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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Ministério da Saúde divulga novo boletim sobre suicídio


Aproveitando o Setembro Amarelo, especialista afirma que a chave da prevenção ao suicídio é a comunicação

O novo Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira, faz um alerta sobre a intoxicação exógena (substâncias químicas intoxicantes), meio utilizado por mais da metade das tentativas de suicídio notificadas no país, de acordo com o levantamento. Com relação aos óbitos, a intoxicação é a segunda causa, com 18%, ficando atrás das mortes por enforcamento, que atingem 60% do total. As mulheres, inclusive, representaram quase 70% do total de tentativas de suicídio por intoxicações desse tipo. Dos agentes tóxicos utilizados, os medicamentos representam 74% das tentativas entre as mulheres e 52% entre os homens.

Segundo o Ministério, nos últimos onze anos, dos 470.913 registros de intoxicação exógena, 46,7% foram devido à tentativa de suicídio. Em 2017, o número registrado foi cinco vezes maior do que 2007, saiu de 7.735 para 36.279 notificações.

O problema, que muitas vezes é um grande tabu, pode não ser previsível, mas ele pode ser "prevenível", principalmente entre os jovens, uma vez que o problema é, entre os homens de 15 e 29 anos de idade, a terceira maior causa de morte. No público feminino (de mesma faixa-etária), é a oitava. 

Aproveitando o Setembro Amarelo, o mês de prevenção ao suicídio, Jussara Cavalcanti, psicóloga da Clínica Maia, explica que é preciso mais espaço para falar sobre os sentimentos, poder "botar pra fora" a tristeza, raiva, angústia, decepção, frustração, e não só demonstrar a costumeira e ilusória felicidade das redes sociais. "Nós não temos mais espaço para sofrer. E isso é algo que não afeta só adultos, mas também, em especial, os jovens. Os pais (ou responsáveis) precisam acolher mais o sofrimento de seus filhos e enxergar que tipo de sofrimento ele está tentando 'comunicar'. É imprescindível não só ouvi-los, como também realmente escutá-los: acolhê-los, percebê-los", ressalta.

Segundo Jussara, que é especialista em atendimento e acolhimento infantil, adolescente e familiar, na adolescência, por exemplo, nem tudo deve ser tido como normal, comum, "coisa da fase". O isolamento do convívio social e familiar de qualquer tipo deve acender um alerta. "Nem sempre é timidez demais, nem sempre passa. Seu filho se isolou? Converse com ele, tente entender o que está acontecendo e qual a raiz do problema. Esse pode ser um sinal de socorro. É preciso ficar atento às atitudes estranhas, comportamentos incomuns, que surjam de repente, como sono excessivo ou falta dele, ausência de entusiasmo, sinais físicos de automutilação (uma prática perigosa e um sinal claro de uma saúde mental fragilizada). É essencial sempre dialogar para verificar o que está dando origem a esse tipo de comportamento". 

De acordo com a profissional, palavras e frases como fracasso, "você não será nada na vida", "você não serve para nada", assim como comparações com outros irmãos e/ou amigos, só causarão mais a dor. É importante não julgar, mas sim cuidar.

A especialista aponta também que a irritabilidade, tanto em crianças, quanto em adolescentes, é comum sim, mas se ela for intensa, extrema, corriqueira, agressiva, há um problema aí - assim como manifestações de tristeza e infelicidade. "É sempre importante não agir como se fosse tudo normal, porque há grandes chances de não o ser.A juventude pode ser assustadora, com pressões de todos os lados: expectativas sobre o adolescente, necessidade de aceitação, abordagem da orientação sexual e o horror ao fracasso e à exclusão/segregação. É essencial bater um papo com os jovens sobre isso, falar das próprias experiências como adultos e pais e deixar claro que ele pode contar com você e desabafar. Isso é algo extremamente importante".

Além disso, a psicóloga também faz um alerta: o ambiente de casa e da escola precisa ser saudável e inclusivo. "O jovem já tem de lidar com uma série de transformações na transição da fase infantil para a da adolescência e, posteriormente, para a fase adulta e, muitas vezes, ter de encarar também fatores externos a isso pode afetar a sua saúde emocional consideravelmente. Esse é um fator muito importante e pode ser aconselhável a ajuda de um profissional, não devendo nunca esse auxílio ser motivo de preconceito." 

Algumas formas de se expressar, de acordo com a profissional, também são "sintomas" importantes:" 'Estou cansado demais de tudo'; 'Não aguento mais isso'; 'Eu não vou suportar se eu não conseguir'; 'Eu gostaria de sumir'. Não é drama. É importante saber o porquê delas e orientar, aconselhar. É imprescindível que esse tipo de manifestação emocional não seja negligenciada, tantos em jovens como em adultos. A depressão, por exemplo, é uma doença séria e como tal deve ser tratada. Ela chega de forma silenciosa e aos poucos vai tomando espaço, de forma que as pessoas tentam buscar no suicídio o alívio para esta dor e para o vazio interno que costumam sentir", esclarece a especialista.

Para Jussara, a chave da prevenção ao suicídio é a comunicação. É fundamental sempre conversar com a criança, com o adolescente, com o adulto em sofrimento, independente de qualquer coisa. "É necessário se mostrar aberto, dizer 'eu também sofro', mostrar que é algo humano, que é possível fracassar, que na vida há sofrimentos, com altos e baixos, e que viver é a melhor opção, e a única saída é a ajuda. É preciso lembrar sempre que a confiança e o amor são fundamentais na prevenção de qualquer situação emocional. E, sobretudo, não ter receio de buscar auxílio de um profissional ou serviço de saúde. Se necessário (e é algo bem possível), procure auxílio para si mesmo também, como familiar, amigo, pai e mãe. Existem, inclusive, redes de apoio bastante acolhedoras e serviços de saúde", finaliza.


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