Carga de trabalho
doméstico não remunerado aumentou: de seis horas a mais por semana de cuidado
com os filhos em relação aos homens, mulheres agora dedicam 7,7 a mais às
crianças
Devido à Covid-19, o
progresso feminino no mercado de trabalho pode, ao fim de 2021, regredir em
quatro anos. Este é um dos resultados do estudo Índice de Mulheres no Trabalho
da PwC (PwC Women in Work Index), realizado anualmente em 33 países da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A consultoria estima que o
índice, que mede o empoderamento econômico das profissionais do sexo feminino,
caia 2,1 pontos entre 2019 e 2021, voltando ao patamar de 62,4 pontos medidos
em 2017. Com isso, interrompe-se um ciclo de nove anos de crescimento de taxas
de emprego feminino e redução de disparidade de gênero.
Esta situação ameaça
inclusive retardar a obtenção de ganhos expressivos no PIB dos países da OECD.
A PwC calcula que, se os demais países atingissem o índice de emprego feminino
da Suécia - que aparece frequentemente nas melhores posições do ranking-,
haveria ganho de US$ 6 trilhões por ano. Da mesma forma, a redução da
disparidade de gênero traria ao PIB dos países um total de US$ 2 trilhões ao
ano.
Para desfazer os
danos que a Covid-19 causou às mulheres que atuam no mercado de trabalho, o
progresso em relação à igualdade de gênero precisará ser duas vezes mais rápido
do que a sua taxa histórica até 2030.
O estudo aponta que
os danos provocados pela Covid-19 estão afetando as mulheres de forma
desproporcional. O desemprego na OCDE aumentou 1,7% para mulheres (de 5,7% em
2019, para 7,4%) em 2020. Nos Estados Unidos, chegou a 6,7%, em dezembro de
2020 (três pontos percentuais acima do mesmo mês de 2019). No Reino Unido, que
tem o real impacto da Covid no trabalho ainda não totalmente calculado por
conta dos programas de retenção de empregos, 52% das licenças não remuneradas
foram para as mulheres, embora elas representem apenas 48% da força de
trabalho. Com isso, presume-se que elas corram mais riscos quando os programas
encerrarem atividades.
Uma das causas desta
situação é que mais mulheres atuam em áreas com intensivo atendimento ao
público, como hotelaria, alimentação e comércio varejista, que foram dos mais
afetados pela crise. Embora algumas mulheres possam ter escolhido deixar o
mundo corporativo temporariamente por causa do Covid-19, com a intenção de
retornar após a pandemia, a pesquisa mostra que as interrupções na carreira têm
impactos de longo prazo nas perspectivas do mercado de trabalho feminino. As
profissionais também retornarão aos empregos com salários mais baixos e
posições menos qualificadas.
Além de atuarem em
setores da economia que tiveram grande impacto da pandemia, sofrerem com
discrepâncias em remuneração e benefícios, as mulheres também têm dupla
jornada, arcando com boa parte dos serviços domésticos. Antes da pandemia,
gastavam em média seis horas a mais do que os homens nos cuidados com os filhos
durante a semana, de acordo com uma pesquisa da ONU Mulheres. Agora, gastam 7,7
horas a mais por semana, um "segundo turno" que equivale a 31,5 horas
semanais, quase a mesma carga horária de um trabalho extra em tempo integral.
Esse aumento da
ocupação não remunerada já provocou uma redução na contribuição das
profissionais do sexo feminino para a economia. Caso essa carga extra persista,
o resultado será mais mulheres deixando o mercado de trabalho de forma
permanente, revertendo o progresso em direção à igualdade de gênero e reduzindo
a produtividade econômica.
Índice PwC Mulheres
no Trabalho 2021 (desempenho antes da pandemia de Covid-19)
A Islândia e Suécia
ocupam o primeiro e segundo lugar no ranking, seguidos por Nova Zelândia. A
Islândia tem uma participação feminina forte e consistente na força de trabalho
(84%) e uma taxa de desemprego feminina de apenas 3%. A Nova Zelândia observou
uma tendência ascendente em todos os cinco indicadores e subiu cinco pontos ao
longo de nove anos. A política governamental e um histórico de representação
feminina em instituições políticas ajudaram a impulsionar esses ganhos.
A Grécia viu o maior
aumento, em termos de pontuação, do indicador entre 2018 e 2019, impulsionada
pela melhoria em todos os indicadores do mercado de trabalho, exceto para a
parcela de mulheres empregadas em tempo integral.
Em contrapartida,
Portugal registou a maior descida na pontuação do Índice no mesmo período,
devido ao alargamento das disparidades salariais entre homens e mulheres, com
queda de cinco pontos percentuais.
Os cinco indicadores
que compõem o Índice de Mulheres no Trabalho da PwC são a disparidade salarial
de gênero, a participação feminina na força de trabalho, a lacuna entre a
participação masculina e feminina na força de trabalho, o desemprego feminino e
a taxa de emprego feminino em tempo integral.
PwC
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