Nos últimos meses, casais que planejavam o casamento para este ano ficaram perdidos em relação à realização das cerimônias e festas. Com a flexibilização das normas de isolamento em vários lugares do Brasil que aconteceram no último mês, noivos e fornecedores de casamentos começaram a buscar respostas sobre adiamentos, cancelamentos e a validação dos contratos de acordo com a nova realidade. Entretanto, hoje, o governador do Rio Wilson Witzel liberou a realização de alguns eventos no Estado do Rio. O Decreto, publicado no Diário Oficial, autoriza eventos em salões e casas de festas com até 500 pessoas.
A advogada Bruna Giannecchini, especializada em Direito do Consumidor, responde abaixo as principais dúvidas ligadas a casamentos durante a pandemia e como ficaram os contratos com a Pandemia. Confira:
1 - Os noivos podem pedir o dinheiro de volta?
Resposta: Não existe uma Lei tratando sobre o tema, mas podemos
buscar uma resposta por analogia à MP 948, de 08 abril de 2020, que dispõe
sobre as empresas de viagens, pacotes de turismos e grandes eventos, e que
determina que estas não serão obrigadas a reembolsar em reais, desde que
ofereçam remarcação ou concessão de crédito, ou outra forma à combinar. Porém,
diante da impossibilidade, o consumidor deverá ser ressarcido em até 12 meses a
contar da data do fim do estado de calamidade pública, ou seja, 31/12/2020.
Portanto, seria uma boa solução para ambas as partes partir para uma negociação.
2 - As casas de festas e demais fornecedores podem se
pautar em alguma Lei para que possam adiar a data sem que precisem devolver o
que foi pago?
Resposta: A pandemia de COVID-19 atingiu a todos.
Partindo desse princípio, os contratos não tiveram sua execução por conta de
força maior, que é a decretação do estado de calamidade pública na saúde e o
isolamento social. Os contratos são pautados pelo princípio da boa-fé e do
equilíbrio entre as partes, portanto, não é crível que apenas uma das partes
suporte o ônus sozinho, diante da impossibilidade do cumprimento do contrato
pelo caso excepcional. Dessa maneira, reaver a totalidade do pagamento da festa
desequilibraria “a balança” e não seria algo justo. O diálogo deve estar aberto
para uma negociação pautada no princípio da solidariedade contratual e na
teoria da imprevisão para resolução dos contratos.
Em 23 de março, a Lei 8767 teve seu artigo 3º, parágrafo
único, revogado, em que normatizava que bastava o contratante cancelar,
remarcar ou solicitar devolução do valor pago 30 dias antes da data do evento.
Fato é que a relação ficou deveras desigual, ainda mais em um setor que não
raro de pequeno porte econômico. Ocorre que, em 22 de maio, com a Lei 8837,
outra Lei foi editada e revogou a previsão desse artigo, devido a forte impacto
negativo no setor chamado de “quebradeira”, o que não é salutar. Dessa maneira,
o que vigora hoje é a prevalência dos princípios da boa-fé contratual e do
dever de negociar, buscando sempre a consensualidade, para que o equilíbrio da
relação possa permanecer, vez que todos foram afetados.
3 - Havendo a possibilidade de apenas adiar os casamentos
para depois do fim da pandemia, os noivos têm livre escolha sobre datas e
possíveis mudanças (como diminuir o número de convidados e conseguir um
desconto em cima dessa diminuição. Lembrando que muitos perderam a renda esse
ano, ou seja, poderão querer casamentos menores por conta disso)?
Resposta: O Código de Defesa do Consumidor sempre irá
proteger o consumidor - e no caso da pergunta, para não haver enriquecimento
ilícito por parte dos fornecedores. No entanto, no caso da pandemia de
COVID-19, é evidente que tanto fornecedores quanto consumidores foram
gravemente afetados. Ambas as partes precisam repactuar a relação e se esforçar
para chegarem a um consenso, usando de boa-fé e transparência. Caso a caso deve
ser avaliado: um evento já bem próximo a data para a qual o fornecedor chegou a
realizar compras que podem ter vencido os produtos, por exemplo, é diferente de
outro evento que o fornecedor não chegou a fazer as compras. O fornecedor deve
demonstrar documentalmente com transparência seu prejuízo. E, assim, cada
contrato terá suas peculiaridades. Mais uma vez, a consensualidade deve pautar
as relações.
4 - Para casais que já pagaram uma parte e não têm como
honrar, por enquanto, o restante, como ficam os contratos? As empresas devem
devolver o que foi pago ou ajustar os pagamentos futuros para quando o casal
puder pagar?
Resposta: Todos os contratos foram descumpridos por força
maior, independentemente se a parte é o fornecedor ou o consumidor. Por esse
motivo, não há de ser aplicado multa. Caso os noivos queiram cancelar o evento,
o valor pago deve ser restituído de forma a combinar da melhor forma, em
crédito, nos termos do contrato, até o limite da execução que tenha sido feita,
mas realmente tudo vai depender de cada caso. Na hipótese dos noivos optarem
por celebrar o casamento mantendo o evento, caberá uma repactuação do contrato
entre as partes contratantes e ajuste da nova forma de pagamento. A negociação
é um dever de ambas as partes.
5 - Algumas empresas do mercado de casamento quebraram
nesse período. Como os casais podem recuperar o valor pago? Devem ingressar na
justiça? Ou não há essa opção?
Resposta: No caso de não existir nenhuma forma de
negociação, os contratantes devem ingressar na Justiça e será analisada a forma
da devolução dos valores. Se não houver acordo, virá uma sentença condenatória.
E se não houver pagamento espontâneo, as partes contratantes precisarão partir
para a Execução.
6 - Se tivesse que dar um conselho para empresas do setor
nesse período, em relação aos contratos, qual seria?
Resposta: A orientação seria buscar a remarcação, a
substituição em crédito dentro do período e, mediante a impossibilidade,
documentar e demonstrar aos contratantes para negociar a devolução dos valores
até o ponto em que foi realizado o serviço. Por exemplo: um serviço que foi 70%
executado foi praticamente terminado, o que se difere de um serviço recém
contratado. E assim por diante. Lembrando que, em toda negociação, as partes
precisam estar preparadas para ceder e abrir mão de alguma coisa, para se
chegar a um consenso.
7 - E para os casais, qual conselho daria?
Resposta: Trocar a data é a melhor opção, pois evita
maiores transtornos. Porém, é importante lembrar que o ato de renegociação de
data precisa que as partes façam concessões, pois os fornecedores estarão com
as agendas mais restritas devido a quantidade de noivos, debutantes e outros
remarcando.
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