Com o diagnóstico da
Síndrome de Rokitansky é fundamental encontrar apoio entre os familiares e
amigos, afinal, a descoberta da doença pode mudar alguns planos, como a
maternidade realizada pelo método tradicional, além de comprometer a autoestima
feminina. Por isso, durante o processo, é importante encontrar profissionais da
saúde especializados para seguir as recomendações das formas mais seguras
possíveis.
Quando uma menina, ou
uma mulher, recebe o diagnóstico da síndrome, uma das primeiras perdas é,
justamente, da imagem que tinha. Ela sofre por si e pelo outro, pois a imagem
que fazemos de nós se constrói a partir do olhar da outra pessoa. Para tratar
dessa ferida será necessária uma ressignificação e possibilidade de
identificar-se com outras meninas na mesma situação. Dessa maneira, o
acompanhamento terapêutico se faz essencial para a reconstrução da autoestima
das pacientes.
E esse processo é
delicado; a forma que a autoestima foi construída ao longo da vida depende das
experiências individuais. Por exemplo: o sofrimento se regula pelos sentimentos
que a menina tem de si. O modo como sua estima está estabelecida pode
determinar uma intensidade maior ou menor de dor ao receber o diagnóstico e
como vai lidar com a doença.
Apesar das reações não
serem estáticas, alguns estados emocionais são recorrentes após receberem o
diagnóstico, como: choque, ansiedade, angústia, raiva, rejeição, confusão,
dúvidas a respeito do próprio corpo e de sua identidade, vergonha,
constrangimento, culpa, sentimentos de inferioridade, desespero, tristeza
profunda, isolamento familiar e social, dentre outros.
Com isso, o primeiro
passo a ser trabalhado nas sessões é identificar o sofrimento pela perda
irreparável. Antes de passar pela etapa seguinte, se faz necessário vivenciar o
luto para conseguir abandoná-lo e abrir um novo espaço para construções. A
perda do órgão genital, das fantasias construídas em torno dele, de uma imagem,
de um ideal perdido e as emoções desencadeadas precisam ganhar palavras, o que
possibilitaria algum escoamento e alívio da dor.
Outro ponto importante
é conciliar o acompanhamento médico com o trabalho terapêutico,
preferencialmente com profissionais que tenham domínio sobre o assunto ou que
tenham interesse em pesquisá-lo. Tenho percebido que as pacientes em
atendimento psicoterápico têm uma resposta mais efetiva aos tratamentos com o
uso de dilatadores na construção do canal vaginal, bem como de maior
assimilação e aceitação de seu quadro clínico.
O terceiro passo seria
uma integração e maior sociabilidade com a terapia em grupo. No Instituto Roki,
por exemplo, ela é dividida em subcategorias: mulheres diagnosticadas
recentemente, mulheres que descobriram o diagnóstico há mais tempo, e também os
grupos de familiares e somente de pais ou mães. Essa atuação tem se mostrado
uma ferramenta fundamental de ajuda e suporte para as pacientes. No grupo, elas
encontram apoio, fazem amizades, trocam experiências e vivenciam realidades
semelhantes.
Sabemos que cada
indivíduo é um, mas o coletivo traz a força da união por uma causa. Aconselho a
todas as mulheres que tenham esse diagnóstico procurem ajuda de profissionais
comprometidos, fale e busque por especialistas da área. Criar uma rede de apoio
é diminuir as incertezas e aflições. Com apoio, temos o poder de construir
novas narrativas com luta, força e superação. A união e empatia, sem dúvida,
são os principais pontos a serem tratados.
Daniella Bauer -
psicóloga e psicanalista, parceira do Instituto Roki e Membro do Departamento
de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae .
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