Diferente do que muitos pensam, as patologias cuidadas pelo reumatologista podem afetar as pessoas em qualquer idade, inclusive na infância e adolescência. Pela saúde de nossos jovens, está na hora de quebrar mitos!
Artrite Idiopática Juvenil (AIJ): o nome até assusta,
não é? Este termo caracteriza-se por um conjunto de doenças inflamatórias
crônicas. A AIJ acomete crianças e adolescentes antes dos 16 anos e faz com que
o sistema imune comece a atacar estruturas do próprio corpo, causando
inflamação.
Os dados no Brasil sobre essa doença ainda são
escassos, por se tratar de uma doença rara e de difícil diagnóstico. Dessa
forma, alertar os pais sobre seus principais sintomas é importante não só para
diagnosticar e iniciar mais precocemente o tratamento dessas crianças, mas
também para melhorar os dados sobre a doença no nosso país. Um estudo realizado
pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) demonstrou que a frequência da
AIJ no Brasil é de 196 casos a cada 100.000 crianças, ou seja, em torno de
0,2%.
A dra. Gabriela Balbi, especialista em
Reumatologia Pediátrica da Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão
Cobra, explica alguns dos pontos principais sobre essa doença:
A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) é uma doença
inflamatória autoimune que acomete as articulações, levando à artrite
(inflamação das articulações) durante 6 semanas ou mais. Os principais sinais
de inflamação articular que podem ser percebidos pelos pais são: dor (nem
sempre está presente), dificuldade de movimentação da articulação acometida
(por exemplo, a criança que está com tornozelo ou joelho inflamados pode
mancar, principalmente no período da manhã ou após longos períodos de
inatividade), calor local (é só comparar a temperatura da articulação suspeita
com a pele de outro local e ver que a pele sobre essa articulação estará mais
quente) e edema ou inchaço local.
Na verdade, a AIJ é um grupo de doenças,
classificado em 7 subtipos, cada um com suas próprias características, bem
distintas. Os 3 subtipos mais comum são:
AIJ Oligoarticular –
atinge até 4 articulações, principalmente joelhos e/ou tornozelos. Ocorre
geralmente em meninas mais jovens, por volta de 4-6 anos, e pode ter associação
com uma doença denominada uveíte anterior crônica autoimune. A uveíte anterior
crônica é uma doença inflamatória que se dá na estrutura dos olhos, denominada
úvea. A inflamação constante dessa estrutura pode levar a perdas visuais de
graus variados e à cegueira. Essa complicação geralmente é silenciosa ou pouco
sintomática, então visitas programadas ao oftalmologista são fundamentais para
evitar perdas visuais irreversíveis. Outra particularidade desse subtipo é que
pode ocorrer discrepância do crescimento dos membros das crianças doentes –
inicialmente o membro afetado cresce mais do que o membro normal, mas ele para
de crescer antes, podendo ficar, no final, menor do que o membro saudável. Esse
é o subtipo mais frequente, contabilizando 50 a 80% dos casos na América do
Norte e na Europa.
AIJ Sistêmica – esse
subtipo é caracterizado pela presença de febre acima de 2 semanas não explicada
por outras causas (ex.: infecções, neoplasias), manchas avermelhadas pelo corpo
(que geralmente surgem durante a febre), aumento dos linfonodos (gânglios), do
fígado e do baço, e inflamação da membrana que reveste o coração (pericárdio)
ou o pulmão (pleura). Não é necessário que o paciente apresente todos esses
sintomas para que o diagnóstico seja feito. Representa 5 a 15% dos casos na
América do Norte e na Europa.
AIJ Poliarticular – a AIJ
poliarticular acomete cinco ou mais articulações. É subdividida ainda em AIJ
poliarticular com fator reumatoide (FR) positivo e AIJ poliarticular com FR
negativo, ambas com características próprias e distintas. A AIJ poliarticular
com FR positivo atinge principalmente meninas mais velhas, por volta de 14-16
anos, e assemelha-se à Artrite Reumatoide que acomete o adulto, levando à
artrite simétrica nos pés, tornozelos, joelhos, punhos, mãos, etc. Este subtipo
pode levar a danos articulares graves e irreversíveis, causando deformidades e
até incapacidade. A AIJ poliarticular com FR negativo leva a artrite de forma
assimétrica, principalmente dos tornozelos, joelhos e punhos. Pode ocorrer em
meninas jovens ou mais velhas, e pode também ter relação com a uveite anterior
crônica. Somando a AIJ poliarticular com FR positivo e negativo, esse grupo é
responsável por 15 a 20% dos casos na América do Norte e na Europa.
Alguns pacientes com AIJ (principalmente aqueles do
subtipo oligoarticular) podem melhorar sem medicação, mas a maioria dos
pacientes que chegam ao consultório do reumatologista pediatra necessitarão de
tratamento e acompanhamento frequentes.
A equipe da Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão
Cobra está em constante alerta para que o Brasil possa trazer
esses dados e mapear quantas pessoas na fase juvenil são acometidas no país.
Gabriela Balbi - especialista na Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra com residência em Pediatria pela Universidade Federal do Paraná e residência em Reumatologia Pediátrica pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Atualmente é mestranda da Universidade Federal de São Paulo, em uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade de São Paulo na área de reumatologia pediátrica.
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