Trabalho aponta que inflamação constante em obesos torna-os suscetíveis a formas graves de insuficiência respiratória
Estudo
publicado pela Federação Internacional para a Cirurgia da Obesidade e
Transtornos Metabólicos – IFSO reuniu cirurgiões bariátricos de diversos
países que publicaram conclusões de diversos estudos científicos envolvendo
mais de oito milhões de pacientes a fim de pesquisar a relação entre obesidade
e a Covid-19. Entre os médicos participantes, está o brasileiro e ex-presidente
da instituição, além de também ex-presidente da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o cirurgião bariátrico Almino Cardoso
Ramos.
Segundo
Ramos, a principal conclusão é que a obesidade aumenta os riscos de contágio e
de evolução para uma forma clínica mais grave da doença com maior possibilidade
de internação hospitalar, transferência para unidade de terapia intensiva,
intubação por insuficiência respiratória e de desfecho fatal. “Quanto maior o
IMC – índice de massa corporal do paciente infectado por Covid-19, maior será o
risco de complicações, independentemente da idade”, diz. Segundo ele, a questão
é que a obesidade se caracteriza por um estado contínuo de inflamação
que aumenta, sobremaneira, a chance de ele vir a ter complicações graves como a
insuficiência respiratória. “Pelo fato de o coronavírus ter afinidade pelas
células de gordura e atacar principalmente os pulmões, a pessoa obesa acaba
tendo o seu quadro infeccioso agravado e a doença acaba assumindo um maior
perigo. Chegamos à conclusão, por meio deste farto material, que quanto mais
obeso, como citei, mais risco ao paciente que se infecta com o coronavírus.
Inclusive, de óbito”, revela o médico.
Além
disso, o cirurgião alerta para o perigo de formação de coágulos já que
essa é uma das consequências da infecção por Covid-19. “Pode ocasionar trombose
ou embolia, doenças perigosas e com alto índice de mortalidade. E
quanto mais obesa a pessoa é, mais esse risco foi observado também”, afirma.
Segundo o ex-presidente da IFSO, outra dificuldade apresentada é a questão de deitar
o paciente de bruços para melhorar a oxigenação dos pulmões – técnica muito
utilizada e às vezes vital na melhora do infectado pois, entre outros
benefícios, melhora o fluxo sanguíneo. “A obesidade dificulta muito esta
posição”, explica.
A Pesquisa Nacional de Saúde divulgada no
final do ano passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) indica que 60,3% dos brasileiros com 18 anos ou mais - o que
corresponde a 96 milhões de pessoas -, estavam acima do peso em 2019. Dentro
desse grupo, 41,2 milhões (25,9% da população) estavam obesos, ou seja,
característica observada em uma a cada quatro pessoas.
A pesquisa também identificou que 19,4% dos adolescentes
entre 15 e 17 anos no Brasil estão acima do peso, sendo que 6,7% estão obesos.
Entre 2003 e 2019, os resultados de duas pesquisas do IBGE mostraram que a
proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade do país saltou de
12,2% para 26,8%. Já a proporção de pessoas com excesso de peso subiu de 43,3%
para 61,7%.
“São dados extremamente preocupantes, que já
demonstravam um risco grande à saúde. Agora, por conta da Covid-19, o risco
aumentou sobremaneira. É da mais alta importância que a população com obesidade
se conscientize, procure tratamento, pois no momento o risco é bem maior. O
tratamento adequado da obesidade na atual realidade deve ser encarado como
prioridade!”, finaliza o cirurgião bariátrico Almino Cardoso Ramos.
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