Conduzidas pela
Artemisia - organização pioneira no Brasil no apoio a negócios de impacto
social - as análises compiladas na Tese de Impacto Social em Habitação apontam
os principais desafios enfrentados pela população brasileira em situação de
vulnerabilidade econômica e identificam tendências e oportunidades para
empreender com impacto positivo no setor.
Moradia é um direito humano fundamental e vai além
do simples acesso a uma casa. Muito mais do que ter uma estrutura física
segura, os benefícios de uma habitação adequada têm forte relação com saúde,
educação, empregabilidade, autoestima e bem-estar geral das pessoas que ali
vivem.Nessa ótica, a casa tem uma abrangência maior do que um teto e quatro
paredes; interfere no acesso a serviços básicos e na relação com a cidade. As
dimensões que envolvem a residência estão relacionadas tanto aos aspectos
estruturais, jurídicos e financeiros, quanto aos emocionais e mais subjetivos,
que abarcam valores afetivos e culturais. Ao transformar positivamente o morar
em um espaço dotado de segurança, dignidade e conforto, vemos um impacto
transversal e positivo na vida das famílias e da sociedade.
A residência inadequada e precária influencia e
impacta negativamente a vida das pessoas, gerando consequências como
marginalização geográfica devido a localização dos assentamentos informais;
menor acesso a serviços básicos; alta vulnerabilidade e insegurança em termos
de localização em áreas de risco e de alto índice de violência; aumenta a
incidência de doenças respiratórias por casas insalubres, entre outros fatores.
Para analisar os desafios da habitação no Brasil – que afetam a vida das
pessoas em situação de vulnerabilidade econômica – e apontar quais seriam as
oportunidades para empreender para gerar impacto positivo nessa temática, a
Artemisia e Gerdau apresentam a Tese de Impacto Social em Habitação.
A análise setorial tem a parceria do Instituto Vedacit, Tigre e Votorantim
Cimentos; e apoio da CAIXA e CAU/BR.
A tese analisa dados quantitativos e qualitativos,
envolvendo moradia e impacto social; panorama da habitação no Brasil (déficit
habitacional, infraestrutura); segregação socioespacial; aglomerados
subnormais; mercado (construção civil e imobiliários); casa (aspectos físicos,
emocionais, segurança de posse, localização e financeiro); públicos
vulneráveis; políticas públicas; e visões do futuro. Um dos primeiros recortes
traz as oportunidades de empreender com impacto no setor diante dos desafios
mapeados pela Tese de Impacto Social em Habitação: soluções
financeiras para a habitação; regularização fundiária; aluguel acessível para
moradia adequada; reformas habitacionais e assistência técnica; gestão de
condomínio de habitação social; acesso e eficiência a serviços básicos;
qualificação dos espaços públicos e desenvolvimento local; capacitação e
oportunidades para profissionais da construção civil; e inovações em processos
e materiais da construção civil.
CONTEXTO E DESAFIOS |
A moradia tem uma relação direta e indireta com a
maioria dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: de 169 metas
estabelecidas nas ODS, 67 estão indubitavelmente ligadas à habitação e 38
relacionadas indiretamente. O ODS 11 – que prevê que até 2030 devemos tornar as
cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros resilientes e sustentáveis
– é o que está mais diretamente associado à temática. Entretanto, a questão da
moradia é atualmente um dos maiores desafios globais; grande parte da população
vulnerável economicamente vive em situações habitacionais precárias.
Assentamentos informais, favelas e outros bairros residenciais pobres
constituem um fenômeno global – sobretudo em países em desenvolvimento.
No Brasil, o processo de urbanização aconteceu a
partir da segunda metade do século XXI de forma rápida. Em meados de 1960, a
maioria da nossa população já vivia em cidades. Porém, o acesso à terra pelo
mercado formal – ou por políticas públicas – foram insuficientes para atender
todas as pessoas que chegavam às cidades. E as consequências disso repercutem
até hoje, com a atual segregação socioespacial, tendo a presença de favelas e
ocupações como parte do cenário das grandes cidades.
