Há um inconformismo geral com o nosso cenário político atual, a indignação é generalizada e evidente em parcela significativa da população. Vivemos uma crise sanitária que, diante da má gestão do governo federal, potencializa todos os problemas sociais, que já eram graves. A mídia internacional, incluindo diversos meios de comunicação considerados conservadores, tem apontado o Presidente da República do Brasil como um dos piores gestores do mundo. Sim, já tivemos outras gestões questionáveis, mas nunca tão letais na história da democracia nacional.
O momento é de reflexão e é perfeitamente natural o
comparativo com governos e representantes políticos que tiveram saídas mais
audaciosas e concretas para a pandemia. E juntamente com a reflexão surgem as
críticas, afinal, não temos saídas concretas do ponto de vista sanitário, de
proteção à população e tão pouco da retomada do crescimento econômico pós
pandemia. É absolutamente normal, dentro de modelos democráticos, que as
pessoas exerçam sua liberdade e expressem seus posicionamentos, que nem sempre
agradam aqueles que se encontram no poder.
Talvez o vetor mais utilizado para a propagação,
divulgação e debate das questões que norteiam nossos espaços durante a pandemia
seja a internet, em especial as redes sociais, que deixaram de ser meras
ferramentas do cotidiano e passaram a ser nosso novo ambiente de sobrevivência
e convivência. Vivemos uma era de grandes e rápidas mudanças, e isso não
poderia ser diferente na política. A mesma rede social que elege e promove é
capaz de rejeitar e criticar - ou seja, aquela classe política que aprendeu a
usar as redes sociais em seu benefício, não consegue controlar o espaço
virtual, e sofre as consequências de estar à frente do poder e ser incapaz de
responder no espaço político com a mesma velocidade que responde um comentário
em uma rede social. A política foi e é influenciada pelas redes sociais, mas a
vida pública e a tomada de decisão não cabem em um “tweet” ou numa postagem.
Seguindo a ideia de que em solo fértil tudo cresce,
desde erva daninha até árvore frondosa, observou-se nos últimos meses um
movimento surpreendente de injeção de conteúdo intelectual, cultural e político
fora dos tradicionais canais de comunicação. Este movimento, liderado por
inúmeras pessoas comuns e influenciadores, são válvulas propulsoras para o
surgimento de novas lideranças, de novas formas de participação na vida
política, de novos formatos para debate. Em meio à nossa aflição política e da
crise sanitária, vemos então esperança no protagonismo dos jovens
influenciadores digitais que, em meio à pandemia, definiram por difundir, de
forma criativa, conhecimento e debater política.
Além do aperfeiçoamento do uso das redes sociais, a
autorreflexão, a organização, a conscientização, o amadurecido dos debates
políticos, o empoderamento propiciado pela autonomia comunicativa das redes
sociais gerou a ocupação dos espaços virtuais de forma livre e democrática.
Pode ser apenas o início de uma nova onda de contestações, cooperação,
articulações, empoderamento de minorias e despontar de novas lideranças, mas, é
um bom início e um antídoto não só contra os valores e políticos que desejamos
combater, mas também às decisões equivocadas que tanto nos afetaram.
*Texto inspirado pela obra do sociólogo espanhol
Manuel Castells, Redes de Indignação e Esperança: movimentos sociais na era da
internet.
Diana Karam Geara - mestre em
Direitos Fundamentais e Democracia, é advogada sócia do Núcleo de Direito de
Família e Sucessões do Escritório Prof. René Dotti.
Francis Ricken - mestre em
Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da
Universidade Positivo (UP).
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