Rogéria Sprone, Diretora Pedagógica do Colégio
Joseense, e o Psicanalista Júnior Silva dão conselhos para os pais auxiliarem
crianças e adolescentes neste momento complicado
Definitivamente a pandemia da Covid-19 transformou
radicalmente os hábitos de toda a humanidade. Algo que lá no começo, há pouco
mais de um ano, pensávamos ser uma situação rápida e provisória mostrou-se
muito mais séria e duradoura e os efeitos devastadores, também sobre o lado
emocional e psicológico, vieram sob várias formas e atingindo todas as faixas
etárias.
Se boa parte dos adultos precisaram aprender a trabalhar em
casa, fazer reuniões via videoconferência, criar uma rotina e ter um espaço
para as atividades profissionais, mesmo estando dentro do lar, crianças e
adolescentes foram obrigadas a usar uma maturidade que, na maioria dos casos,
ainda não têm, para aprender à distância, através de aulas online, longe da
sala de aula e da saudável convivência com colegas e professores. “O principal
desafio dos estudantes não é propriamente o aparato tecnológico disponível ou
falta de tempo, mas sim a ausência do equilíbrio emocional, de um ambiente
tranquilo em casa e a dificuldade de organização para o estudo à distância”,
ressalta Rogéria Sprone, diretora pedagógica do Colégio Joseense, em São José
dos Campos, no interior de São Paulo.
Segundo
a profissional de educação, muitos alunos sinalizam a falta que têm sentido dos
professores, do ambiente escolar e dos amigos. “Eles falam que valorizam isso,
agora, muito mais que antes da pandemia. Parece que precisavam estar limitados
para valorizar todo o processo escolar e entender que sozinhos tudo fica mais
difícil de conseguir”, analisa Rogéria.
Em
situações normais, ou que deveriam ser, passamos muito tempo de nossas vidas na
escola e, estar inserido em uma instituição de ensino, constitui uma
experiência organizadora central na vida da maioria das crianças e
adolescentes. “Além de obtermos informações e conhecimentos importantes, é na
escola que aprendemos novas habilidades, participamos de atividades, sejam elas
esportivas ou artísticas, e ainda fazemos muitas amizades”, lembra a diretora
do colégio Joseense. E Rogéria ainda toca num ponto primordial da vida
acadêmica que é a socialização do indivíduo. “Por se tratar de um ambiente
coletivo, é onde jovens e crianças aprendem a conviver em sociedade e adquirir
valores, além dos já inseridos pela família”, explica a diretora
pedagógica.
E
para os pais ou responsáveis de menores na fase escolar, Rogéria listou uma série
de dicas simples para melhorar o estudo à distância e as aulas online. Confira:
- Use
palavras de encorajamento e faça elogios sinceros;
-
Forneça os recursos necessários para as aulas online
-
Mantenha um local fixo para o estudante realizar as atividades escolares e
separe um espaço próprio na casa para guardar os materiais;
-
Deixe a casa silenciosa durante as aulas remotas. É importante que a criança
consiga se concentrar ao máximo durante as atividades;
-
Mantenha sempre a rotina de horários e as atividades do dia no ensino à
distância
Outra abordagem importante
Um
ponto que não deve ser deixado de lado em toda essa situação que estamos
vivendo é sobre os cuidados que precisamos ter com a parte emocional dos
estudantes. Se para nós, adultos, já é algo pesado e difícil de encarar,
imagina para uma criança ou adolescente, que ainda não tem um repertório
formado para lidar com os altos e baixos?
O
Psicanalista e Coach Júnior Silva explica que muitos jovens estão
desestabilizados com todo o quadro da pandemia e as mudanças sofridas na
rotina. “O grande problema que vejo é que eles estão retendo esses sofrimentos
e só descobrimos quando as coisas estão saindo de controle. No meu consultório
houve aumento de quase 300% a procura de pais dizendo que seus filhos
confessaram que estão vivendo uma tristeza profunda e que não veem mais sentido
da vida”, alerta Júnior.
O
profissional chama a atenção, ainda, para outra pandemia que está por vir e,
também pode causar sérios danos às pessoas e, em especial nesse caso, aos
jovens em fase escolar. “Está chegando a pandemia emocional e as pesquisas nos
mostram o quanto a ansiedade e a depressão tem aumentado de forma descontrolada
em nosso pais. Temos o costume, infelizmente, de procurar ajuda emocional
somente quando o estado e grave. O ideal é buscar um atendimento especializado
assim que surgem os primeiros sintomas, como em qualquer doença física”,
explica o psicanalista.
E
o que fazer para ajudar nossos jovens estudantes a equilibrarem o lado
emocional diante de tantas transformações pelas quais eles têm passado no
último ano? Júnior afirma que o essencial é que o adulto entre mais no mundo
dos menores, para fornecer a eles segurança. “O caminho é entrar no mundo do seu
filho e não ele no seu. Pense bem: você já teve a idade dele e ele viver o
universo de um adulto é algo que exige uma experiência de vida que os jovens
ainda não têm”, analisa Júnior, frisando que é essencial que os pais mostrem o
quanto o mundo do jovem é importante para eles (os pais, mães, ou responsáveis
pelo estudante). “Tudo que seu filho quer é abrigo no mundo deles por parte das
pessoas que eles mais confiam, que é você. Alguém que entenda suas aflições,
necessidades e sentimentos é tudo que os adolescentes ou as crianças desejam,
principalmente diante das circunstâncias que temos vivido”, completa.
Júnior ainda dá mais um conselho para os pais,
principalmente aos que se sentem culpados ou sentem não lidar bem com esse
momento de alterações na rotina escolar: não sinta culpa! “Pai, mãe (ou
qualquer que seja o responsável pela criança), você também é vítima de tudo o
que estamos vivendo, por isso se culpe menos e viva o hoje. A culpa nos leva a
uma condenação de algo que somos vítimas também. Você não está sozinha(o) neste
aprendizado, pois o erro faz parte da vida. Quem aprendeu a falar e a andar de
primeira? NINGUÉM!
Aprendemos mais com erros do que
acertos, mas permanecer no erro é uma opção sua e isso que não podemos
permitir. Confie na sua paternidade e maternidade e viva o amor que tudo dará
certo. O amor salva e liberta”, pontua o Psicanalista, fazendo um carinho nos
pais que também andam tão necessitados de compreensão.
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