O acesso à habitação adequada está longe de ser a
realidade para grande parte dos brasileiros. De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% da população brasileira vive
em áreas urbanas, onde se concentram os grandes desafios habitacionais,
principalmente nas regiões metropolitanas. A população de baixa renda é a mais
afetada por esses desafios e enfrenta as maiores barreiras para alcançar o
direito à moradia e à cidade. Muitas dessas regiões não têm acesso à
infraestrutura básica: 45% da população ainda não possui esgotamento sanitário
adequado (Agência Nacional de Águas, 2017); 8,3% não possui coleta domiciliar
de resíduos sólidos; e 16,5% não são atendidos pela rede de abastecimento de
água (SNIS| Diagnóstico de Água e Esgoto, 2017). Para se ter uma ideia do
impacto e consequência em outros setores, de acordo com a Organização Mundial
de Saúde (OMS), a cada US$ 1 investido em água e saneamento, há uma economia de
custos com saúde no mundo da ordem de US$ 4,3.
Nesse contexto, o país apresenta um déficit
habitacional quantitativo e o qualitativo. O desafio habitacional quantitativo
– déficit no estoque de moradias, ou seja, necessidade de construção de novas
casas – envolve habitações precárias, comprometimento da renda com aluguel
excessivo; coabitação familiar e adensamento excessivo de moradores em imóveis
alugados. Já os entraves qualitativos – que se referem à adequação das moradias,
ou seja, domicílios que não proporcionam condições desejáveis de habitação por
serem carentes de infraestrutura – envolve o adensamento excessivo em
domicílios próprios, inadequação fundiária, cobertura inadequada e inexistência
de unidade sanitária domiciliar. Enquanto o déficit quantitativo é de 7 milhões
de domicílios (87,7% em áreas urbanas e 783 mil unidades em rurais), o déficit
qualitativo é de 11 milhões de domicílios, de acordo com dados da Fundação João
Pinheiro (2015).
De acordo com Marcos Faraco, diretor-executivo da
Gerdau Aços Brasil, o desenvolvimento da Tese teve como objetivo trazer um
melhor entendimento dos desafios da habitação para baixa renda no país. “Havia
pouco conteúdo disponível sobre o cenário brasileiro para habitação de pessoas
de baixa renda, principalmente no que diz respeito a oportunidades de negócios
de impacto social para quem quer empreender com impacto. Por isso, a Tese é uma
contribuição não só para as parceiras da iniciativa, mas também empodera
qualquer agente da sociedade que queira trabalhar com pautas que envolvam as
questões de habitação no Brasil”, afirma.
De acordo com Marco Bicudo, presidente da Vedacit e
do Instituto Vedacit, a Tese traz análises fundamentais para nortear todos os
tipos de investimento – sejam social privado, direto das empresas ou
de investidores em startups. “O material mostra quais são os principais
desafios e dilemas neste campo e quais são as áreas que precisam de mais
atenção, contribuindo para oportunidades de empreender assertivas e
direcionadas”, afirma. O executivo acrescenta que “entre os maiores desafios
que nos instigam a pensar em soluções está o número de moradias insalubres no
Brasil. Por isso, acreditamos que o empreendedorismo de impacto é um dos caminhos
para apoiar a solução deste problema”.
“Colaborar para o desenvolvimento da Tese de
Impacto Social em Habitação faz parte do nosso legado de
contribuir para a construção de um mundo melhor”, afirma Otto von Sothen,
presidente do Grupo Tigre. “Sabemos que tanto a precariedade do saneamento
quanto o déficit habitacional estão entre os grandes problemas sociais que o
país enfrenta. Nesse contexto, estimular – por meio da inovação – o
desenvolvimento de novos negócios que ofertem soluções para a população de
baixa renda se faz fundamental para transformamos a realidade do país. A Tese,
com seu rico conteúdo, permite reflexões sobre oportunidades importantes para a
busca de soluções. E, a simples discussão que estamos gerando em torno dela,
joga luzes em um problema sobre o qual todos os setores devem debruçar”,
avalia.
Hugo Armelim, diretor de Vendas, Marketing e
Operação de Concreto da Votorantim Cimentos complementa: “como uma indústria de
materiais de construção, temos um papel importante na transformação das
comunidades onde atuamos com nossas fábricas e operações. Temos o compromisso
de deixar legados com marcas positivas na sociedade e construir aquilo que é
feito para durar. Proporcionar melhores condições de habitação para famílias
brasileiras é tema central para nós, por sabermos da força que esse tema tem
para mudar realidades de vida”.
