Números estão
relacionados ao aumento de casos graves de Covid-19
Os números de traqueostomias e de drenagens
torácicas dispararam no primeiro trimestre por causa do aumento de casos de
Covid-19. Os dados, do serviço de urgência e emergência cirúrgica de nove
hospitais de Campinas, Valinhos e Vinhedo, apontam que de janeiro a março deste
ano, o número de traqueostomias aumentou 175% em relação ao mesmo período do
ano passado, enquanto o de drenagem torácica quintuplicou e, até o dia 18 de
abril, já era igual ao total registrado durante todo o ano de 2020. Os dois
procedimentos são utilizados em casos graves de Covid-19.
A drenagem torácica, também conhecida como drenagem
pleural, é indicada em casos de pneumotórax, quando há ar entre as membranas
que envolvem os pulmões, e também nos casos de derrames pleurais, quando há
líquido ao redor dos pulmões. O pneumotórax é bastante associado à ventilação
mecânica. Para fazer a drenagem, em ambos os casos, são utilizados drenos. “O
aumento de drenos nos últimos meses está relacionado ao aumento dos casos de
Covid-19 em ventilação mecânica e também à gravidade dos pacientes”, explica o
cirurgião geral e de urgência e emergência, Bruno Pereira, CEO o Grupo
Surgical, responsável por cirurgias e procedimentos de urgência e emergência
nos nove serviços hospitalares.
De acordo com o cirurgião torácico e broncoscopista
do grupo, Luiz Von Lorhmann Arraes, pacientes graves de Covid-19 apresentam a
necessidade de altos parâmetros ventilatórios para manter a troca gasosa. “É
como se o pulmão ficasse ´duro´ e precisasse de maior pressão, vindo do
ventilador, para expandir”, afirma. “Essas necessidades de altos parâmetros têm
consequências para o pulmão e favorecem o acontecimento de pneumotórax. As
altas pressões e condições ruins do pulmão formam fístulas broncopleurais. Com
isso, o ar escapa para a pleura e impede a expansão do pulmão”, completa. O
dreno torácico funciona como um sistema de válvula que faz a retirada do ar do
espaço pleural e permite a expansão do órgão novamente.
Segundo Arraes, o pneumotórax é um caso de urgência
e precisa ser resolvido rapidamente, já que a demora no diagnóstico ou no
tratamento pode evoluir para um pneumotórax hipertensivo, quando a pressão
dentro do tórax aumenta muito, transformando-se numa emergência, que pode levar
o paciente à morte. “A drenagem é feita à beira do leito mesmo, por um
cirurgião geral ou cirurgião torácico. E, nos casos de emergência, como no
pneumotórax hipertensivo, a pressão dentro do tórax pode ser aliviada por uma
punção com agulha no tórax (toracocentese), até a drenagem torácica apropriada.
O tempo que o dreno permanece depende muito da evolução do paciente e de suas
condições clínicas”, esclarece.
O aumento das traqueostomias está relacionado,
principalmente, ao maior tempo de intubação dos pacientes. Pacientes intubados
por um período prolongado têm mais riscos de desenvolver uma estenose
(estreitamento) de traqueia, que pode dificultar a passagem de ar aos pulmões
ou, em casos mais graves, gerar insuficiência respiratória. Dessa forma, a
traqueostomia reduz esses riscos e ajuda na ventilação. “A traqueostomia também
é uma intervenção cirúrgica, em que abrimos um orifício no pescoço do paciente,
por onde inserimos uma cânula para facilitar a passagem de ar para os pulmões”,
explica Arraes.
Nos casos de Covid-19, a recomendação é de que a
traqueostomia seja realizada mais tardiamente, após 15 a 20 dias de intubação.
“Isso acontece por dois motivos principais. O primeiro é que os pacientes têm
um quadro mais complicado e, dificilmente, são extubados dentro do tempo
padrão. Só que podem melhorar depois desse período e, eventualmente, não
precisar da traqueostomia. Outro ponto que consideramos é a exposição da
equipe, já que o procedimento emite aerossóis e pode contaminar os
profissionais de saúde envolvidos”, diz Pereira.
Grupo Surgical
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