Trabalho no mercado financeiro há pouco mais de 16 anos e tenho acompanhado de perto a transformação digital das instituições tradicionais e o “boom” das fintechs. Pra mim, desde a faculdade, sempre ficou claro que estaria em uma ambiente predominantemente masculino. E eu não estava errada. Segundo o relatório “Women in Financial Services”, da Oliver Wyman, em 2003, a representação feminina era de apenas 11% nas diretorias e conselhos consultivos do setor a nível global. Passados 17 anos, este número subiu para mais de 20%. Um avanço, claro, mas ainda é muito pouco.
A triste estatística revela que a desigualdade de
gênero no mercado de trabalho está longe de acabar. Muito por crenças
limitantes de que homens são naturalmente bons em algumas coisas e mulheres, em
outras. Lidar com isso é saber que, em algumas ocasiões, teremos que colocar o
dobro do esforço para provar nossa competência e expertise em assuntos
considerados de domínio deles.
A boa notícia é que estamos conseguindo provar. Em
Wall Street, Jane Fraser é a primeira mulher a tornar-se CEO de um grande
banco, o Citi Group. No FMI, temos Kristalina Georgieva como diretora geral e,
no Banco Central Europeu, a também pioneira Christine Lagarde. E esses são só
alguns exemplos recentes de lideranças femininas que inspiram cada vez mais
meninas a acreditar que elas podem ser o que quiserem.
Quando comecei no meio financeiro, meus objetivos
profissionais eram outros. Sabia do meu potencial e competência para liderança,
mas não imaginava que eu seria empreendedora. Além dos desafios de levar um
negócio, o empreendedorismo feminino também é marcado por muitos estereótipos.
Levantamentos mostram que mulheres ainda se aventuram mais por segmentos
voltados ao varejo, alimentação ou estética. Mas não precisa ser assim. Quando
combinamos que empreendedorismo, mercado financeiro e tecnologia é coisa de
homem? Não é. E precisamos empoderar nossas meninas para que elas sejam o que
quiserem, para que ocupem todos os espaços.
A transformação digital nos dá uma nova
possibilidade, de construirmos novos conceitos e relações, desenvolvermos
confiança e distribuirmos o poder entre todos os participantes de maneira mais
igualitária. E por isso que é também uma grande oportunidade para as mulheres
se envolverem de maneira profunda e irreversível. Na nova economia, promovida
por essa revolução, precisamos de todos os tipos de especialidades e
diversidade, não apenas de quem é de tecnologia. Precisamos de advogadas, de
contadoras, economistas, executivas de negócios, jornalistas, psicólogas, e
todas as outras especialidades, para nos ajudar a destrinchar a inovação,
estudar e pensar em novas leis, novas regras, disseminar a educação e
espalhá-la aos quatro ventos.
Infelizmente, o que vemos hoje, como mostra o GEM
(Global Entrepreneurship Monitor), é que 44% das brasileiras ainda iniciam
negócios por necessidade. São mulheres que não conseguiram oportunidades no
mercado de trabalho. Algumas não tinham onde deixar seus filhos, outras porque
já eram consideradas velhas demais. Os motivos são os mais variados e todos são
válidos. Mas temos que lutar para que as escolhas possam ser feitas por
vocação, pela vontade de realizar um sonho. E, mais que isso, para que os
salários sejam iguais. Porque, além de precisar mostrar que podemos, temos que
mostrar que valemos o mesmo que eles. A disparidade é grande, mas não vai nos
impedir de ir adiante.
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