OPORTUNIDADES
#1 | Soluções financeiras para a habitação
Facilitar o acesso ao crédito com taxas acessíveis
para aquisição ou reformas de moradias é o foco da primeira oportunidade,
considerando a premissa quenão existe mercado imobiliário sem uma estrutura de
financiamento. A falta de soluções financeiras adequadas à realidade das
pessoas de baixa renda é um dos principais entraves para a oferta de soluções
de moradia. Acoplar soluções financeiras aos serviços ofertados é essencial
para quem quer atuar com impacto no setor, atendendo essa parcela da população.
A oportunidade abarca crédito para reformas de moradias e de pequenos comércios
em comunidades – com análise diferenciada de concessão e parcelamento – além de
valores e taxas acessíveis; consórcio para reformas; e financiamento para
aquisição de casa própria adaptadas às necessidades e características da
população de menor renda.
É importante ressaltar que há falta de soluções
financeiras adequadas tanto para o cliente de baixa renda, quanto para o
empreendedor – que precisa acoplar soluções financeiras aos serviços
ofertados para atender as necessidades dessa parcela da população.
Em um cenário no qual o modelo de análise de
crédito formal não é aderente para os brasileiros em situação de
vulnerabilidade econômica, mostra-se necessário criar novos mecanismos para
facilitar o acesso ao crédito, com taxas mais acessíveis, seja para aquisição
ou para reformas de moradias. Essa premissa responde ao fato de que a população
de menor renda – em especial, a não bancarizada – faz pouco uso de serviços
financeiros que não se adequam as suas reais necessidades e não consegue
acessar crédito; isso ocorre por não ter histórico construído em instituições
financeiras. Com isso, o uso de dados não estruturados para a construção de um
histórico de crédito focado nessa parcela populacional, por exemplo, mostra-se
um caminho a ser explorado.
Segundo Maure Pessanha, para fins de aquisição ou
reforma, é importante pensar em instrumentos financeiros adequados como juros,
prazo de pagamento e documentos/formalidades necessários. “Acoplar soluções
financeiras ao negócio de impacto social é uma necessidade dos empreendedores
que atuam com habitação para viabilizar ao cliente o acesso ao produto ou
serviço proposto”, afirma Maure, acrescentando que entre as oportunidades
destacam-se o crédito para reformas de moradias e de pequenos comércios das
comunidades – com análise diferenciada de concessão, parcelamento, além de
valores e taxas acessíveis –; consórcio para reformas; e financiamento para
aquisição de casa própria, adaptadas às necessidades e características da
população de menor renda.
Entre os negócios que atuam nessa perspectiva,
destaque para oVivenda – que realiza reformas habitacionais de
baixo custo e criou o primeiro debênture de impacto social para
viabilizar reformas acessíveis e parceladas para a população de menor renda – e
Programa
Doce Lar, empresa especializada em gerenciamento e execução de
obras que, em parceria com o Banco do Empreendedor, criou a linha Credi
Reforma Doce Larpara financiamento de obras habitacionais.
#2 | Regularização fundiária
A análise do contexto da segunda oportunidade
aponta para a necessidade de garantir segurança de posse. O poder público não
fornece serviços básicos de infraestrutura (água, esgoto, energia e coleta de
lixo) em áreas irregulares. A regularização fundiária – conjunto de medidas
jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais, que visam legitimar posse ou
propriedade em áreas urbanas ocupadas irregularmente, garantindo o direito à
moradia – tem alto potencial de trazer impacto positivo na qualidade de vida da
população de baixa renda.Embora a segurança de posse seja um dos pilares para
classificar uma moradia como adequada, parte das famílias em situação de
vulnerabilidade econômica estão em áreas de ocupação irregular, ou seja,
encontram-se em situação de inadequação fundiária. Essas pessoas também têm dificuldade
para pagar o registro de imóveis e a escritura, após a conclusão do processo de
regularização.
Diante disso, há oportunidades para serviços de
intermediação entre moradores de ocupações, poder público e donos das
propriedades privadas para regularizar assentamentos irregulares; e para
soluções voltadas a reduzir a assimetria de informação e o custo dos processos
e documentos necessários para regularização. Como exemplos de negócios de
impacto que endereçam a questão, a Terra Nova – empresa fundada
pelo advogado André Albuquerque que realiza mediação de conflitos humanos para
a regularização fundiária de interesse social em áreas urbanas ocupadas
irregularmente.
