Todos sabemos, e muitos de nós vivemos, inclusive, as dificuldades geradas pela pandemia. Para quem convive com pcd, os desafios e dificuldades são ainda mais amplos, e podem ir do emocional ao econômico-financeiro.
Na esfera da educação, sem exceção de
público, para quaisquer crianças ou adolescentes já é complexo que compareçam
às aulas online, criem vínculos com seus professores, absorvam conteúdo
pedagógico, façam lições de casa etc. Algo nunca imaginado. Diversas pesquisas
e movimentos em torno deste assunto demonstraram estes intermináveis desafios
decorrentes das mais variadas naturezas. Por tanta complexidade e importância,
o ensino foi considerado como serviço essencial pelo Governo desde março.
Um público minoritário acaba sofrendo
ainda mais com a adaptação do sistema educacional por conta da pandemia: as crianças
e adolescentes com deficiência.
Diante de mais uma retomada escolar no
Estado de São Paulo, eles merecem um olhar individualizado.
Em fevereiro deste ano a breve retomada
presencial, tal como praticada por algumas escolas, trouxe diversos dissabores
para este público - no âmbito do ensino público e particular. Num mix de
posicionamentos e práticas escolares (do sistema híbrido ao presencial) é fato
que as pessoas com deficiência muitas vezes não foram consideradas pelas
instituições de ensino, ou ainda foram por elas esquecidas em prol de uma
“maioria”.
Na dita retomada, não vimos pessoas com
deficiência serem contempladas como prioritárias, ao se considerar a defasagem
do ensino pedagógico. Ao contrário. Numa tentativa de generalizar as
defasagens, e não atrasar determinados grupos, instituições apontam
indiscriminadamente as séries infantis e de alfabetização como alvo de retorno
para contemplarem os 35% dos alunos matriculados, conforme dispõem as regras
atinentes à fase vermelha do Estado.
À parte do desempenho socioemocional - em que pessoas típicas e atípicas foram afetadas - a questão pedagógica revela que o papel da escola eminentemente no contexto presencial é imprescindível para o público de crianças e adolescentes com deficiência.
No sistema de educação à distância (online), o quão difícil é para esse público? Segundo uma pesquisa realizada pela ONG Friendship Circle, 40% responderam que não comparecem às aulas online, e outros 24% responderam que apenas algumas vezes, ou seja, apenas 36% as assistem integralmente. Vale dizer que a ampla maioria dos entrevistados integram o sistema regular de educação, com algumas exceções dos que atendem ao ensino especializado, onde o cenário de inclusão pedagógica, em tese, é mais favorável.
Suas dificuldades variam, mas
eminentemente muitos dependem de acompanhamento presencial para adquirirem o
conteúdo pedagógico, ou ainda, dependem de adaptação integral do material dado
ao restante da sala.
A pesquisa da ONG revelou que 82% não
obtiveram de suas escolas qualquer proposta de esquema de retorno
individualizado, seja com maior carga presencial; ou possibilidade de aulas
individuais; ou ainda com plano de reforço estruturado. Apurou-se também que
26% das escolas não deram qualquer apoio neste intervalo de tempo, e outros 24%
deram apoio irrisório a eles. Extrai-se destes números que é alarmante o nível
de descaso para com o público com deficiência.
Ademais, 71% das
crianças e adolescentes com deficiência não contaram com qualquer acompanhante
terapêutico para as aulas remotas.
Cerca de 27% das escolas não prestam ou
prestaram serviços individualizados para pessoas com deficiência, como a
adaptação de materiais para suas necessidades específicas, e outros 29%
afirmaram que a individualização pedagógica dependeu, e depende, da demanda
ativa por parte de seus responsáveis. Na mesma linha, 16% dos entrevistados não
receberam qualquer contato proativo da escola para alinhar necessidades
individualizadas, enquanto 41% receberam pouquíssimas vezes ou de forma
insatisfatória.
Vale a reflexão: seria a pandemia um marco na educação inclusiva, para que seja repensada a função da escola na inclusão pedagógica de pessoas com deficiência? Seria um momento para refletirmos sobre o todo, ao invés da maioria? Devem as escolas dispensar todo seu tempo e esforços na adaptação para a maioria, ou não seria mais congruente e responsável que praticassem a individualização nesta nova retomada de aulas presenciais?
A pesquisa foi feita com 388 pessoas
com deficiência - ou seus responsáveis - entre os dias 28 e 31 de março de
2021.
O Friendship Circle é uma ONG de
transformação e inclusão social que oferece às crianças e adolescentes com
deficiência e suas famílias, a oportunidade de um convívio social sem preconceito.
Visa e trabalha pela transformação da sociedade, na criação de um mundo
mais empático e inclusivo, por meio da promoção da amizade entre crianças e
jovens com deficiência e jovens voluntários.
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