É muito comum a
sociedade julgar pais e mães – e as crianças! – que fazem xixi na cama após os
cinco anos de idade. Mimada, preguiçosa, sem educação, problemas psicológicos,
brigas no casal e a chegada de um irmão. Porém, o que poucas pessoas sabem é
que a causa pode ser genética. Para solucionar o problema da criança, é
necessário entender se os pais também tiveram enurese. A genética é responsável
por 75% dos casos, sendo que, caso um dos pais tenha tido o transtorno, a
chance de o filho ter é de 44%. Caso os dois tenham sofrido com a escapada do
xixi na madrugada, a chance de a criança ter sobre para 77%.
Vincent Iannelli,
pediatra e membro da Academia Americana de Pediatria reforça o tema e diz que
“grande parte dos casos é relacionada à hereditariedade, sendo apenas 15% por
outras motivações e, raros casos, por distúrbios do sono, diabetes, problemas
físicos e psicológicos”. O médico ainda completa o time de especialistas da
Associação Médica do Texas e da Sociedade Médica do Condado de Dallas.
Identificar o
transtorno o quanto antes ajuda no começo do tratamento. “Com muita frequência,
os distúrbios miccionais não são valorizados nas consultas de rotina, por isso,
observar a criança e estar atento aos sinais é fundamental para o diagnóstico.
Por ser uma fase de desenvolvimento infantil, acordar molhado até os 5 anos de
idade pode ser considerado normal. Mas, após esta idade, é importante que a
possibilidade de Enurese seja considerava pelos pais e pelo pediatra”, diz Dr.
Atila Rondon, Urologista, com atuação em Urologia Pediátrica, professor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ e Coordenador do Departamento
de Urologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Além da genética,
outros fatores podem predispor o xixi na cama, como a deficiência de secreção
de vasopressina noturna (substância que diminui a produção de urina durante a
noite), bexiga pequena para a idade ou hiperativa (diminuindo a capacidade do
órgão de reter a urina), problemas estruturais no trato urinário e dificuldade
de acordar a noite, em resposta à bexiga cheia.
De acordo com o
especialista da SBU, “o mais comum é a deficiência no hormônio antidiurético: a
substância responsável por diminuir em até 80% a produção de urina durante a
noite. É só assim que as pessoas passam oito horas dormindo sem precisar ir ao
banheiro”.
Diagnóstico
Além de considerar os
antecedentes pessoais e familiares, o diagnóstico pode ser feito com observação
do desenvolvimento psicomotor, com informações sobre o treinamento e controle
esfincterianos e os sintomas de distúrbios relacionados ao enchimento e
esvaziamento da bexiga. Adicionalmente, pode ser necessário submeter a criança
a um exame genital, neurológico, de urina e de sangue.
Com a ajuda do médico, o tratamento deve
começar o mais rápido possível. Isso permitirá à criança e à família melhor
qualidade de vida, evitando implicações negativas com baixa autoestima e
transtornos psicossociais como ansiedade e comportamento antissocial.
Tratamento
A Enurese pode ser tratada com orientações
comportamentais, medicamentos, fisioterapia específica ou até mesmo,
psicoterapia. Entretanto, a parte mais importante do tratamento é a família
compreender os motivos e a evolução clínica da Enurese, evitando castigos,
repreensões ou até mesmo sentimento de culpa e frustração, já que os episódios
podem oscilar mesmo a partir dos métodos sugeridos pelo especialista. É preciso
paciência, carinho e constante acompanhamento médico.
“O apoio da família é fundamental para o
sucesso no tratamento. Punir a criança, expor o problema do pequeno aos amigos
ou familiares não resolve o problema e, pior, atrapalha ainda mais o processo
de cura”, ressalta Atila Rondon.
Algumas das causas da Enurese são excesso de
produção de urina, menor capacidade vesical ou dificuldade de acordar. Nestes
casos, o especialista pode indicar medicações ou dispositivos médicos. Inserir
pequenas mudanças na rotina, como evitar que a criança ingira líquidos 2 horas
antes de dormir e incentivar o xixi antes de deitar e logo ao acordar, também
são recomendados e podem trazer bons resultados. Cada noite seca precisa ser
encarada como uma vitória, valorizada com elogios e muito carinho.
O acompanhamento psicológico é importante,
tanto para a criança, quanto para a família. “O problema leva os pequenos a se
sentirem envergonhados e há impactos negativos em sua vida social como, por
exemplo, evitar convites para dormir na casa de amigos. Sem contar a influência
que a doença tem sobre a qualidade do sono, que piora, e pode prejudicar o
rendimento escolar”, acrescenta. O psicólogo se torna um importante aliado, já
que além de recuperar a autoestima das crianças, também pode orientar os pais
sobre como lidar com o transtorno.
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