#3 | Aluguel acessível para moradia adequada
Essa oportunidade aborda a possibilidade de acesso
à moradia digna por meio de um aluguel acessível e desburocratizado. Opção de
moradia em centros urbanos, o aluguel é uma alternativa para possibilitar uma
localização que traga mais acesso a serviços básicos, lazer e emprego. No
entanto, as pessoas de baixa renda estão mais distantes de encontrar uma
solução adequada às suas necessidades, seja pelo ônus excessivo com aluguel –
muitas vezes o gasto com aluguel é acima de 30% da renda familiar –;
dificuldade em acessar o mercado formal que requer comprovação de renda e
fiador; ou pela insegurança de permanência pela informalidade (aluguéis sem
contrato formal).
Hoje, as pessoas em situação de vulnerabilidade
econômica estão pagando de R$ 500 a R$ 600 de aluguel no mercado informal – que
inclui cortiços e moradias inadequadas nas periferias –, o que aponta uma
demanda de mercado mal atendida. Nesse cenário, a locação social aparece como
uma tendência global, trazendo um olhar para moradia como um serviço e não como
um bem. No Brasil, é interessante notar que essa alternativa está sendo
considerada, inclusive, como um possível próximo passo para políticas de
habitação social em uma reformulação do Programa Minha Casa Minha Vida.
Dentro dessa perspectiva, são oportunidades para
empreender os serviços que trazem conexão entre proprietários e interessados em
alugar um imóvel – que considere as particularidades do público como, por
exemplo, dificuldade na comprovação de renda, acesso a avalista ou fiador –;
serviços que permitam a moradia em áreas centrais das cidades por meio de
aluguéis acessíveis; serviços para formalização de contratos de aluguel para
garantir a segurança das duas pontas; e serviços que possibilitem o
compartilhamento de moradias de modo a reduzir os custos individuais.
Um dos exemplos é a plataforma Alpop –
que facilita o processo de aluguel entre locadores e locatários sem a
necessidade de fiador e comprovação de renda. Com foco na população de menor
renda, a empresa desenvolveu uma metodologia própria para “analisar a
credibilidade” e a chance que um inquilino fique inadimplente. A empresa foi
fundada em Campinas, São Paulo, e atua com foco em famílias com renda de até
seis salários mínimos. Entre os clientes da solução, estão os trabalhadores
informais. A startup é também uma “seguradora”, que garante o pagamento
de até três meses ao locador e, se necessário, assume as ações de despejo.
#4 | Reformas habitacionais e assistência técnica
O objetivo de possibilitar acesso a reformas
habitacionais e assistência técnica acessível e qualificada permeia essa
oportunidade dentro de uma realidade na qual a maioria das construções e
reformas são feitas sem o apoio de um profissional especializado e
planejamento. Esse procedimento pode resultar em moradias de baixa qualidade e
problemas à saúde dos seus moradores – por questões com umidade e falta de
ventilação, por exemplo. Um outro ponto relevante é que as reformas realizadas
via autoconstrução são mais demoradas e tendem a ser mais caras por conta das
compras fracionadas do material, que muitas vezes, é usado de forma incorreta,
gerando insegurança e desperdício.
Entre as oportunidades destacadas estão a oferta de
serviços com solução completa de reforma de cômodos da casa, incluindo
assistência técnica, planejamento e materiais; e serviços de arquitetura
acessíveis – voltados ao desenho de projeto e planejamento de obra para
construção e/ou expansão de casas.
Vivenda e Digna Engenharia Social são
exemplos de negócios de impacto social dentro dessa oportunidade. O Vivenda–
empresa inovadora, fundada pelo Fernando Assad, Igiano Lima e Marcelo Coelho –
nasceu da vontade de atender uma demanda reprimida da população de baixa renda:
melhoria nas residências por meio de reformas capazes de causar uma repercussão
significativa na saúde e qualidade de vida dos moradores. A mudança vem de
dentro, como afirma o sloganda iniciativa. Ao mudar o espaço
físico e a relação com o lar, muda-se a autoestima e a sensação de dignidade.
Além disso, moradias mal construídas aumentam substancialmente o risco de
doenças respiratórias. Esse fenômeno é agravado em áreas de elevada
concentração populacional como as favelas, onde o espaço é escasso e nem sempre
um morador tem condições de abrir uma janela para a ventilação de um cômodo. É
frequente a ocorrência de umidade e mofo, que agravam esses problemas. Não por
acaso, em São Paulo observa-se maior incidência de pneumonias e tuberculose em
favelas, fenômeno que se repete no caso da mortalidade infantil.
