Parece não ser por acaso que nossa taxa de câmbio seja uma das mais voláteis quando comparada a boa parte das moedas de outros países emergentes. Seguimos numa sinuca de bico sem solução fácil para o crescente déficit fiscal e para o aumento da relação dívida/PIB; nossos políticos teimam em governar de maneira extremamente fisiológica e populista; seguimos longe do nosso crescimento potencial; boa parte da população segue dependente de algum tipo subsídio público; e o ambiente político-econômico segue muito desfavorável para o investimento privado e para a classe empresarial. Todos esses fatores geram incerteza, que no linguajar “economês”, pode ser traduzido em volatilidade. A volatilidade do real é reflexo de todas essas fragilidades, um problema que persistirá por mais tempo.
Parte muito relevante do papel do assessor de
investimentos é estudar e se aprofundar em todos os temas relacionados a
soluções de investimento para seus clientes, buscando maximizar retorno e
minimizar risco, além de ajudar no planejamento financeiro e na sucessão
patrimonial dos grupos familiares que assessora. A equação perfeita,
infelizmente, só existe no livre texto. Mas é possível adequar cada carteira ao
perfil de risco e necessidade de liquidez de cada cliente, e aos objetivos
futuros de cada um.
Tratando especificamente dos objetivos
futuros, aí vai uma pergunta: você acredita que terá gastos em
dólares para sempre? Pense em viagens, intercâmbio dos filhos, cursos de
pós-graduação, etc... Se a sua resposta foi “sim”, é de fundamental importância
que seus investimentos gerem renda em dólares. Afinal de
contas, não podemos contar com a sorte quando o assunto é a taxa de câmbio
brasileira. Pense no argentino que nunca investiu em ativos dolarizados. O peso
se depreciou em mais de 30 vezes em relação ao dólar nas últimas décadas. Ou
seja, os hermanos que não investiam em dólares estão simplesmente
ilhados por falta de poder aquisitivo. Os que sempre tiveram consciência dessa
necessidade, se salvaram. E os ingredientes que levaram nossos vizinhos a essa
catástrofe econômica são os mesmos citados no primeiro parágrafo.
A boa notícia é que o mercado de capitais no Brasil
vem se desenvolvendo a passos largos nos últimos anos. Hoje em dia é
extremamente simples investir em ativos dolarizados, como fundos de
investimentos em ativos internacionais, ETFs e BDRs. Ou seja, o investidor não
precisa mais abrir uma conta fora do país, fazer uma remessa de câmbio e ligar
para alguém de outro país para saber aonde investir em ativos dolarizados. O
próprio assessor de investimentos, que já auxilia os clientes com investimentos
em reais,
pode (e deve) fazer a mesma coisa para a parte do patrimônio do cliente que
será dolarizada.
Finalizo esclarecendo três dúvidas muito
recorrentes em relação a investimentos dolarizados:
“Ok, entendi que devo dolarizar uma parte do meu
patrimônio, afinal de contas, sempre terei despesas em dólares, os fundamentos
macroeconômicos do Brasil não apontam para uma apreciação expressiva do real
e o ambiente político é, e deve continuar, muito incerto. Mas qual o melhor timing
para começar a comprar? Parece que o dólar já subiu bastante...”
Resposta: é impossível comprar na mínima e vender
na máxima. Vale para o dólar e para todos os outros ativos. Considerando que a
ideia é carregar o investimento dolarizado para longo prazo (lembre-se: você e
sua família terão despesas em dólares para sempre), e que a probabilidade de
uma apreciação relevante do real é muito baixa no horizonte visível
(por relevante quero dizer uma apreciação superior a 20%, que
seria equivalente a vir abaixo de R$/US$ 4,20), compre sempre e aos poucos.
Tenha em mente sempre direcionar uma parte dos investimentos para ativos
dolarizados, independentemente do nível em que o dólar esteja. Para compra de
ativos que carregaremos a longo prazo, a estratégia de preço médio de aquisição
é muito mais assertiva do que tentar adivinhar o melhor momento para comprar
tudo de uma vez.
“Mas e o risco cambial de expor meu patrimônio a
investimentos que podem perdem valor caso o dólar se desvalorize?”
Resposta: o maior risco é ter o patrimônio todo
investido em ativos atrelados a uma moeda fraca, como o real,
e não contrário. Por conta desse mito do “risco” cambial que passa pela cabeça
de boa parte dos investidores brasileiros, as gestoras internacionais tiveram
que adaptar seus veículos de investimento: boa parte dos fundos internacionais
mencionados acima possuem versão sem exposição ao dólar (com hedge
cambial) e com exposição ao dólar (sem hedge cambial). Para o investidor que
ainda está construindo sua parcela de investimentos dolarizados, a versão com hedge
cambial simplesmente não faz sentido algum
“Qual é a proporção ideal de ativos dolarizados
(percentual de investimentos dolarizados em relação ao patrimônio todo) que
devo ter na minha carteira de investimentos?”
Resposta: não existe um número mágico pois cada
investidor tem seu perfil de risco. O importante é ter em mente o seguinte:
quanto mais conservador você se julga, maior a parcela do seu patrimônio que
deve estar alocada em ativos dolarizados. E vice-versa. Afinal de contas, risco
(cambial) de verdade é manter todo seu patrimônio aplicado em ativos domésticos
esperando que os próximos governos resolvam a questão do déficit público, que é
o grande fator macroeconômico responsável pela forte depreciação do real
desde 2010. O atual governo, aparentemente, já fracassou nessa missão.
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