A cardiopatia congênita continua a ser uma
das principais causas de morte na primeira infância. E isso pode é deve ser
mudado!
No Brasil, perto de 29 mil crianças nascem com cardiopatia
congênita por ano, o que representa 1% de todos os recém-nascidos.
Segundo o Ministério da Saúde, 80% dessas crianças (ou 24 mil) precisam ser
operadas, metade delas no 1º ano de vida, mas somente 9.000 conseguem chegar à
cirurgia de correção. Isso porque, entre outros fatores, somente 50% dos
recém-nascidos cardiopatas têm o diagnóstico da malformação no pré ou
no pós natal imediato.
Este é um grande problema, alerta a Dra. Vanessa
Guimarães, cardiopediatra formada pela Faculdade de Medicina da USP.
"Quanto mais cedo a malformação cardíaca for diagnosticada, melhores as
chances de sua cura, seja com tratamento medicamentoso, cateterismo ou
cirurgia, ou de convivência com o problema mantendo uma boa qualidade de vida”,
explica a especialista.
O diagnóstico tardio é também a causa da grande
incidência de morte entre os cardiopatas congênitos: cerca de 20% dessas
criancas podem nao chegar a completar 1 ano de vida, o que faz da cardiopatia
congênita a principal causa de morte na primeira infância no País.
Como mudar a situação
Segundo a especialista da FMUSP, para detectar a
cardiopatia quando o bebê ainda está em formação intrauterina, o ultrassom
morfológico, feito em cada trimestre, é fundamental. "Por isso a
importância da mãe realizar o pré-natal completo”, aconselha a
cardiopediatra.
O ecocardiograma fetal pode ser feito, a partir da 18ª
semana de gestação. O exame que mostra com detalhes a anatomia e o
funcionamento cardíacos, pode ser realizado por qualquer gestante, mas está
especialmente indicado em algumas situações específicas, como para a detecção
de cardiopatia congênita quando há suspeita na ultrassonografia obstétrica,
quando estão presentes fatores de risco materno-familiares para cardiopatias,
gestação prévia com cardiopatia congênita e avaliação de repercussões de
arritmias cardíacas fetais”, comenta Vanessa Guimarães.
Caso o ecocardiograma fetal não tenha sido feito na
gravidez, ainda há uma boa chance de diagnóstico ainda na maternidade, nas
primeiras 48 horas de vida, por meio da realização do teste do coraçãozinho,
diz a Dra. Vanessa. "Esse exame não-invasivo que mede o nível de
oxigênio no sangue é capaz de detectar 80% das malformações cardíacas que
precisam de cirurgia logo após o nascimento". O exame é coberto pelo SUS e
está previsto em lei desde 2014, devendo ser feito em todas as
maternidades.
Atenção para os sinais na criança
Os pais devem ficar atentos aos sinais de que algo pode
estar errado com o coração da criança. A presença de cianose, que é aquela
coloração roxa nos lábios e nas extremidades dos dedos das mãos, e do
sopro cardíaco (barulho que o sangue faz ao passar pelas câmaras cardíacas
audível na ausculta com estetoscópio) são os mais evidentes. Mas não só eles,
diz a cardiopediatra. Deve-se observar também se a criança fica cansada durante
as mamadas, às vezes até com suor excessivo (sudorese), se apresenta
crescimento lento ou dificuldade de ganho de peso. Igualmente merecem atenção a
ocorrência de pneumonias e infecções de vias aéreas de repetição com congestão
pulmonar e a presença de chiado no peito.
Frente a esses sinais, diz a médica, os pais não devem
hesitar em procurar o médico imediatamente, para que uma investigação
cardiológica cuidadosa seja feita na criança. "Em se tratando de
coração, tempo é vida".
O que é a cardiopatia congênita
As cardiopatias congênitas surgem na
formação do coração fetal, até por volta da 8ª semana de gestação, em
decorrência de problemas genéticos ou pela ação de agentes teratogênicos como
medicamentos, radiação, drogas ilícitas, principalmente entre a 2ª e
8ª semanas de gestação. Elas são caracterizadas por alterações na forma do
coração (anatômicas) ou em sua função de receber o sangue para ser oxigenado
nos pulmões e de distribuí-lo para todo o organismo.
São mais suscetíveis a nasceram com o problema bebês com
retardo de crescimento intrauterino ou distúrbios do ritmo cardíaco, além de
filhos de mães com lúpus, diabetes melitus ou que tiveram rubéola ou outras
infecções demandantes do uso de medicamentos teratogênicas. O histórico
familiar de malformação cardíaca congênita , pelo lado materno ou paterno,
também é um fator de risco a ser considerado.
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