O centro da comunidade do Jardim Ibirapuera,
periferia da zona sul de São Paulo, foi o endereço escolhido pelos
empreendedores para montar o primeiro escritório do negócio. Com uma solução
integrada, a empresa atua com kits para reformas que podem ser pagos em até 30
parcelas, com entrega feita, em média, em seis dias. As reformas obedecem a uma
lógica peculiar, que passa longe dos fatores meramente estéticos. Os projetos
têm a proposta de melhorar a residência para causar impacto diretamente na
saúde e na qualidade de vida dos moradores. O Vivenda trabalha
com cinco kits voltados a reformas de banheiro, cozinha, área de serviço, sala
e quarto, e tem o ticket médio de R$ 7,5 mil.
Fundada pela engenheira civil Evelin Mello, a Digna
Engenharia Social faz reformas em habitações localizadas
em regiões periféricas de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Com a atuação,
reduz condições de insalubridade, promove saúde e amplia o acesso da população
de menor renda a reformas profissionais. A motivação veio da própria
experiência da empreendedora. Por ser moradora de periferia e estudar a adoção
de técnicas alternativas para a restauração de habitações de pessoas em
situação de risco social, pôde desenvolver uma solução de reforma estrutural,
cujo orçamento do serviço é flexibilizado de acordo com a realidade do cliente.
O modelo de receita é baseado na venda direta do serviço, tendo 30% de lucro
sob o valor da reforma. As formas podem ser parceladas no cartão de crédito ou
feitas com entrada de 50% e saldo em até 10 vezes no boleto. Até o momento, o
negócio já realizou 40 reformas.
#5 | Gestão de condomínio de habitação social
Qualificar e otimizar a gestão de condomínios de
Habitação de Interesse Social (HIS), gerando inserção socioeconômica para
famílias de menor renda, está no cerne dessa oportunidade. Grande parte das HIS
está em regime de condomínio, algo novo para seus moradores – pessoas de
diferentes históricos que precisam se adaptar às novas regras, relações sociais
e convívio em áreas comuns e coletivas. Entre os contextos a serem
considerados, a má gestão potencializa níveis elevados de inadimplência,
deterioração de áreas comuns, evasão de moradores e invasão pelo crime
organizado. Apesar da necessidade latente de apoio a gestão desses condomínios,
ainda há pouca oferta especializada. Do outro lado, a portaria número 464
do Ministério das Cidades estabelece a responsabilidade da administração
pública pela gestão condominial, condicionando a execução à empresa
especializada – o que abre oportunidades promissoras para empreender dentro da
temática.
Na quinta oportunidade, destaque para soluções de
formação profissional para síndicos de habitação de interesse social;
plataformas e serviços que facilitem a gestão do condomínio e ofereçam
treinamento aos moradores sobre a rotina em condomínios; e serviços adaptados
para demandas de limpeza e manutenção de áreas comuns. Entre os negócios que
atuam com a temática está o SmartSíndico – aplicativo que
apoia síndicos de habitação de interesse social em demandas administrativas e
confere transparência à gestão por meio de uma solução tecnológica.
Criado em 2017 por um grupo de especialistas em
administração condominial de Habitação de Interesse Social – Cássio Thut,
Guilherme Ribeiro e Juraci B. Garcia – o SmartSíndicoé um aplicativo que ajuda
síndicos e moradores de condomínios a fazerem uma administração mais simples e
econômica, zelando pela manutenção e redução de custos e de conflitos. Com
videoaulas sobre sustentabilidade, finanças e temas relacionados, o negócio de
impacto social confere a autonomia necessária para melhorar a gestão de um
condomínio, focando em habitações sociais como CDHU, Cohab, Minha Casa Minha
Vida e Projeto Cingapura. A solução já está presente em mais de 800
condomínios.
#6 | Acesso e eficiência a serviços básicos
Moradias afastadas dos centros estão privadas de
parte dos serviços básicos de infraestrutura como água, esgoto, coleta de lixo
e energia elétrica. É preciso considerar alternativas que levem em consideração
a sustentabilidade ambiental e a viabilidade financeira às pessoas em situação
de vulnerabilidade econômica. Essa oportunidade fala sobre possibilitar
acesso a alternativas de qualidade para os serviços básicos – água, energia,
esgoto e coleta de lixo –; gerar eficiência energética; criar mecanismos para o
consumo consciente de energia e água; e reduzir os custos com moradia – levando
em consideração a sustentabilidade ambiental e a viabilidade financeira às
pessoas em situação de vulnerabilidade econômica.
