Aproveitando o Setembro Amarelo, especialista
afirma que a chave da prevenção ao suicídio é a comunicação
O novo Boletim Epidemiológico de Tentativas e
Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde nesta
quinta-feira, faz um alerta sobre a intoxicação exógena (substâncias químicas
intoxicantes), meio utilizado por mais da metade das tentativas de suicídio
notificadas no país, de acordo com o levantamento. Com relação aos óbitos, a
intoxicação é a segunda causa, com 18%, ficando atrás das mortes por
enforcamento, que atingem 60% do total. As mulheres, inclusive, representaram
quase 70% do total de tentativas de suicídio por intoxicações desse tipo. Dos
agentes tóxicos utilizados, os medicamentos representam 74% das tentativas
entre as mulheres e 52% entre os homens.
Segundo o Ministério, nos últimos onze anos, dos 470.913 registros de intoxicação exógena, 46,7% foram devido à tentativa de suicídio. Em 2017, o número registrado foi cinco vezes maior do que 2007, saiu de 7.735 para 36.279 notificações.
Segundo o Ministério, nos últimos onze anos, dos 470.913 registros de intoxicação exógena, 46,7% foram devido à tentativa de suicídio. Em 2017, o número registrado foi cinco vezes maior do que 2007, saiu de 7.735 para 36.279 notificações.
O problema, que muitas vezes é um grande tabu, pode
não ser previsível, mas ele pode ser "prevenível", principalmente
entre os jovens, uma vez que o problema é, entre os homens de 15 e 29 anos de
idade, a terceira maior causa de morte. No público feminino (de mesma
faixa-etária), é a oitava.
Aproveitando o Setembro Amarelo, o mês de prevenção
ao suicídio, Jussara Cavalcanti, psicóloga da Clínica Maia, explica que é
preciso mais espaço para falar sobre os sentimentos, poder "botar pra
fora" a tristeza, raiva, angústia, decepção, frustração, e não só
demonstrar a costumeira e ilusória felicidade das redes sociais. "Nós não
temos mais espaço para sofrer. E isso é algo que não afeta só adultos, mas
também, em especial, os jovens. Os pais (ou responsáveis) precisam acolher mais
o sofrimento de seus filhos e enxergar que tipo de sofrimento ele está tentando
'comunicar'. É imprescindível não só ouvi-los, como também realmente
escutá-los: acolhê-los, percebê-los", ressalta.
Segundo Jussara, que é especialista em atendimento
e acolhimento infantil, adolescente e familiar, na adolescência, por exemplo,
nem tudo deve ser tido como normal, comum, "coisa da fase". O
isolamento do convívio social e familiar de qualquer tipo deve acender um
alerta. "Nem sempre é timidez demais, nem sempre passa. Seu filho se
isolou? Converse com ele, tente entender o que está acontecendo e qual a raiz
do problema. Esse pode ser um sinal de socorro. É preciso ficar atento às
atitudes estranhas, comportamentos incomuns, que surjam de repente, como sono
excessivo ou falta dele, ausência de entusiasmo, sinais físicos de
automutilação (uma prática perigosa e um sinal claro de uma saúde mental
fragilizada). É essencial sempre dialogar para verificar o que está dando
origem a esse tipo de comportamento".
De acordo com a profissional, palavras e frases
como fracasso, "você não será nada na vida", "você não serve
para nada", assim como comparações com outros irmãos e/ou amigos, só
causarão mais a dor. É importante não julgar, mas sim cuidar.
A especialista aponta também que a irritabilidade,
tanto em crianças, quanto em adolescentes, é comum sim, mas se ela for intensa,
extrema, corriqueira, agressiva, há um problema aí - assim como manifestações
de tristeza e infelicidade. "É sempre importante não agir como se fosse
tudo normal, porque há grandes chances de não o ser.A juventude pode ser assustadora,
com pressões de todos os lados: expectativas sobre o adolescente, necessidade
de aceitação, abordagem da orientação sexual e o horror ao fracasso e à
exclusão/segregação. É essencial bater um papo com os jovens sobre isso, falar
das próprias experiências como adultos e pais e deixar claro que ele pode
contar com você e desabafar. Isso é algo extremamente importante".
Além disso, a psicóloga também faz um alerta: o
ambiente de casa e da escola precisa ser saudável e inclusivo. "O jovem já
tem de lidar com uma série de transformações na transição da fase infantil para
a da adolescência e, posteriormente, para a fase adulta e, muitas vezes, ter de
encarar também fatores externos a isso pode afetar a sua saúde emocional
consideravelmente. Esse é um fator muito importante e pode ser aconselhável a
ajuda de um profissional, não devendo nunca esse auxílio ser motivo de
preconceito."
Algumas formas de se expressar, de acordo com a
profissional, também são "sintomas" importantes:" 'Estou cansado
demais de tudo'; 'Não aguento mais isso'; 'Eu não vou suportar se eu não
conseguir'; 'Eu gostaria de sumir'. Não é drama. É importante saber o porquê
delas e orientar, aconselhar. É imprescindível que esse tipo de manifestação
emocional não seja negligenciada, tantos em jovens como em adultos. A
depressão, por exemplo, é uma doença séria e como tal deve ser tratada. Ela
chega de forma silenciosa e aos poucos vai tomando espaço, de forma que as
pessoas tentam buscar no suicídio o alívio para esta dor e para o vazio interno
que costumam sentir", esclarece a especialista.
Para
Jussara, a chave da prevenção ao suicídio é a comunicação. É fundamental sempre
conversar com a criança, com o adolescente, com o adulto em sofrimento,
independente de qualquer coisa. "É necessário se mostrar aberto, dizer 'eu
também sofro', mostrar que é algo humano, que é possível fracassar, que na vida
há sofrimentos, com altos e baixos, e que viver é a melhor opção, e a única
saída é a ajuda. É preciso lembrar sempre que a confiança e o amor são fundamentais
na prevenção de qualquer situação emocional. E, sobretudo, não ter receio de
buscar auxílio de um profissional ou serviço de saúde. Se necessário (e é algo
bem possível), procure auxílio para si mesmo também, como familiar, amigo, pai
e mãe. Existem, inclusive, redes de apoio bastante acolhedoras e serviços de
saúde", finaliza.
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