Considerada
uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo na época, a Usina Binacional de
Itaipu, localizada no oeste do Paraná, foi construída dentro de um ambicioso
projeto entre o Brasil e o Paraguai, no período de 1975 até 1982. Era a época
da ditadura militar na América Latina e, principalmente de intensa rivalidade
política entre os países sul-americanos.
A
Usina Hidrelétrica de Itaipu está localizada no Rio Paraná, fronteira entre os
dois países, e a sua criação foi organizada por meio de um Tratado (fonte de
direito internacional público). Assim, juridicamente, cada Estado mantém a sua
própria estrutura de funcionamento e de operação da Usina (Itaipu Brasil e
Itaipu Paraguai), sendo que as negociações sobre compra e venda do excedente de
energia devem ser previamente precedidas de tratativas entre os chefes de
Estado e de seus chanceleres (ministros das Relações Exteriores).
Contratualmente,
na época da construção da Usina, cada País era detentor da metade da energia
produzida, e o Brasil comprometeu-se a adquirir a energia excedente não
utilizada pelo Paraguai. Na época do Tratado de Itaipu, no ano de 1973, o valor
desse excedente deveria ser vendido por preço de custo. Na época da construção
da Usina, importante esclarecer que a obra foi financiada pelos cofres
brasileiros e, assim, a compra do excedente, por parte do Brasil, seria uma
forma de saldar a dívida paraguaia.
No
ano de 2009, Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva renegociaram os termos
de compra do excedente da energia produzida pela hidrelétrica e o Brasil
concordou em pagar o triplo dos valores anteriormente pagos ao Paraguai pela
compra do excedente.
Em
maio de 2019, Brasil e Paraguai celebraram um acordo, pelo qual o lado
paraguaio da Usina de Itaipu comprometeu-se a aumentar o potencial contratado
até o ano de 2022. Ocorre que tal negociação gerou transtornos políticos ao
presidente paraguaio (Mario Abdo Benítez) e quase culminaram em seu
impeachment. Dentro do acordo energético, faz-se a diferenciação entre a
energia produzida pela Usina e o seu excedente (que se trata, em realidade, da
energia produzida acima da capacidade média de Itaipu e que ocorre, por
exemplo, quando os reservatórios estão cheios e no caso de chuvas).
Em
decorrência das alegações do Brasil, no sentido de que o Paraguai declararia um
consumo menor de energia consumida, seria possível um acesso maior de compra da
energia excedente. Ocorre que em 2007, Luiz Inácio Lula da Silva, em
negociações com o então presidente paraguaio Mario Abdo, celebrou acordo em que
a energia excedente passaria a ser adquirida pelo Paraguai a um custo menor.
Assim,
o acordo entabulado em maio deste ano entre os Estados segue em stand-by e à espera
de uma definição. Na análise do complexo caso em questão, cada Estado busca a
defesa de seus interesses soberanos acima representados e que, sem sobra de
dúvidas, deverá ser resolvido pela diplomacia e de forma a se buscar o
equilíbrio contratual entre as partes, dando, assim, a continuidade da
estratégica parceria.
Eduardo
Biacchi Gomes - doutor em Direito Internacional e professor do Centro
Universitário Internacional Uninter.
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