Essas demandas estão inseridas em uma realidade na
qual as moradias afastadas dos centros ou assentamentos irregulares são
privadas de parte dos serviços básicos de infraestrutura. Em contrapartida, no
Brasil, a habitação representa hoje a maior despesa de consumo familiar, sendo
que uma parcela considerável dos gastos está atrelada a taxas desses serviços.
Diante dessa realidade, são oportunidades negócios
de impacto social que atuem com produtos e serviços que permitam a otimização
do uso e consequente redução de custos com energia (Internet das Coisas, por
exemplo, para identificar padrões de consumo); soluções para o acesso à energia
não convencional a um custo acessível, que gere economia com a conta de luz em
longo prazo (parcelamento de painel fotovoltaico, por
exemplo); tecnologias de geração de energia solar térmica para aquecimento
de água a baixo custo; e sistemas alternativos para coleta de lixo.
Entre os negócios de impacto que já endereçam a
oportunidade, Stattus4 e Greenant são exemplos. Fundada em 2015
por Marília Lara e Antonio de Oliveira, a Stattus4 está inserida no
contexto de cidades inteligentes, internet das coisas e sustentabilidade. A
empresa que atua com um sistema de gerenciamento de distribuição de água que
identifica vazamentos na rede distribuidora via dispositivo. O negócio
desenvolve soluções baseadas em inteligência artificial para que o uso de
recursos seja feito de maneira racional e sustentável. Já a Greenant é
umnegócio de tecnologia que tem o objetivo de estimular a eficiência energética
por meio do acesso à informação, por meio de um algoritmo próprio, desenvolvido
pelo empreendedor Pedro Bittencourt. A partir de um medidor inteligente, é
possível identificar os aparelhos de maior consumo na residência e propor
alternativas para redução de consumo. O negócio de impacto social fluminense
disponibiliza uma plataforma onlinepara gestão e acompanhamento dos
gastos em tempo real por eletroeletrônico – e envia recomendações direcionadas
com foco na ação via SMS. A solução é aplicável tanto para residências quanto
para empresas que busquem mais controle dos gastos energéticos. Além de Pedro
Bittencourt, o negócio tem como sócios-fundadores Raphael Guimarães, Thiago
Holzmeister, Vagner do Nascimento e Caio Mehlen.
Com a plataforma, o cliente diminui a possibilidade
de “surpresas” no final do mês, uma vez que pode acompanhar os gastos de
energia por eletrodoméstico, em tempo real. O negócio atua com a expansão da
consciência do consumidor, à medida que traz o histórico de gastos por
equipamento e ajuda a identificar aqueles que estão gastando muita energia,
inclusive em razão de defeitos. Apoia a redução efetiva do consumo ao sinalizar
se as metas pré-estabelecidas estão sendo ultrapassadas, o que ajuda também no
monitoramento em tempo real e no direcionamento das ações necessárias.
#7 | Qualificação dos espaços públicos e
desenvolvimento local
A proposta da sétima oportunidade é melhorar
espaços públicos e comuns em comunidades de baixa renda, fortalecer a economia
local e levar acesso à cidade para as periferias. Essa lógica parte da
constatação de que habitação ultrapassa a noção de quatro paredes, tendo forte
relação com seu entorno. Parte da população de baixa renda vive em periferias e
áreas afastadas dos centros das cidades, com baixo acesso a serviços básicos e
poucas opções de lazer e mobilidade urbana. Nesses locais, há uma cultura de
valorização dos espaços comuns como lugar de encontro; há uma intensa
sociabilidade entre moradores que resulta em uma forte rede de apoio,
fortalecimento da cultura própria da região e economia local, como pequenos
comércios e serviços da comunidade.
Com essa característica – que alarga o conceito de
habitação para além da residência – as oportunidades de empreender residem em
instalações de mobiliários urbanos, parques, praças, quadras em áreas
periféricas com pouca oferta; reformas e projetos de assistência técnica
para moradias usadas por comerciantes ou prestadores de serviço da região;
produtos e serviços para estimular a economia local; e serviços que permitam o
desenvolvimento local (educação, empregabilidade e saúde) e o fortalecimento da
cidadania. Segundo Maure Pessanha, o mapeamento mostra que as comunidades são
distintas e as soluções precisam estar bem adaptadas à realidade local,
incluindo ou sendo propostas por moradores da região.
