Opinião
Com o mundo em ritmo cada vez mais acelerado de
mudanças, as empresas já entenderam que a sobrevivência depende de uma enorme
capacidade de adaptação aos cenários que se apresentam, às vezes de forma
repentina. É preciso garantir entregas que agreguem valor e se diferenciem. E
quando o assunto é gestão e inovação, a metodologia ágil está no topo das
tendências. Metodologias ágeis podem ser definidas como um conjunto de práticas
aplicadas no gerenciamento de projetos, cuja principal característica é a alta
adaptabilidade a mudanças. Elas são estruturadas em ciclos curtos, as chamadas sprints,
e o objetivo é, a cada novo ciclo, realizar uma entrega pré-determinada. Essas
práticas vêm se mostrando extremamente eficazes para aqueles que buscam
impulsionar a gestão de projetos e manter equipes em estado de permanente
prontidão, capazes de apresentar reações rápidas às mudanças e flexibilidade na
adaptação.
A transição do modelo de trabalho presencial para o
home
office é um exemplo de como as empresas enfrentam desafios
inesperados que precisam ser encarados e vencidos de forma rápida e "com o
carro em movimento". Aqueles que já trabalhavam com metodologias ágeis
tiveram vantagens nesse processo. Como as entregas possuem ciclos mais curtos,
possíveis dificuldades de adaptação ou quebra no ritmo de produção de um
integrante da equipe são fácil e rapidamente identificadas por conta da forma
como o trabalho é conduzido. O foco está nas pessoas e não nas ferramentas. O
indivíduo e seus papéis são colocados acima de tudo. O conceito da metodologia
traz a responsabilidade para cada colaborador, o que é muito eficaz porque
quando se coloca de forma clara a responsabilidade para o indivíduo, a pessoa é
empoderada, o que costuma surtir efeito positivo.
E como saber se uma empresa está pronta para o
ágil? Apesar de altamente vantajosa para qualquer empresa e do baixo custo para
implantação, a metodologia possui alguns pré-requisitos para que a prática seja
bem sucedida - entre eles, a interação da equipe, que precisa ser colaborativa
e auto gerenciável. Como existe a necessidade de uma troca muito constante, de
informações e percepções, a equipe precisa estar bem entrosada e com grande
proximidade entre as pessoas. As daily meetings (reuniões diárias de, no
máximo 15 minutos) são um dos ritos da metodologia e servem para alimentar essa
troca entre as pessoas, para que todos entendam em qual estágio o processo
está, tirem dúvidas, e se ajudem. E se pode parecer difícil reunir diariamente
uma equipe inteira no modelo de trabalho remoto, pense que todo desafio pode
ser encarado como oportunidade. Por experiência, afirmo que colocar toda a
equipe junta em um aplicativo de reunião virtual tem sido mais fácil e
produtivo.
Os ritos pré-definidos acabam por fazer com que a
equipe fique mais unida, com um contato mais próximo, eliminando qualquer
chance de dispersão que o trabalho remoto possa causar. Nestes meses de
pandemia, o Ágile Trades, um dos movimentos que representa o ágil no Brasil,
teve um aumento de 20% na busca por informações, o que mostra que um número
cada vez maior de gestores está entendendo que esse modelo de trabalho pode
melhorar os resultados da empresa, principalmente em um cenário em que o home office
chegou para ficar. Basta deixar o purismo de lado e ter a flexibilidade de
avaliar o que cabe melhor para a empresa, sabendo escolher o melhor método para
a operação. Mas é preciso saber onde a organização está hoje e para onde quer
ou precisa ir. Deve-se considerar também o que a empresa valoriza mais na
equação entrega previsível versus capacidade de se adaptar à
mudança. A segunda coisa a considerar é o valor conferido ao cliente. A empresa
tenta descobrir o que o cliente quer ou está focada apenas em fazer e cumprir
compromissos?
Por fim, deixo aqui duas observações importantes
sobre essas reflexões. A primeira é que ser ágil não significa apenas ser
rápido. É preciso entregar valor. Em alguns casos, vale mais "furar uma sprint"
de duas semanas e entregar em três, com mais valor. A segunda observação é que
utilizar essa metodologia não significa ausência de disciplina, documentação ou
planejamento. Tudo isso acontece dentro do ágil, só que de forma menos
burocrática. O que existe é uma documentação viva, um planejamento curto dentro
das sprints. O ágil exige até mais disciplina que o modelo
tradicional de trabalho e tem o poder de revolucionar a gestão e acelerar
projetos de forma muito eficiente, como nenhum método tradicional é capaz, com
ou sem home office.
Adriana Saluceste -
diretora de Tecnologia e Operações da Tecnobank.
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