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O Brasil está entre os menos favoráveis em relação
à prática do aborto. É o que mostra a pesquisa Global Views on Abortion,
realizada anualmente pela Ipsos com 25 países de todo o globo. Dentre 1.000
entrevistados brasileiros, apenas 16% acreditam que o aborto deveria ser
permitido indiscriminadamente, ou seja, sempre que uma mulher assim o desejar.
A média global é de 44%.
O posicionamento do Brasil coloca o país como o
mais intolerante ao aborto no ocidente, juntamente com o Peru, e como um dos
três mais intolerantes no mundo inteiro, se considerarmos as 25 nações
analisadas. O Peru está empatado com o Brasil também com 16% de favorabilidade
à escolha da mulher. O único país com índice ainda mais baixo que o dos dois
países sul-americanos é a Malásia, com 10% favoráveis à interrupção da gravidez
sempre que uma mulher optar por fazê-lo.
Na metodologia do estudo, os respondentes deveriam
escolher a frase mais representativa de seu ponto de vista: o aborto DEVE ser
permitido sempre que uma mulher assim o desejar; o aborto DEVE ser permitido em
determinadas circunstâncias, por exemplo, no caso de uma mulher ter sido
estuprada; o aborto NÃO deve ser permitido em hipótese alguma, exceto quando a
vida da mãe estiver em risco; o aborto NUNCA deve ser permitido, não importando
sob quais circunstâncias; e, finalmente, não sei/prefiro não responder.
Enquanto 16% dos brasileiros partilham de um ponto
de vista totalmente favorável em relação ao aborto, 38% creem que deve ser
permitido em casos específicos, como estupros. Entre os desfavoráveis, 21%
acham que não deve ser permitido em momento algum, somente se a saúde da
grávida estiver em risco, já 13% não apoiam a permissão do aborto em nenhuma
circunstância. Por fim, 12% dos ouvidos no Brasil não souberam ou não quiseram
opinar sobre o tema.
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Histórico do apoio à causa: Brasil já foi mais
tolerante
A pesquisa Global Views on Abortion é realizada
pela Ipsos no Brasil desde o ano de 2014 e, ao analisarmos o histórico
brasileiro, nota-se que a pauta do aborto já teve ondas de maior e menor apoio,
mas em 2020 voltou à marca de seis anos atrás.
Em 2014, o percentual de entrevistados opinando que
o aborto deveria ser permitido (medido pela soma das respostas “o aborto DEVE
ser permitido sempre que uma mulher assim o desejar” e “o aborto DEVE ser
permitido em determinadas circunstâncias, por exemplo, no caso de uma mulher
ter sido estuprada”) era de 53%. Em 2015, foram 52%.
No ano seguinte, houve um aumento no apoio à causa,
elevando o índice para 57%, mas uma queda brusca fez com que a taxa de
favorabilidade ao aborto chegasse aos 50%, em 2017. Em 2018, voltamos aos 57%
e, no ano passado, o brasileiro atingiu o auge de endosso à legalização do
aborto: 61%. Hoje, voltamos aos 53%. O movimento visto no Brasil no último ano
reflete o declínio na curva percebido no mundo desde 2016, quando a média
global era de 75%. Em 2017, o percentual caiu para 72% e, nos últimos três
anos, estagnou nos 70%.
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América Latina como berço do conservadorismo
Quando regionalizamos as respostas dos
participantes do estudo nos 25 países analisados, são significativas as
disparidades no apoio à prática do aborto. O continente europeu encabeça o
ranking dos mais permissivos: 58% acham que o aborto deve ser permitido sempre
que uma mulher desejar e 22% são favoráveis à interrupção da gestação sob
determinadas circunstâncias, totalizando 80%.
Na América do Norte, 47% são totalmente a favor e
24% em certos casos, somando 71%. No combo Ásia e Pacífico, os índices são de
43% e 28% de entrevistados, respectivamente, favoráveis ao aborto sempre e em
determinadas situações, totalizando 71% também.
Os percentuais de apoio ao aborto diminuem
consideravelmente na América Latina e no segmento Oriente Médio e África. No
segundo, nesta região, 38% acreditam que deve ser permitido sempre que uma
mulher desejar e 22% são favoráveis sob certas circunstâncias, somando 60%. Já
na América Latina, a taxa de entrevistados com ponto de vista favorável ao
aborto em qualquer caso cai para 26%, e em algumas situações, como um estupro,
fica em 36%. O total é de 62%.
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Quem são os favoráveis à legalização?
No Brasil, 55% dos homens acham que o aborto deve
ser permitido, contra 52% das mulheres. Esse percentual soma as pessoas
indiscriminadamente a favor e aquelas a favor sob determinadas circunstâncias.
No entanto, se levarmos em conta apenas os resultados “deve ser permitido
sempre que uma mulher assim o desejar”, o índice de favorabilidade é maior no
sexo feminino (17%) do que no masculino (15%).
No que diz respeito à idade, os menores de 35 anos
têm ponto de vista mais favorável à causa: 58% (22% acham que o aborto deve ser
permitido sempre que uma mulher quiser e 36% apoiam a legalização em casos
específicos, como estupro). Curiosamente, a faixa de idade mais velha – de 50 a
74 anos – partilha de uma opinião ligeiramente mais a favor do que aqueles
entre 35 e 49 anos.
Enquanto 51% dos entrevistados com idade entre 50 e
74 anos acham que o aborto deve ser permitido (10% apoiam indiscriminadamente e
41% sob determinadas situações), 48% daqueles de 35 a 49 anos são favoráveis à
opção de a mulher abortar (12% apoiam em todos os casos e 36% em circunstâncias
específicas).
Para finalizar o perfil, demonstram maior apoio à
legalização do aborto os brasileiros com alto grau de escolaridade. 21% creem
que deve ser permitido sempre que uma mulher o desejar e 38% apoiam a prática
em casos determinados, totalizando 59%.
Entre os que possuem um nível de educação médio,
54% demonstram apoiar a causa, sendo 16% a favor indiscriminadamente e 38% em
algumas situações, como estupro. Os entrevistados com grau de escolaridade mais
baixo são os que menos endossam a legalização do aborto. Apenas 5% acreditam
que um aborto deve ser realizado sempre que uma mulher quiser e 34% acham que
deve ser permitido em alguns casos, totalizando 39%.
Considerando uma visão global, o perfil do indivíduo favorável a tornar o aborto legal é de mulheres, com idade entre 50 a 74 anos e com alto grau de instrução. A pesquisa Global Views on Abortion foi realizada na plataforma on-line Global Advisor no período entre 22 de maio e 05 de junho de 2020 com aproximadamente 18 mil entrevistados em 25 países. A margem de erro para o Brasil é de 3,5 p.p..
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