Entre os negócios está o ErêLab –
que desenvolve mobiliários urbanos lúdicos que potencializam o desenvolvimento
cognitivo e psicomotor de crianças na primeira infância. Fundada em 2014 – por
Roni Hirsch, artista e cenógrafo, e Helo Paoli, formada em Artes Plásticas e
com experiência em produção executiva ligada à arte e cultura – a empresa cria,
produz e instala objetos de pequeno, médio e grande portes, que exploram temas
com viés de brasilidade, para serem instalados em praças, parques e espaços
ociosos das cidades. A proposta é fortalecer o senso de cidadania, o respeito
ao espaço público e estimular as interações entre pais e filhos nesses
ambientes.
Um outro exemplo é a Repagina.Me,
empresa que nasceu com o objetivo de melhorar pequenos negócios por meio de
reformas rápidas, projetos 3D, vitrinismo e visual merchandising em pacotes
adaptados para atender o público da periferia. Fundada por Grazi Silva, a
iniciativa auxilia o empreendedor durante a construção ou melhoria de um novo
modelo de negócio. Com atendimento diferenciado e baixo custo, conduz reformas
incluindo projeto, mão de obra, material de construção, contratação de
terceiros e gestão da obra.
#8 | Capacitação e oportunidades para profissionais
da construção civil
A oitava oportunidade destaca a necessidade de
ampliar as oportunidades profissionais para o trabalhador da construção civil e
de qualificar a mão de obra do setor. A falta de mão de obra qualificada –
resultado do baixo acesso a treinamento ou pela dificuldade no uso de
tecnologias – é um dos grandes desafios de habitação. Os profissionais da
construção civil têm um histórico de baixo nível educacional e atuam de forma
informal, costumando ter um rendimento financeiro menor que os trabalhadores
formalizados.
Entre as oportunidades que dialogam com esse
cenário estão os cursos profissionalizantes acessíveis para o gerenciamento de
obras (criação de orçamentos, gestão financeira); cursos e plataformas de
treinamento para empresas da construção civil; uso da realidade virtual e
aumentada para treinamentos e data analyticsaplicada ao setor para
valorizar e reter profissionais qualificados; e soluções de intermediação na
contratação de pedreiros, mestres de obras etc.
A Diosa é um dos exemplos de
negócios de impacto social dentro da oportunidade. A startupde
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, endereça dois desafios: empregabilidade
feminina e a transformação de moradias insalubres. Fundada há dois anos por
Maíra Peres e Larissa Blessmann, a empresa é um marketplaceonline
que conduz a intermediação de serviços de reformas residenciais e consertos
feitos por mulheres. Na prática, amplia as possibilidades de aumento de renda
feminina, promove possibilidades de desenvolvimento para prestadoras de
serviços, além de trazer mais opções para contração desse tipo de serviço. Com
a Diosa,
as mulheres podem acessar uma série de profissionais para manutenções gerais em
suas residências e se sentirem seguras. Desde o início, o negócio já atendeu
mais de 1000 solicitações.
#9 | Inovações em processos e materiais da
construção civil
Percebido como pouco tecnológico, o setor da
construção civil enfrenta desafios de improdutividade, sobra e desperdício de
materiais – além da desqualificação da mão de obra (#8 oportunidade).
O mercado está passando por um momento de transformação, com foco em inovações,
impulsionado pela mudança da venda do serviço – não só do produto –, para a
demanda do uso de novas tecnologias e a necessidade de se pensar em uma
economia circular. Novos materiais e soluções que tornem os processos mais
eficientes podem baratear o custo de produção de unidade habitacional, tanto
para famílias construírem suas casas, como para o poder público. É sobre novos
materiais mais sustentáveis; resistentes e baratos; e processos inovadores,
eficientes e com custos menores que aborda essa oportunidade.
Entre as possibilidades destacadas nessa
oportunidade estão o desenvolvimento de moradias com novos materiais mais
sustentáveis, resistentes e/ou baratos; plataformas que conectem obras com
sobras de materiais de qualidade e pessoas de menor renda que estão
construindo/reformando suas moradias; e plataformas acessíveis que permitam
gerenciamento de obras ou conexão entre as etapas do processo construtivo (do
projeto à finalização da obra).
