Depois de praticamente dois anos de pandemia, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação. Embora algumas áreas produtivas do país vejam uma ligeira melhora pós-pandêmica conforme a vacinação segue avançando, a maior parte do Brasil ainda sofre com problemas que envolvem a demanda dos consumidores, mas também o fluxo de componentes que não chega por parte dos fornecedores. Um desses setores é o mercado de veículos, principalmente os zero quilômetros.
E o impacto desse período de pausa pode ser sentido
não apenas em empresas que se relacionam diretamente com ele. Atualmente, o
setor automotivo brasileiro gera mais de 420 mil empregos diretos e é responsável
por nada menos que 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro.
Não à toa, vê-lo parado gera preocupação e consequências graves em outras áreas
da economia nacional.
Durante a pandemia de covid-19, o setor não apenas
parou de avançar, mas começou a regredir e apresentou o maior recuo de
crescimento desde 2015. A queda atingiu todos os tipos de negócios que envolvem
veículos: financiamentos, venda de carros novos e venda de carros usados. De
acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave) e a B3, em 2020 houve redução de 9,6%, 26,2% e 13,7% em cada uma
dessas modalidades, respectivamente.
A falta de componentes dos mais variados tipos foi
uma das responsáveis por esses resultados. A crise de chips eletrônicos e a
crise logística mundial dificultaram significativamente a produção e
distribuição de veículos zero quilômetro ao longo do último ano. Mas, a partir
do quarto trimestre de 2020, sinais de uma melhora ainda lenta começaram a
aparecer.
É claro que, quando o problema é grande, qualquer
reação mínima será um bom resultado, mas a percepção é de que há alguma
recuperação do setor neste ano. Em todo o primeiro semestre de 2021, os carros
zero registraram um aumento de 33%, enquanto os financiamentos de veículos
também subiram 26%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda
não se registra um crescimento significativo, mas esses são pequenos indícios
de que poderemos avançar no futuro.
Se o Brasil ainda depende muito do agronegócio,
outras áreas da economia se mostram igualmente vitais para o seu
desenvolvimento. Como o país privilegia estruturas de transporte para veículos
particulares, algumas novas opções podem ser uma saída para alavancar de uma
vez por todas o crescimento do setor. Uma delas é o mercado de veículos por
aluguel e por assinatura.
Entre abril e maio do ano passado foram registrados
7,7 milhões de acessos a 152 sites que oferecem esses serviços. Por sua vez, o
mesmo período deste ano mostrou 12 milhões de acessos a esses mesmos sites. Um
interesse que cresce à medida que o serviço começa a chegar a mais localidades,
com maior número de empresas trabalhando a modalidade e maior quantidade de
planos disponíveis para diferentes perfis de consumidores.
Embora a retomada ainda seja relativamente tímida,
em comparação ao tamanho do setor e ao que ele já se mostrou capaz de
movimentar em anos anteriores à pandemia, tendências como essa podem ser uma
saída viável para que, em breve, concessionárias, montadoras, locadoras e
outros players possam realmente voltar a ver seus negócios crescerem. Enquanto
isso não acontece, recursos como a digitalização do processo de compra e até
mesmo de financiamento de veículos continuam ganhando força com todos os
públicos desse mercado.
Outro fator que merece um olhar atento é o da
mudança no tipo de carro que os brasileiros estão dispostos a adquirir daqui em
diante. Com as discussões a respeito das mudanças climáticas fervilhando em
todo o mundo, espera-se que, cada vez mais, os usuários brasileiros comecem a
procurar modelos mais amigáveis com o meio ambiente, por exemplo os veículos
elétricos ou híbridos, em detrimento daqueles que usam combustíveis
tradicionais, mais agressivos à natureza.
Assim como acontece com todos os setores da economia, será preciso compreender os anseios do mercado e recalibrar as estratégias para, somente então, acelerar rumo a novas linhas de chegada.
Luis
Otávio Matias - vice-presidente da Tecnobank
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