta-feira.
“Nós fizemos
boas negociações com alguns produtos, como bebidas, só que em alguns
markeplaces os preços estavam lá embaixo. A competição está cada vez mais
acirrada.”
As vendas de
alimentos já não estão tão aquecidas como no auge das restrições para
circulação de pessoas, mesmo faltando menos de um mês para o Natal.
A rede Tenda
notou que, no último trimestre, as vendas deram uma esfriada, principalmente no
final do mês. “O salário não dura mais os 30 dias”, diz Severini.
A rede Dalben
observou que o consumidor está há alguns meses diminuindo a compra de
supérfluos e migrando de marcas mais caras para mais baratas.
SURPRESA
POSITIVA
Supermercadistas
ligados ao Sincovaga acreditam, porém, que podem até ter uma surpresa positiva
neste mês, de acordo com Furtado.
Na Black
Friday, diz ele, houve uma indicação de que o consumidor está direcionando os
gastos para o setor supermercadista em vez de comprar bens duráveis e
semi-duráveis.
O Sincovaga
estima, portanto, um crescimento de 10% a 12% nas vendas neste mês em relação a
dezembro de 2020.
“Os presentes,
provavelmente, deverão ser substituídos por gastos com alimentos e festas.”
Fátima Fernandes - Jornalista especializada em
economia e negócios e editora do site varejoemdia.com
Fonte: https://dcomercio.com.br/categoria/economia/com-tudo-caro-ate-o-peru-deve-ser-escasso-neste-natal
Nenhum comentário:
Postar um comentário