Embora durante muito tempo,
havia a crença de que a gravidez tinha um papel na melhora ou até mesmo na
remissão dos sintomas da endometriose, um estudo recente, apresentado durante o
VI Congresso Brasileiro de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva, que
aconteceu em São Paulo, no mês de setembro, as evidências atuais disponíveis
sugerem que a gestação não resulta em benefícios ou melhora dos quadros de
endometriose.
O estudo, publicado no jornal científico Human Reproduction, foi uma revisão
da literatura disponível sobre gravidez e endometriose, entre os anos de 1966 e
2017.
Segundo o ginecologista Dr. Edvaldo Cavalcante, médico assistente do
Ambulatório de Algia Pélvica da Universidade Estadual de São Paulo (UNIFESP),
a endometriose é cercada de mitos, sendo um deles a questão da gravidez como
recurso para melhora dos sintomas.
“O estudo mostrou que os resultados a respeito dos efeitos da gravidez na
endometriose são controversos. Também apontou que há evidências crescentes de
que a endometriose pode interferir no sucesso da gravidez. Assim, é preciso
orientar corretamente as pacientes sobre o assunto”, comenta Dr. Edvaldo.
“Isso porque em 55% dos casos, a endometriose pode levar à infertilidade. Além
disso, enquanto algumas lesões da endometriose apresentam regressão durante a
gravidez, outras podem permanecer estáveis ou ainda aumentarem. O único efeito
claro é que na gravidez, por conta da amenorreia (cessação da menstruação), não
surgem novos focos de endometriose”, ressalta o ginecologista.
O estudo apresentado durante o Congresso não foi conclusivo e novas pesquisas
serão feitas para entender os efeitos da gravidez nas mulheres com
endometriose.
Endometriose, aborto espontâneo e outras intercorrências na gravidez
Quando se fala de gravidez e endometriose, há outros aspectos que precisam ser
bem avaliados. Segundo um estudo, quando a mulher tem endometriose profunda, ou
seja, a forma mais agressiva da doença, há taxas mais elevadas de placenta
prévia, aborto espontâneo, restrição do crescimento intrauterino, parto
prematuro e distúrbios hipertensivos.
O que realmente melhora os sintomas da endometriose?
“Nem todas as mulheres apresentam manifestações clínicas da endometriose. Outro
ponto é que há pacientes com endometriose profunda sem sintomas e há outras com
pequenos focos e manifestações importantes”, comenta Dr. Edvaldo.
A dor pélvica crônica é a principal queixa e afeta cerca de 70% das mulheres
diagnosticadas com a endometriose. O tratamento pode ser feito com
medicamentos.
"Quando não há resposta ou ainda quando há contraindicação para o uso da
terapia hormonal, a cirurgia é recomendada para remover os focos da
endometriose. O procedimento também ajuda as mulheres que pretendem engravidar,
já que esse grupo não pode usar os hormônios para alívio dos sintomas”, explica
o cirurgião ginecológico.
Por fim, Dr. Edvaldo lembra que a gravidez de uma mulher com endometriose deve
ser acompanhada de perto, com cuidados mais intensos durante o pré-natal, em
vista das evidências que sugerem os riscos aumentados de intercorrências.
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