“Doutor, eu tive Covid-19. Me disseram que estou curado, mas ainda sinto falta de ar.” Desde o início da pandemia, essa queixa tem sido muito frequente nos consultórios de pneumologia. A Covid-19 realmente é muito diferente de uma gripe ou resfriado comum nos mais diversos aspectos.
Em geral, a doença começa com sintomas leves, o paciente tem a impressão de
estar resfriado, tem dor de garganta, coriza, tosse seca e, algumas vezes,
febre baixa. Além desses sinais, há ainda dois sintomas marcantes da
Coronavírus, que são a perda do olfato e a alteração do paladar. Para muitos
pacientes, o vírus não passará disso. Porém, infelizmente, um pequeno grupo de
pacientes desenvolverá formas mais sintomáticas e graves da doença.
Na maioria das vezes, o paciente que evolui para as formas mais graves começa a
piorar dos sintomas na segunda semana da doença (mas, para alguns, a piora pode
ocorrer ainda nos primeiros dias).
Os principais sinais de alarme para as formas graves são a persistência de
febre e a falta de ar. Esses pacientes idealmente devem ficar internados em
observação, pois muitos deles precisarão de oxigênio e, alguns, de intubação e
ventilação mecânica.
Passada a fase crítica da doença, a recuperação também é bastante diferente da
gripe e do resfriado comum. Quando um paciente pega um resfriado comum, por
exemplo, em geral, após 10 dias, ele nem se lembra que ficou doente, pois a
recuperação é rápida e não deixa sequelas. Já com a Covid-19, o paciente
provavelmente se lembrará da doença por algumas semanas ou meses.
A ocorrência de sequelas pulmonares após a Covid-19 depende muito da gravidade
da doença na sua fase aguda, bem como da necessidade de procedimentos
invasivos, como a intubação com ventilação mecânica.
A pior sequela do ponto de vista pneumológico é o desenvolvimento de fibrose
pulmonar, cujo principal sintoma é a falta de ar persistente e pode levar a uma
dependência permanente de oxigênio. Felizmente, essa sequela é rara.
Outra consequência muito mais frequente é a falta de ar aos esforços físicos,
sem a presença de fibrose significativa nos pulmões. Essa falta de ar não deve
ser chamada de sequela, pois em geral o termo sequela denota uma alteração
irreversível. E, felizmente, esse sintoma tende a melhorar com o tempo.
Existem vários motivos para um paciente apresentar falta de ar mesmo após estar
curado da Covid-19. Um dos principais é a perda de massa muscular que ocorre
durante uma doença grave. Essa perda muscular faz que os esforços que antes
pareciam pequenos se tornem difíceis.
Outros pacientes podem desenvolver uma inflamação nos pulmões, que pode ser
tratada com medicamentos. Há, ainda, diversas outras causas, que podem ser
avaliadas por um pneumologista.
É muito importante que todo paciente que teve Covid-19 e mantém a queixa de
falta de ar seja avaliado por um pneumologista. Esse paciente precisará
realizar diversos exames para avaliar a função do sistema respiratório, tanto
em repouso quanto durante o esforço físico, para que o diagnóstico correto seja
estabelecido e o respectivo tratamento indicado.
Dr. Celso Padovesi - coordenador da equipe de Pneumologia da Unidade Santana da Rede de
Hospitais São Camilo de São Paulo.
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