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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Como ficam os alunos com deficiência nesse vai e volta de aulas na pandemia

Todos sabemos, e muitos de nós vivemos, inclusive, as dificuldades geradas pela pandemia. Para quem convive com pcd, os desafios e dificuldades são ainda mais amplos, e podem ir do emocional ao econômico-financeiro.

Na esfera da educação, sem exceção de público, para quaisquer crianças ou adolescentes já é complexo que compareçam às aulas online, criem vínculos com seus professores, absorvam conteúdo pedagógico, façam lições de casa etc. Algo nunca imaginado. Diversas pesquisas e movimentos em torno deste assunto demonstraram estes intermináveis desafios decorrentes das mais variadas naturezas. Por tanta complexidade e importância, o ensino foi considerado como serviço essencial pelo Governo desde março.

Um público minoritário acaba sofrendo ainda mais com a adaptação do sistema educacional por conta da pandemia: as crianças e adolescentes com deficiência.

Diante de mais uma retomada escolar no Estado de São Paulo, eles merecem um olhar individualizado.

Em fevereiro deste ano a breve retomada presencial, tal como praticada por algumas escolas, trouxe diversos dissabores para este público - no âmbito do ensino público e particular. Num mix de posicionamentos e práticas escolares (do sistema híbrido ao presencial) é fato que as pessoas com deficiência muitas vezes não foram consideradas pelas instituições de ensino, ou ainda foram por elas esquecidas em prol de uma “maioria”.

Na dita retomada, não vimos pessoas com deficiência serem contempladas como prioritárias, ao se considerar a defasagem do ensino pedagógico. Ao contrário. Numa tentativa de generalizar as defasagens, e não atrasar determinados grupos, instituições apontam indiscriminadamente as séries infantis e de alfabetização como alvo de retorno para contemplarem os 35% dos alunos matriculados, conforme dispõem as regras atinentes à fase vermelha do Estado.

À parte do desempenho socioemocional - em que pessoas típicas e atípicas foram afetadas - a questão pedagógica revela que o papel da escola eminentemente no contexto presencial é imprescindível para o público de crianças e adolescentes com deficiência.

 

No sistema de educação à distância (online), o quão difícil é para esse público? Segundo uma pesquisa realizada pela ONG Friendship Circle, 40% responderam que não comparecem às aulas online, e outros 24% responderam que apenas algumas vezes, ou seja, apenas 36% as assistem integralmente. Vale dizer que a ampla maioria dos entrevistados integram o sistema regular de educação, com algumas exceções dos que atendem ao ensino especializado, onde o cenário de inclusão pedagógica, em tese, é mais favorável. 

Suas dificuldades variam, mas eminentemente muitos dependem de acompanhamento presencial para adquirirem o conteúdo pedagógico, ou ainda, dependem de adaptação integral do material dado ao restante da sala.

A pesquisa da ONG revelou que 82% não obtiveram de suas escolas qualquer proposta de esquema de retorno individualizado, seja com maior carga presencial; ou possibilidade de aulas individuais; ou ainda com plano de reforço estruturado. Apurou-se também que 26% das escolas não deram qualquer apoio neste intervalo de tempo, e outros 24% deram apoio irrisório a eles. Extrai-se destes números que é alarmante o nível de descaso para com o público com deficiência.

Ademais, 71% das crianças e adolescentes com deficiência não contaram com qualquer acompanhante terapêutico para as aulas remotas.

Cerca de 27% das escolas não prestam ou prestaram serviços individualizados para pessoas com deficiência, como a adaptação de materiais para suas necessidades específicas, e outros 29% afirmaram que a individualização pedagógica dependeu, e depende, da demanda ativa por parte de seus responsáveis. Na mesma linha, 16% dos entrevistados não receberam qualquer contato proativo da escola para alinhar necessidades individualizadas, enquanto 41% receberam pouquíssimas vezes ou de forma insatisfatória.

Vale a reflexão: seria a pandemia um marco na educação inclusiva, para que seja repensada a função da escola na inclusão pedagógica de pessoas com deficiência? Seria um momento para refletirmos sobre o todo, ao invés da maioria? Devem as escolas dispensar todo seu tempo e esforços na adaptação para a maioria, ou não seria mais congruente e responsável que praticassem a individualização nesta nova retomada de aulas presenciais?

A pesquisa foi feita com 388 pessoas com deficiência - ou seus responsáveis - entre os dias 28 e 31 de março de 2021.

O Friendship Circle é uma ONG de transformação e inclusão social que oferece às crianças e adolescentes com deficiência e suas famílias, a oportunidade de um convívio social sem preconceito.

Visa e trabalha pela transformação da sociedade, na criação de um mundo mais empático e inclusivo, por meio da promoção da amizade entre crianças e jovens com deficiência e jovens voluntários.


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