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terça-feira, 22 de junho de 2021

Pandemia pode impactar taxa de natalidade mundial

 Análise da seguradora de crédito Euler Hermes aponta que os bloqueios contribuíram para que muitos casais adiassem planos de terem filhos


A pandemia da Covid-19 não só causou milhões de mortes prematuras, como também teve impacto no número de nascimentos. Em países de alta renda, o número de nascidos diminuiu para níveis recordes em 2020, pois para muitos casais os planos de engravidar foram adiados. Com a maternidade adiada para idades posteriores, a pandemia poderia, portanto, ter efeitos duradouros sobre as mudanças demográficas, contribuindo ainda mais para o envelhecimento das sociedades.

A análise é da economista sênior da seguradora de crédito Euler Hermes, Michaela Grimm. De acordo com a profissional, na União Europeia, o número de recém-nascidos diminuiu cerca de -3%, passando para 4,1 milhões em 2020, visto que a maioria dos 27 países membros, exceto Finlândia, Luxemburgo e Malta, relatou uma diminuição do número de nascidos. Já os países bálticos, Polônia, Romênia, Irlanda e Espanha testemunharam as quedas mais acentuadas, variando de -5,6% na Irlanda e Espanha a -10,6% na Romênia. Já na França, o número de nascidos caiu para menos de 700 mil pela primeira vez desde 1945.

Do outro lado do Atlântico, os EUA registraram apenas 3,6 milhões de recém-nascidos em 2020, o menor número desde 1979. Japão, Coreia do Sul e Taiwan também testemunharam um declínio adicional no número de recém-nascidos (Figura 1).

 

 Fontes: Centros de Controle e Prevenção de Doenças, Eurostat, institutos nacionais de estatística, Allianz Research.

 

“Esta evolução corresponde à constatação de que em tempos de crise econômica, aumento das taxas de desemprego e incertezas, os planos de fecundidade são adiados. Os programas de apoio dos governos para amortecer parte do impacto financeiro da pandemia Covid-19 poderiam apenas amenizar o aspecto econômico”, acredita Grimm.


Planos adiados

A economista afirma que os bloqueios que pararam a vida social também fizeram com que muitos casais adiassem seus casamentos planejados, restringiram o acesso a serviços médicos, incluindo tecnologias de reprodução assistida, a fim de aliviar a carga sobre os sistemas de saúde, e o maior risco de mulheres grávidas precisarem de terapia intensiva cuidados ou ventilação invasiva em caso de infecção por Covid-19 deixavam muitos com uma sensação de incerteza que os impedia de começar uma família ou ter outro filho.


Aumento em países de baixa renda

No entanto, enquanto a pandemia de Covid-19 ampliou as tendências demográficas existentes em países de alta renda e causou novos declínios no número de recém-nascidos, o Fundo de População das Nações Unidas estima que até 1,4 milhão de gestações não planejadas ocorreram em países de baixa e média renda; países onde as mulheres geralmente tinham acesso limitado aos serviços de planejamento familiar como resultado da pandemia. 

“Para todos aqueles que esperavam por um baby boom pós-crise para compensar as quedas em 2020, a questão crucial é se os planos para ter filhos foram apenas adiados ou se eles serão abandonados. Nesse sentido, o desenvolvimento econômico e especialmente a diminuição do desemprego entre os grupos de idade mais jovens desempenham um papel importante, uma vez que uma relação estável e um rendimento estável são fatores cruciais na decisão de se tornarem pais. No entanto, a atual recuperação econômica não se refletirá nas taxas de natalidade nos primeiros nove meses”, afirma Michaela Grimm.


Evolução no número de nascimentos pelo mundo

Os últimos dados disponíveis analisados pela Euler Hermes mostram um quadro misto da evolução do número de nascimentos nos primeiros meses de 2021. Enquanto a Alemanha relatou o maior número de nascidos no mês de março desde 1998 e um número geral ligeiramente maior de nascimentos no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano anterior, em Portugal o número de recém-nascidos continuou a diminuir. Na maioria dos outros países europeus, os números de nascimento mostram alguns sinais promissores de estabilização.

Apenas Áustria, Croácia, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Holanda e Suíça registraram valores trimestrais ou quadrimestrais mais elevados do que em 2020. Na Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan, os números trimestrais e dos primeiros cinco meses também estão abaixo dos do ano anterior, mas apontam para uma recuperação, onde o número de nascimentos foi maior em março e maio, do que nos mesmos meses de 2020.


Queda do número de mulheres em idade fértil

O documento explica que o número de nascimentos também depende do número de mães em potencial. Na Europa e no Leste Asiático, o número de mulheres em idade fértil já começou a diminuir, consequência de menores taxas de natalidade desde a década de 1970.

Na América Latina, o pico está previsto para 2030, mas no Brasil, maior economia da região, os números já devem cair a partir de 2025. Já na América do Norte, espera-se que o número de mulheres em idade fértil aumente ainda mais, embora com taxas de crescimento mais baixas do que no passado (Figura 2).

Figura 2: Mulheres em idade fértil, Índice 1950 = 100

 Fontes: ONU, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (2019); Allianz Research.

  

Outro fator decisivo é a idade média da mãe ao primeiro nascimento. Em 2019, a média na União Europeia, por exemplo, era de 29,4 anos, variando de 26,3 anos na Bulgária a 31,3 na Itália. Já, nos EUA, aumentou para 27 anos (Figura 3).

 

Figura 3: Idade média das mulheres ao primeiro nascimento 2019, em anos

 Fontes: Eurostat, Centros de Controle e Prevenção de Doenças, Allianz Research.


A economista afirma ainda que “quanto mais velha as mães estão no nascimento do primeiro filho, maior é o risco de que o desejo por outro filho não seja realizado ou seja abandonado, pois os riscos para a saúde tanto da mãe quanto do filho aumentam com a idade. Nesse contexto, a decisão de adiar a gravidez ou ter menos filhos em decorrência da pandemia pode ter efeitos duradouros nas mudanças demográficas, contribuindo ainda mais para o envelhecimento das sociedades”, finaliza.

 

 

Euler Hermes

www.eulerhermes.com.br, LinkedIn ou Twitter @eulerhermes.

 

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