Entre os desafios que precisam ser considerados
para essa oportunidade está a constatação de que materiais construtivos são
muito regulamentados, demandando análise de desempenho e cumprimento de
requisitos estipulados pelos órgãos reguladores – ou seja, a aprovação de novos
materiais envolve um elevado investimento. Além disso, para utilização de novas
tecnologias e materiais, é preciso considerar a necessidade de qualificar a mão
de obra que estará envolvida no processo de construção. Um fator relevante é
que há um entrave cultural a ser considerado para inserção de novos materiais
no mercado, mesmo que apresentem melhor desempenho. No Brasil, existe a cultura
de construção estar relacionada à alvenaria, por isso, introduzir novos
materiais que fogem à lógica atual traz desafios.
A Ecolar é um dos negócios que
atuam na temática. Fundada em São Paulo por Fernando Teles, a empresaatua com a
construção de casas ecológicas de baixo custo, voltada à população que habita
residências inadequadas e insalubres. A casa produzida pela Ecolar usa
como matéria prima material reciclado e sustentável: as tecnologias Wood Framee
Modular, pouco difundidas no Brasil. As placas usadas nas casas são feitas a
partir de embalagens ‘longa vida’ e plásticos reciclados. As casas têm 20, 30 e
40 metros quadrados e saem a um custo de R$ 14,5 mil, R$ 21 mil e R$ 28 mil,
respectivamente. Os resultados iniciais contabilizados estão na ordem de 4,5
milhão de embalagens recicladas, uma escola e 28 ecolares construídos. No país,
milhões de pessoas sentem diariamente a falta de dignidade, segurança, saúde,
perspectiva de futuro. Do outro lado, o problema ambiental é igualmente
preocupante. Nesse cenário, a Ecolar criou como solução de baixo custo; que
apresenta agilidade na montagem, durabilidade, segurança, além do impacto
ambiental positivo.
METODOLOGIA DO MAPEAMENTO | A Tese de
Impacto Social em Habitação foi conduzida com análises
aprofundadas de relatórios, pesquisas e estudos do setor; a equipe da Artemisia
lançou um olhar apurado para as necessidades de habitação das pessoas em
situação de vulnerabilidade econômica e a importância do tema na qualidade de
vida da população. Foram realizadas 15 entrevistas em profundidade. A motivação
das organizações parceiras da iniciativa foi apresentar as oportunidades mais
promissoras para o desenvolvimento de negócios que podem gerar impacto social
em habitação. Para isso, foram analisados os principais desafios atuais da
temática - que afetam a população de baixa renda no país – para chegar às reais
oportunidades de empreender que possam gerar impacto positivo à sociedade.
SOBRE OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL | São
empresas que oferecem, de forma intencional, soluções para problemas sociais e
ambientais enfrentados pela população em situação de vulnerabilidade econômica.
Entre as características principais estão o foco na baixa renda (produtos e
serviços desenhados de acordo com as necessidades e características dessa
população); intencionalidade (possuem a missão explícita de causar impacto
social e são geridos por empreendedores éticos e responsáveis); potencial de
escala (podem ampliar o alcance por meio da expansão do negócio, da replicação
em outras regiões por outros atores, ou pela disseminação de elementos
inerentes ao negócio por outros empreendedores, organizações e políticas
públicas); rentabilidade (possuem um modelo robusto que garante a rentabilidade
e não depende de doações ou subsídios); impacto social relacionado à atividade
principal (o produto ou serviço oferecido diretamente gera impacto social ou se
trata de projeto/iniciativa separada do negócio – sim, da atividade principal);
distribuição ou não de dividendos (um negócio pode distribuir ou não dividendos
a acionistas; decisão que não é um critério para definir o impacto social).
A Artemisia toma por base a visão de Amartya Sen,
Prêmio Nobel de Economia, de que “a pobreza é a privação das capacidades
básicas de um indivíduo, não apenas ao fato de possuir renda inferior a um
patamar preestabelecido”. Com essa perspectiva, a organização acredita que os
negócios de impacto social podem gerar melhorias na qualidade de vida da
população de menor renda em cinco principais dimensões aos diminuir os custos
de transação; promover oportunidades de desenvolvimento; possibilitar aumento
de renda; reduzir condições de vulnerabilidade; e fortalecer a cidadania e os
direitos individuais.
Fontes:
Artemisia - www.artemisia.org.br
Gerdau
INSTITUTO
VEDACIT - www.futurodascidades.com.br
GRUPO
TIGRE
VOTORANTIM
CIMENTOS
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